Revista de Imprensa

fico com a ideia que hoje em dia é tudo muito efémero. Antigamente apareciam nas revistas personalidades que eram amplamente conhecidas, hoje já não é bem assim.

Querida avó,

Diariamente paro junto de quiosques a observar as capas dos jornais e revistas. 

Confesso-te que não faço ideia quem são as pessoas que, semana após semana, aparecem nas capas das revistas. Provavelmente participantes dos reality shows que dão atualmente na televisão.

Não sei se as pessoas que aparecem nas capas das revistas, ou no interior das mesmas, têm mérito para tal ou não. Provavelmente sim. No entanto, fico com a ideia que hoje em dia é tudo muito efémero. Antigamente apareciam nas revistas personalidades que eram amplamente conhecidas, hoje já não é bem assim.

Nisto dou comigo a pensar na quantidade de revistas e jornais que foram desaparecendo ao longo dos tempos. Julgo que a revista mais antiga de que me recordo é a Flama. Encerrou em 1976, é natural que não tenha grandes recordações. Recordo-me de existirem jornais vespertinos que, entretanto, desapareceram. Hoje são alguns jornais diários que lutam pela sua sobrevivência.

A Crónica Feminina era a revista que a minha mãe lia nos anos 70. Recordo-me da revista ter uma rubrica sobre o ‘Bebé do Mês’ onde, através de votação, se elegia o bebé mais lindo (segundo a opinião de quem participava, claro).

Tal como a sociedade as revistas foram evoluindo. A missão dos jornais é manterem a população informada. Já as revistas deram um grande contributo para a emancipação das mulheres.

Numa altura em que existiam poucas lojas de pronto a vestir, e grande parte das mulheres tinha jeito para a costura, a revista Burda, com as tendências de moda e moldes para ajudar a fazer roupas, foi uma lufada de ar fresco para muitas mulheres.

A revista Maria nasceu há 45 anos (no mesmo ano em que publicaste o livro Rosa, Minha Irmã Rosa), e ainda hoje está no mercado. O ‘consultório sentimental’ foi um dos grandes sucessos da revista.

Bjs

Querido neto,

Já que falas de jornais e revistas, gostaria de recordar Carlos Pinhão.       
Morreu há trinta anos e todos os dias me lembro dele, por variadas razões — mas todas me fazem rir. Acho que nunca o vi mal disposto.

Para quem não o conheceu, Carlos Pinhão foi um grande jornalista desportivo (escreveu para A Bola e para o Record, mas também para outros jornais e revistas sobre outros assuntos — Vértice, Diário de Lisboa, Diário Popular, Público, Jornal do Fundão.

Foi também um grande escritor para crianças, um grande cronista e um grande poeta.

Mas foi sobretudo um grande amigo, que me ensinou muito como trabalhar em jornais desportivos e escrever sobre os jogos que ia ver ao campo, quase sempre com ele — como se estivesse apenas a conversar e a rir sobre o que víamos. Ainda hoje digo muitas frases dele, como por exemplo «vou entregar a obra ao freguês»—quando ia entregar os textos aos jornais . (Em criança tinha vivido com um familiar que era alfaiate…).

Lembro-me de um dia estar com ele a assistir a um jogo de futebol e à nossa frente estava um homem que se levantava e se sentava e tornava-se a levantar e berrava contra o árbitro, e gritava, e o Carlos, simpático como sempre, tocou-lhe no ombro e disse: «Ó amigo, desculpe, mas nós estamos a trabalhar!». E ele: «E eu? Acha que me estou a divertir?!» O que a gente se riu…

Agora essas coisas não aconteciam, porque agora os jornalistas têm um excelente camarote ao cimo do estádio, com comidas e bebidas e tudo.

Um dia ligou-me para me contar não sei o quê, e depois disse-me que tinha ido ao médico. Mas que não era nada, consulta de rotina, o médico tinha falado em plaquetas e aquela palavra de certeza que não queria dizer nada de mal.

Rimos, combinámos a nossa próxima ida ao futebol.

Uma semana depois morria.

Que jamais acabem os jornais e revistas!

Bjs