Diz a sabedoria popular que quem casa quer casa. Dizem os tempos atuais que alguns não se casam a pensar no investimento para a casa. Para muitos nem casa nem casamento. E assim, sem grandes hipóteses de sonhar com casa ou com a cabana, vai restando o amor como a fórmula do verdadeiro sentido da vida. Não se sabe o que São Valentim pensaria hoje sobre o facto de a data da sua morte servir para uma corrida às compras em forma de coração, dos chocolates às canecas ou porta-chaves. Mas talvez imaginasse que há alguma lógica, por nalguns casos a paixão entre os namorados poder desaparecer, tal como acontece com facilidade com uma caixa de bombons, quebrar-se ou em algum momento perder-se, nos outros casos. A luta pelo que acreditava ser um pilar fundamental na sociedade levou o bispo Valentim à morte, depois de o imperador Cláudio II ter descoberto que o padroeiro romano continuava a celebrar casamentos mesmo contra a sua vontade, já que – reza a lenda – Cláudio II não tinha dúvidas de que os homens solteiros seriam mais competentes no trabalho quando chamados para integrar o exército do imperador. A história tornou-se um fenómeno a nível mundial, com o dia 14 de fevereiro – apesar da data variar nalguns países – a ser um dia sobre o Amor (e consumo). Já as serenatas e os postais parecem também pertencer à Idade Média, precisamente do tempo de Valentim. Seja através de aplicações tipo catálogo baseadas numa fotografia escolhida a dedo, nas apps que cruzam perfis de utilizadores para aumentar a taxa de sucesso do match ou a ideia de encontrar o amor em cápsulas – reality shows que promovem encontros às cegas, relevando para segundo plano a questão da aparência –, a busca pelo par perfeito conheceu novos horizontes e os futuros romances prometem chegar às salas de cinema com muitas adaptações em relação aos clássicos da sétima arte. E se o amor também é uma forma de arte da vida, para estas aplicações só não vale perder a esperança – se não for à primeira, pode acontecer à sétima oportunidade. Se S. Valentim ficaria horrorizado com tudo isto não é certo. A única certeza é que se hoje fosse um emoji seria um coração.
Emoji: coração
S. Valentim e as apps para o match perfeito.