Aceitemos a falácia e repitamos a lengalenga do costume por mais enjoativa que ela se tenha tornado: a Taça da Liga não interessa nem ao Menino Jesus, quanto mais ao Pai Natal. Na visão deste que aqui escreve e se assina, é um facto e nasceu como um aborto mantendo-se um aborto até hoje sem que saibamos ao certo como é que as qualificações funcionam e como são alteradas de ano para ano com a imbecilidade total de, nesta época, os semifinalistas brotarem de grupos de apenas três equipas. Muito bem, vamos mergulhar no que é, em primeiro lugar, a Liga Portuguesa de Futebol, já em 1940 conspurcada graças a uma trafulhice que rodeou um jogo entre FCPorto e Académico do Porto, envolto em pancadaria tal que teve de ser interrompido e, sob a espada damocliana, ter de suportar a não qualificação dos portistas ao campeonato nacional – o acesso era obtido pelo mérito nas provas regionais – o que levou ao primeiro alargamento da principal prova nacional. Os anos passaram como se se atropelassem uns aos outros. Nasceu num dia, vá lá saber-se pelo esforço do bestunto de quem, uma prova chamada Taça da Liga, cuja primeira edição teve lugar em 2007-08. Uma grandessíssima estucha, como diria o Alencar, do Eça, que nunca motivou verdadeiramente nem os clubes nem os seus adeptos. Mais preocupado com a brilhantina do que com o futuro que a prova possa vir a ter, um tal de Pedro Proença Oliveira Alves Garcia, que já como árbitro era de uma mediocridade assustadora mas lá se foi safando pelos corredores mal frequentados da UEFA, viu com mal disfarçada frustração uma final entre Benfica e Sporting ser substituída pelo jogo decisivo entre Braga e Estoril. Dá para imaginar o glorioso sábado que nascerá amanhã em Leiria…
Palhaços pobres!
Claro que Proença mão tem culpa que Sporting e Benfica, ainda por cima as duas equipas que lideram o pobrete e pouco alegrete campeonato nacional, não tenham conseguido ultrapassar dois adversários que deveriam ser absolutamente acessíveis. A sua culpa e tão grande culpa é a de manter viva esta competição bacoca e mazomba que só serve para demonstrar cada vez mais a indigência do futebol português. Que o mamífero em causa acabe com esta porcaria e depressa! Mesmo antes de avançar com a sua coroa de cabelos carregada de brylcreem na campanha eleitoral pela presidência da Federação Portuguesa de Futebol.
Palhaços ricos à entrada para as meias-finais desta edição da Taça da Liga, leões e águias acabaram eliminados vestidos de palhaços pobres, nariz vermelho, sobrancelhas brancas, calças com suspensórios e sapatos número 57 e tudo e tudo. É impressionante, e entra pelos olhos dentro de qualquer amblíope, que os clubes mais fortes no âmbito nacional caem cada época para um patamar inferior – o Sporting tem disfarçado muitas das suas debilidades com a força física e a forma mental como Gyökeres surgiu a surpreender tudo e todos. Frente ao Braga, as bolas nos postes condenaram os verde e brancos a uma eliminação muito típica do velho e relho anexim do ‘quem não marca arrisca-se a sofrer’. Mas também não deixa de ser muito chocantemente evidente que, depois de se ver em desvantagem, o grupo de Ruben Amorim se tenha desmoronado psicologicamente. No Benfica-Estoril vimos mais do mesmo: gente que joga à velocidade do Vale do Vouga da minha infância – Kökçü, Dí Maria, João Mário – defesas laterais que não sabem o que estão a fazer, avançados-centro que não fazem ideia das medidas que tem uma baliza. A derrota frente ao Estoril só surpreendeu por ter surgido no desempate por grandes penalidades. Qualquer observador mais ou menos lúcido percebe que este plantel do Benfica é provavelmente o pior da última década, pouco agressivo, carregado de pseudovedetas que se contentam com os seus ridículos números de circo dedicados aos próprios umbigos, e de entre as quais Dí Maria é o exemplo mais significativo. Se me coubesse entrar em caminhos de adivinhação, diria que Ruben Amorim e Roger Schmidt terão as portas de saída escancaradas no final da época. Por razões diferentes, já vão tarde. Rúben porque esgotou tudo o que poderia fazer pelo Sporting, tendo ganho muito mais do que seria suposto. Schmidt porque, depois de seis meses efusivos, durante os quais conseguiu pôr o Benfica a jogar um futebol bonito e empolgante – seis meses nos quais, atenção!, ganhou avanço suficiente para ser campeão a despeito do buraco no qual caiu em seguida – pura e simplesmente não ganha nem ao gato, se a expressão me é permitida. Qualquer equipa do meio da tabela para baixo come as papas da cabeça de um alemão sem metafísica que em vez de evoluir como técnico e como estratega regride. Este Benfica segunda versão/Schmidt já está em queda vertiginosa desde Abril passado. A festa do título acabou por ser meio acabrunhada tão fracas foram as exibições finais. Claro que o pobre teutónico não é o único culpado, por mais incipiente treinador que seja: olhe-se para a miséria daquele onze titular e, convenhamos – quem tem estrutura mental e categoria para jogar num clube verdadeiramente grande? Se fosse por aí adiante, a pormenorizar as lacunas de um a um, não saíamos daqui antes da Páscoa. É melhor gozar o fim de semana descansado. Sempre houve um Braga-Estoril para assistir.