Montenegro e Feijóo caíram na mesma armadilha

Preferiria mil vezes uma situação à italiana, em que Chega, Iniciativa Liberal e PSD tivessem feito um acordo similar ao italiano.

Bastaria ter olhado para a Espanha e para a Itália. Não estão longe. Espanha: Feijóo, nas sondagens com quase o triplo do Vox, fez a sua campanha contra o partido à sua Direita, na miragem do voto útil. Resultado? Conseguiu que todos os votos no PP fossem inúteis e inutilizou os votos no Vox. Inutilizou a Direita, entregando a Espanha ao moribundo PSOE.

Itália: Georgia Meloni tinha o dobro das intenções de voto dos votos somados dos dois outros partidos de Direita, a Lega e o Forza Italia. Poderia ter tentado aniquilar o seu rival na Direita e o seu concorrente no centro-direita e tentar ganhar sozinha aquelas eleições. Mulher inteligente, não pensou, sequer, em fazê-lo. Muito pelo contrário. Sentou os seus rivais à volta da mesa e transformou-os em aliados, propondo que cada um faria a sua campanha, não se atacariam entre si e que, contados os votos, cada um teria no governo o peso relativo que lhe fosse dado por esses mesmos votos. E assim foi feito e com o êxito que se conhece.

Resultados:
O homem do centro, dialogante, cordato, etc., etc., que supostamente era Feijóo, fez ressuscitar um PSOE que todos davam por acabado e entregou a Espanha nas mãos dos seus piores inimigos.

Já a mulher da ‘extrema-direita’, ‘neofascista’, ‘antidemocrata’ que é Meloni, com o seu bom senso e mesura, levou a Direita à vitória e enterrou as diversas e folclóricas esquerdas italianas por um bom par de anos.
Mas a Montenegro bastava ter olhado para o seu antecessor Rui Rio, o qual, fazendo a sua campanha contra o Chega, conseguiu oferecer a maioria absoluta a um PS que tinha acabado de sair queimado de um governo desastrado e desastroso.

Feijóo e Montenegro caíram na óbvia armadilha que o PSOE e o PS lhes montaram, seguramente com origem no mesmo consultor. Uma armadilha onde Montenegro cada dia mais se enterra: Dia sim, dia sim, PNS faz estalar o chicote do ‘acordo com o Chega’. E cada vez que ouve o estalar do chicote, Montenegro encolhe-se rente ao chão e diz que não, que não, que não. Portugal inteiro sente vergonha alheia pelo espetáculo. Apenas Pedro Nuno se diverte.

Não ter olhado para a Espanha, a Itália e para Rui Rio foi o primeiro dos erros desde então diariamente cometidos por Montenegro. Chega a ser doloroso seguir este seu percurso político, que não está a deixar pedra sobre pedra do PSD.

Não posso evitar deixar aqui mais algumas linhas sobre o segundo crasso erro político do líder do PSD, o qual foi o da invenção desta versão canhestra de uma AD em que um está proibido de falar, outro deverá estar quase a ser amordaçado e o terceiro, perante a geral debandada da plateia, está prestes a ficar a falar sozinho. E quanto mais sozinho, mais berra. E quanto mais berra, mais a plateia se esvazia. Sobre esta AD, tão moderadamente inútil, vai caindo, a cada dia que passa, o silêncio dos cemitérios.

Se estou satisfeito? Não, não estou. Preferiria mil vezes uma situação à italiana, em que Chega, Iniciativa Liberal e PSD tivessem feito um acordo similar ao italiano. Foi o caminho apontado pelo Chega. Contra o seu próprio interesse partidário. Mas tendo em conta o interesse dos portugueses, o qual tem de estar e sempre deveria estar acima de qualquer interesse partidário.