O Movimento Agricultores do Norte iniciou esta terça-feira uma marcha lenta em Valença, com cerca de 100 viaturas a bloquear os acessos à cidade no sentido Sul/Norte, em direção a Espanha. No país vizinho milhares de agricultores bloqueiam estradas e autoestradas e o acesso a centros logísticos e portos.
A iniciativa que pretende “sensibilizar a sociedade e o poder político para o atual panorama dramático do setor agrícola no Norte de Portugal” envolve cerca de 100 viaturas, entre 60 veículos ligeiros e 30 tratores.
A ação desta terça-feira ocorre em simultâneo com outras ações de protesto desenvolvidas do lado espanhol da fronteira.
Os manifestantes apresentam-se como um “movimento cívico com a representação de agricultores, empresários agrícolas e cidadãos, com o objetivo de sensibilizar a sociedade e o poder político para o atual panorama dramático do setor agrícola no Norte de Portugal”.
No caderno reivindicativo, citado pela agência Lusa, o movimento pede o “reajustamento da cadeia de valor com maior valorização da produção primária e rotulagem clara para o consumidor sobre preço pago ao produtor e margens da distribuição”, a par da “valorização de produtos endógenos e de cadeias curtas de abastecimento”.
Os agricultores do Norte reivindicam, ainda, “estratégias claras de melhoria da atratividade da atividade agrícola e de renovação do capital humano”, nomeadamente o “aumento do valor do prémio à primeira instalação para jovens agricultores”.
Entre outras medidas, reclamam também o “bloqueio às importações de produtos alimentares extracomunitários que tenham sido produzidos em tipos de produção que não estejam sujeitos às mesmas normas de fitossanidade, proteção ambiental e de bem-estar animal da União Europeia”.
O Governo avançou com um pacote de ajuda de mais de 400 milhões de euros destinados a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), garantindo que a maior parte das medidas entra em vigor este mês, com exceção das que estão dependentes de ‘luz verde’ de Bruxelas.
Também esta terça-feira, em Espanha, milhares de agricultores em protesto bloqueiam com com tratores estradas e autoestradas e o acesso a centros logísticos e portos.
As concentrações e marchas lentas com tratores começaram de madrugada e há notícias de manifestações e bloqueios nas regiões de Madrid, Andaluzia, Castela e Leão, Castela La Mancha, Valência, Catalunha, La Rioja e Aragão.
Na última semana já houve manifestações de agricultores espanhóis, em linha com os protestos do setor noutros países europeus e que têm como alvo principal e comum as políticas da União Europeia (UE). No entanto, o número e extensão das manifestações nunca tinham tido a dimensão como a de hoje.
Os protestos desta terça-feira não foram, na sua maioria, comunicados às autoridades ou autorizados pelas entidades competentes. Para além disso fazem-se à margem da organização das grandes confederações agrícolas de Espanha, que também anunciaram manifestações para as próximas semanas.
Na sexta-feira passada, as organizações agrícolas de Espanha anunciaram que iriam avançar com protestos, depois de se terem reunido com o ministro da Agricultura, Luís Planas.
As três maiores organizações agrícolas do país (Asaja, UPA – União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros e Coordenadora de COAG – Organizações de Agricultores e Ganadeiros) justificaram que “o setor agrícola na Europa e em Espanha enfrenta uma frustração e um mal-estar crescentes devido às condições difíceis e à burocracia sufocante gerada pela regulamentação europeia”.
Em relação à UE, destacaram a “concorrência desleal” e um mercado desregulado que importa de países terceiros “a preços baixos” e com regulamentos desiguais.