BARCELONA– Mais de 47 mil pessoas assobiaram ruidosamente a equipa do Barcelona no Estádio Olímpico de Montjuïc no passado sábado depois da derrota bruta frente ao Villarreal por 3-5, num jogo meio tresloucado que teve os valencianos a ganhar por dois a zero, uma remontada entusiasmante dos catalães até ao três a dois e, finalmente, um ‘bumba-meu-boi’, como diriam os brasileiros, de jogo para cá e para lá, aproveitado pelo moços do Submarino Amarelo para ganharem por 5-3 com o Gonçalo Guedes a marcar um golo bem ao seu estilo. Digo isto com toda a propriedade porque estive lá, na bancada presidencial, a convite do meu querido amigo Anderson Luís de Souza, que toda a gente trata por Deco, e ocupa agora o lugar de diretor desportivo do Barça que continua a teimar ser “més que un club”.
Xavi chegou ao Barcelona na época passada, vindo da sua reforma no Qatar, onde foi treinado por Jesualdo Ferreira, como uma espécie de Mágico Merlin com a convicção de que a sua varinha infalível faria pôr os novos produtos da escola catalã, La Masia, a jogarem como nos tempos em que, por exemplo, Deco, Ronaldinho Gaúcho, Iniesta e o próprio Xavi cabiam no mesmo conjunto. Gavi, Pedri, Sergi Romero, Vítor Roque ou Ferrán Torres são meninos de inequívoca qualidade mas não podem carregar com um emblema tão pesado às costas. Precisam de tempo e, se conheço Deco como julgo conhecer, ele está disposto a dar-lhes tempo. Assumirá, estou convicto, de que esta época não é para ganhar e apenas para crescer, e talvez aprender mais qualquer coisa na Liga dos Campeões na qual conseguiu manter-se e terá o Nápoles pela frente nos quartos-de-final.
E agora?
No final do jogo frente ao Villarreal, Xavi tomou a inevitável atitude de dizer que irá embora no final da época. Algo que para Deco não deve criar muitas comichões pois sempre se mostrou muito crítico em relação à equipa técnica que Xavi trouxe para o Barça e que inclui, não por acaso, Óscar Hernández, irmão do treinador como adjunto. O problema é, por agora, bastante cartesiano, e Xavi não deixou de tocar na ferida aquando da última dura conferência de imprensa. É preciso mudar! Mas mudar de cima abaixo.
Mudar de paradoxo, de filosofia, de política de contratações! Olha-se para Lewandowski, por exemplo, e perguntamos nós todos o que passou pela cabeça de quem o contratou, tão desfasado que está do estilo de jogo que se movimenta nas suas costas. Depois do jogo contra o Villarreal, os portugueses caíram no fervilhante caldeirão das discussões. Cancelo, que ofereceu um golo ao adversário, assumiu ter feito o pior jogo da sua vida;João Félix borboleteou em campo sem objetivos nem consequências… E, no infinito rol de possíveis treinadores que surgem agora como substitutos de Xavi, outros portugueses apareceram. Sérgio Conceição, aposta do Mundo Deportivo, e Rúben Amorim, mais recolhido num restrito número de decisores. Ambos têm, no entanto, pormenores considerados negativos.
Sérgio por ser um estoira-vergas, algo que nunca agradou aos diretores do Barcelona, que preferem ter técnicos mais low-profile. Amorim surge como alguém interessante sobretudo por, desde o início da sua carreira como treinador, ser um adepto da defesa a três, filosofia insofismável imposta no Barça desde que se entregou nas mãos de técnicos e jogadores holandeses, e não nos resumamos ao pós-Cruyff porque, antes dele, Rinus Michels já se tinha sentado no banco de Camp Nou.
É fácil dizer que, agora, desde que Jürgen Klopp decidiu que no final da época deixará o futebol inglês (ele fala em ano sabático, mas não há nada de sabático que resista a um punhado de dólares e ao Barcelona), está encontrado o nome ideal para ocupar um cargo que vai exigir uma mudança pelos vistos radical. O grande problema do Barça é que olha para as gavetas e não tem dinheiro. Não tem dinheiro para suprir as exigências de um responsável que exige um conjunto vencedor no qual encaixar os meninos de gigantesco talento que por lá pululam; não tem dinheiro para avançar com um projeto que exija uma remodelação praticamente total daquilo que tem vindo a ser a idiossincrasia de um universo que se revê há anos a fio numa espécie de Ballet Bolshoi do futebol no qual a arte e a eficiência têm andar de mãos dadas de forma tão perfeita como a mão esquerda encaixa na direita. Assim, à distância, não vejo que a solução passe por mais do que um português e que esse português se chame Deco. Conheço-o o suficiente para saber que que nunca vai por onde não quer!