Dragões. O poder de Madureira

Na ‘Operação Pretoriano’, os GOE foram de Lisboa ao Norte para a eventualidade de existir material explosivo na casa de algum dos detidos. Encontraram droga, dinheiro e uma arma.

A fama da claque dos Super Dragões já vem de longe e as suspeitas de atividades ilícitas também. Talvez por isso, quando se arrancou para a ‘Operação Pretoriano’  as autoridades desconfiavam que alguns elementos da claque poderiam ter armamento ‘pesado’ em casa e foi por essa razão que vários elementos do Grupo de Operações Especiais (GOE) foram de Lisboa até ao Porto, Vila Nova de Gaia, Maia, Gondomar, Rio Tinto, Póvoa de Varzim e Leça do Balio, para a eventualidade de terem de lidar com «material explosivo, granadas ou algo do género», revela ao Nascer do SOL fonte ligada ao processo. «Como é óbvio, os GOE são uma unidade antiterrorista e só entra em ação quando se suspeita que existe armamento nas casas que é preciso revistar e deter os seus ocupantes», acrescenta a mesma fonte.

Diga-se que a ação dos GOE não ocorreu em casa de Fernando Madureira, o líder da claque, e não foi encontrado o material que se  temia que existisse. Encontraram sim, cocaína, haxixe, muito dinheiro em numerário,  além de uma arma. «A droga encontrada não está a ser muito valorizada, pois já se sabe que, com a nova lei, vão dizer que era tudo para consumo, nem que fosse para os próximos seis meses», explica a mesma fonte.

Com os GOE foram também elementos do Corpo de Intervenção de Lisboa, pois parte do dispositivo do Porto estava envolvido noutras ações. «Não se pense que foi por se temer alguma fuga de informação, pois a maioria dos homens era do Porto. Muitas vezes os do Porto também vêm reforçar o nosso dispositivo de Lisboa», confessa o oficial da PSP.

Sentimento de impunidade

A ‘Operação Pretoriano’, levada a cabo pelo Ministério Público e pela PSP, que culminou, para já, na detenção de 12 elementos, entre os quais Fernando e Sandra Madureira, foi motivada, oficialmente, pelos desacatos ocorridos na Assembleia Geral do FC_Porto, de 13 de novembro do ano passado,  onde os elementos afetos à claque Super Dragões insultaram e agrediram os apoiantes de André Villas-Boas. Os doze detidos estão acusados dos crimes de ofensas à integridade física qualificadas, ameaça agravada, coação grave, instigação pública à prática de crime e atentado à liberdade de informação.   De acordo com os autos, Adelino_Caldeira, Saúl de Sousa e Fernando e Sandra Madureira «definiram o que deveria ser colocado em prática para que lograssem a aprovação da alteração dos estatutos em benefício de todos os envolvidos e sem perdas de regalias, designadamente vendo garantido os seus ganhos tirados da bilhética para os jogos de futebol».

Para garantirem que os sócios ‘contrários’ a Pinto da Costa não se manifestavam na Assembleia Geral, elementos dos Super Dragões gritavam «ou bazam ou vão morrer. Tudo fora daqui filhos da puta. O Porto é nosso, quem não está com Pinto da Costa vai morrer».

 A PSP, ontem, fez um comunicado onde dava conta que a operação teve o objetivo de «devolver às instituições e aos cidadãos a sua liberdade de decisão e, promover ainda, que o sentimento de impunidade e insegurança seriam restaurados no âmbito desta realidade desportiva e não só».

Mas não foi só a Assembleia Geral do FC_Porto que determinou a ação conjunta do MP e da PSP. Tanto assim é que três carros de Fernando Madureira foram apreendidos. «Que se saiba, os carros não foram bater nem ameaçar os sócios que querem a substituição de Pinto da Costa. É óbvio que corre outro processo paralelo contra Fernando Madureira e que é da competência da Autoridade Tributária», explica outra fonte ligada ao processo. Acrescente-se que o auto que validou a realização das buscas, autorizava a apreensão de computadores, suportes informáticos e telemóveis, «de forma a deles serem extraídos elementos probatórios relacionados com a prática dos crimes em investigação».

O_Nascer do SOL sabe que as brigadas de investigação da PSP há muito que têm conhecimento das ameaças e agressões dos Super Dragões a associados que querem uma renovação na direção portista, que determinará, obviamente, o fim dos privilégios dos amigos de Fernando Madureira.

«Eles sempre usaram a intimidação. Antigamente era com os árbitros, agora é com os concorrentes de Pinto da Costa. Se alguém tem um estabelecimento comercial e se se sabe que é apoiante de Villas-Boas, vão lá e partem ou vandalizam a loja toda. Muitos já escondem que são votantes em Villas-Boas, pois eles dizem », diz outra fonte policial. 

«Há fulanos que vivem  pura e simplesmente do clube, alguns enriqueceram no clube, inclusivamente elementos da claque que nem sequer tinham emprego e, provavelmente, estavam dedicados a coisas menos lícitas… Então, têm medo de perder esses privilégios. O Villas-Boas diz que vai limpar o clube e, como ele diz isso, a malta que vive e sobrevive à conta do clube está a ver a sua vida a andar para trás».

Quem é Fernando Madureira?

Nasceu na Ribeira, no Porto, há 48 anos e é reconhecido como líder da claque Super Dragões há aproximadamente três décadas. O primeiro clube em que jogou o fiel seguidor de Pinto da Costa foi o Canelas, mas passou por outros como o Rebordosa e o Miragaia. Prestou contas à justiça várias vezes por crimes como episódios de intimidação. Já em adulto, decidiu ingressar no Ensino Superior e, depois de se ter licenciado, tornou-se mestre. No entanto, o projeto ‘Bancada Final’ esteve envolto em polémica pela alegada falta de qualidade. Tem uma vida luxuosa, com carros topo de gama e outros sinais de riqueza como uma guest house, um restaurante e lugares de estacionamento. É casado há 25 anos com Sandra Madureira, com quem passa férias luxuosas.

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