Melanie, Morreu a ‘primeira-dama de Woodstock’

1947-2024  Debaixo de um dilúvio e apenas com a guitarra acústica, Melanie conquistou o maior palco do mundo.

No primeiro Woodstock, a participação de artistas femininas que subiram ao palco e atuaram em nome próprio resumiu-se a três nomes: Janis Joplin, Joan Baez e Melanie Anne Safka. As duas primeiras eram já então nomes de peso e são hoje verdadeiras lendas, mas Melanie, a cantora e compositora de voz rouca era uma das estrelas surpresa daquele festival de música em 1969, e que logo viria a adquirir um estatuto mítico. Teria de esperar dois anos para ver um single seu alcançar a primeira posição nas tabelas, e isto veio a ocorrer com a desarmante e infantil canção Brand New Key. Mas no dia em que subiu àquele palco, caía uma bátega de chuva que a fez perder toda a confiança, supondo que as centenas de milhares que haviam comparecido decidissem que estava na hora de levantar o arraial e rumar a casa. Mas Melanie, que morreu na segunda-feira, aos 76 anos, e que até àquele dia só tinha tocado em pequenos auditórios, enfrentou o dilúvio apenas com o remo da sua guitarra acústica e aquele vozeirão dela. Fez-se batizar ao ter tido a coragem de substituir a Incredible String Band, que se recusou a tocar naquelas condições, receando que um trovão provocasse alguma tragédia. Antes de ser chamada ao palco, nada foi dito sobre ela, e o tipo responsável pela introdução apenas pediu à audiência que acendesse velas para espantar a chuva. No fim, quando ela acabou de tocar, parecia ter invocado um sereníssimo exército de pirilampos. Viria a receber a alcunha ‘Primeira-dama de Woodstock’, e, um ano mais tarde, imortalizou esse momento em Lay down (Candles in the Rain). Quando subiu àquele palco na quinta de Max Yasgur, Melanie tinha apenas 22 anos, e embora não fosse conhecida da maioria das cerca de 400 mil pessoas que ali a acolheram, era já uma presença na cena folk de Nova Iorque. Como ela, só Joan Baez teve a temeridade de tocar diante daquele mar de gente sem acompanhamento, e se Melanie primeiro ficou petrificada, uma vez que como cantora estava habituada aos confins aconchegantes dos cafés de Greenwich Village, confiou naquilo que parece ter bebido com o leite materno, uma vez que chegou à música seguindo as pisadas da mãe, Polly Altomare, cantora jazz com sangue italiano.