Maria da Graça Carmona e Costa. A nossa última grande mecenas

1933-2023  – A colecionadora e mecenas morreu na segunda-feira passada, aos 91 anos.

Em tempos a verdadeira aristocracia exprimia-se através de um gosto, uma educação para um sentido ideal, e a arte podia considerar-se humanista, mesmo ou até sobretudo quando a sociedade continuava a ser inumana. Para que a consciência não fosse um modo de se alhear, preservavam-se certos testemunhos que poderiam transmitir ao futuro uma inquietação em germe. Maria da Graça Carmona e Costa, que morreu na passada segunda-feira, aos 91 anos, soube resgatar uma idade de ouro invisível para a maioria de nós, projetando-a para diante, e além do poderoso legado que deixa, é preciso ter em conta o seu papel enquanto mecenas, apoiando artistas, organizando exposições, subsidiando catálogos e livros sobre trabalhos de artistas, colecionando e levando muitos a colecionar arte. Como assinala a nota de pesar no site da Presidência da República, tendo estado «ligada, desde os anos 70, ao mundo das artes, admiradora e amiga de artistas de diversas gerações, filantropa, devemos-lhe, e à Fundação Carmona e Costa, exposições, edições, bolsas e outros inestimáveis exemplos de gosto e empenho, motivos pelos quais o Presidente da República lhe entregou em 2019 as insígnias de Comendadora da Ordem do Mérito».

Nascida em Lisboa em 1933, Maria da Graça Carmona e Costa frequentou, na década de 1970, o primeiro curso de formação de Iniciação à Arte Moderna promovido pela Sociedade Nacional de Belas Artes. Sendo de uma família endinheirada, depois de casar não ficou na lãzeira, fazendo questão de contribuir para o orçamento doméstico, fazendo comida para fora, e segundo revelou numa entrevista ao Público, foi com o dinheiro que economizou que foi começando a comprar arte na transição da década de 50 para a de 60 do século passado.

Tendo iniciado o seu percurso na Galeria Quadrum (anos 70), a fundadora da Giefarte (anos 80) e da Fundação Carmona e Costa  com o marido, Vítor Carmona e Costa, em 1997, viu o seu empenho ao longo de décadas ser reconhecido  em 2018, quando lhe foi atribuída a Medalha de Mérito Cultural pelo «inestimável trabalho de uma vida dedicada ao fomento das artes visuais, da promoção e divulgação contínua dos artistas contemporâneos», sublinhou, na altura, a tutela da cultura.