Aliança Democrática 2024

A convenção do passado fim de semana foi a expressão da capacidade agregadora da AD em termos de quadros e de propostas.

Há quem entenda que o passado não se ressuscita mas que se interpreta. Palavras sábias e, porventura, mais atuais do que nunca. Nas múltiplas dimensões da vida, somos muitas vezes levados a pensar no que fizemos de certo ou de errado. E a conclusão, lucidamente, é sempre a mesma: não podemos mudar o passado mas podemos e devemos retirar lições desse caminho trilhado. É nas experiências passadas que encontramos, muitas vezes, as coordenadas que nos irão permitir alavancar o presente.

Politicamente, será esse o caso da nova AD 2024. É nova porque distinta da Aliança Democrática de Sá Carneiro, Amaro da Costa, Freitas do Amaral e Ribeiro Telles. De igual modo, é diferente no contexto e nos objetivos das coligações protagonizadas por Durão Barroso, Santana Lopes, Passos Coelho e Paulo Portas. Estes atores políticos não recuperaram a mítica AD mas aliaram-se estrategicamente para conquistar o Poder.

Agora, em 2024, a nova AD surge como a única resposta política capaz de aguentar o embate de uma frente de esquerda que tem como pivot um partido socialista sem preconceitos ideológicos para se entender com o Bloco de Esquerda e com a CDU, o que quer que signifiquem entendimentos à esquerda, sejam eles de governo ou de incidência parlamentar.

A nova AD constitui-se, de igual modo, como a solução previsivelmente mais eficaz para agilizar o chamado voto útil, antecipando-se o crescimento da Iniciativa Liberal mas principalmente do Chega, fazendo fé nas sondagens e nas experiências populistas que têm vingado com fulgor em alguns países europeus.

À esquerda e à direita, um PSD que se apresentasse sozinho às eleições iria colocar Luís Montenegro sob uma elevada pressão. Não é que essa pressão tenha desaparecido com a constituição da AD. Essa pressão é válida para todos os partidos até à contagem do último voto e, principalmente, para os dois candidatos a primeiro-ministro: Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. No entanto, é Montenegro que a 10 de março se apresenta como uma espécie de challenger ou desafiador em relação ao partido socialista que tem em Pedro Nuno Santos um líder que irá resistir mesmo que o PS não vença as eleições. Com efeito, uma derrota do partido socialista será interpretada como um cartão vermelho aos 8 anos de governação socialista e a António Costa, não a um ministro em concreto, mesmo que o ónus que pesa sobre Nuno Santos nomeadamente em relação ao dossier da TAP seja pesado.

Já quanto a Luís Montenegro, com a formação da Aliança Democrática, PSD e CDS, juntos, têm os recursos humanos para dar um novo élan a um segmento da direita portuguesa que se afastou daqueles dois partidos nos últimos anos, deixando de os considerar como alternativa ao PS.

A convenção do passado fim de semana – bem preparada para a arena mediático/televisiva – foi a expressão da capacidade agregadora da AD em termos de quadros e de propostas. Pelo menos, foi isso que se viu nas televisões. Assim como se viu um pedido de perdão em direto. Entre as muitas promessas, que terão que ser acomodadas orçamentalmente para serem credíveis, Montenegro identificou o principal problema do PSD na sua relação com o eleitorado ao reconhecer que muitos reformados e pensionistas têm algum receio em votar na AD. Este é um dos pontos sensíveis da nova Aliança Democrática e a dúvida está em saber até que ponto os Portugueses mais afetados pelas medidas de austeridade do governo de Passos Coelho, com Luís Montenegro na liderança da bancada parlamentar, – pensionistas e função pública – irão reconciliar-se com os partidos que executaram o programa da troika, deixando um rasto de insensibilidade social. Talvez tenha sido esta a razão para a ausência de Passos Coelho na convenção do Estoril. Não que o seu capital político não seja relevante para aquele eleitorado, mas porque este é o tempo da AD 2024 e dos seus protagonistas