A janela de transferências de janeiro possibilitou às principais equipas contratarem jogadores para colmatar saídas, lesões e opções erradas feitas no início da época. Nunca o mercado de inverno tinha sido tão dinâmico e foi estabelecido um novo recorde, com os clubes da primeira liga a gastarem 47,4 milhões de euros. Segundo dados do Transfermarkt, no mês passado foram realizadas 95 contratações, num total de 47,4 milhões de euros, e houve 77 jogadores que foram vendidos, gerando uma receita de 50,7 milhões de euros. Com um saldo positivo de 3,3 milhões de euros, a liga portuguesa surge na 11.ª posição no ranking mundial das transferências (a 7.ª a nível europeu), com a particularidade de ser das poucas a apresentar um saldo positivo – só acontece também com as ligas italiana, brasileira e argentina.
A SAD do Benfica cedo percebeu que o plantel tinha falhas e decidiu abrir novamente os cordões à bolsa para enfrentar a segunda volta sem ter de fazer adaptações umas atrás das outras. Aliás, o Benfica continua na luta pelo título graças ao esforçado Aursnes, que corrige em campo os erros cometidos na contratação de jogadores, e à irreverência do jovem João Neves, dos raros que põe a equipa a jogar bem.
Benfica ao ataque
Roger Schmidt passa a contar com o ponta de lança brasileiro Marcos Leonardo (ex-Santos), contratado por 18 milhões, e com o extremo argentino Gianluca Prestianni (ex-Velez Sarsfield), que custou nove milhões. Recebeu por empréstimo o defesa esquerdo Álvaro Carreras (ex-Manchester United) e o extremo Benjamin Rollheiser (ex-Estudiantes). Homens para fazer golos é coisa que não falta na Luz. Deixaram a equipa em janeiro Musa, por dez milhões de euros, Lucas Veríssimo, por nove milhões, João Victor, por seis milhões, e Chiquinho, por um milhão. Gonçalo Guedes terminou o empréstimo e foi para o Villarreal e David Jurásek foi emprestado ao Hoffenheim. No mercado de inverno, os encarnados gastaram 27 milhões de euros – nunca tinha investido tanto em janeiro –, mas compensaram com vendas no total de 26 milhões, o que significa um saldo negativo de um milhão. Este valor junta-se aos 69 milhões gastos no início da época, ou seja, os campeões nacionais investiram 96 milhões de euros em reforços e fizeram 45,5 milhões em vendas. Feitas as contas, a defesa do título custou qualquer coisa como 50,4 milhões de euros.
O Sporting também se reforçou, com a entrada de Koba Koindredi, cujo passe custou quatro milhões de euros. O médio francês era jogador do Valência, mas esteve emprestado ao Estoril na primeira metade da época, e agora vem dar mais força e velocidade ao meio-campo leonino. Os leões contrataram também o defesa central Rafael Pontelo (ex-Leixões) por 700 mil euros. Em sentido inverso, saíram de Alvalade por empréstimo os seguintes jogadores: Jovane Cabral, Rúben Vinagre, Dario Essugo, Mateo Tanlongo e Rodrigo Ribeiro. Rochinha saiu após rescisão de contrato. O Sporting gastou nesta janela de transferências 4,7 milhões de euros e não fez qualquer venda. A este valor juntam-se os 54 milhões de euros das contratações de verão, mas depois há o “Euromilhões” de 123,5 milhões proveniente das vendas para equilibrar as contas. O Sporting está numa situação bastante confortável, é segundo no campeonato, a um ponto do líder Benfica, mas com menos um jogo, e ganhou 64,8 milhões de euros com as transferências.
A situação financeira do FC Porto não permite grandes festas, mesmo assim os azuis e brancos contrataram o defesa Otavio ao Famalicão por 12 milhões de euros – foi a nona contratação mais cara de sempre do clube. É um reforço que pode resolver o problema da falta de centrais. Na sua antiga equipa, Otávio realizou 19 jogos e marcou dois golos. Em contrapartida, o FC Porto recebeu 500 mil euros da taxa de empréstimo de David Carmo e Fran Navarro ao Olympiacos, e cedeu Gabriel Verron ao Cruzeiro. Sem capacidade para gerar grandes receitas no mercado de inverno, o clube de Pinto da Costa registou um saldo negativo de 11,5 milhões de euros.
Em poupanças
A janela de transferências de inverno acabou por ser a mais tranquila dos últimos anos na Europa. Houve natural contenção por parte dos grandes clubes, que se estão a guardar para o próximo mercado de verão, altura em que grandes estrelas ficam com carta livre para escolher o seu futuro, casos de Mbappé, Rabiot, Zielinski e Wan-Bissaka, entre outros.
Apesar do aperto financeiro, o Barcelona fez a maior transferência deste mercado, ao contratar o avançado brasileiro Vitor Roque ao Athletico Paranaense, por 40 milhões de euros. Logo a seguir aparece a transferência do defesa do Galatasaray Sacha Boey para o Bayern Munique, por 30 milhões, e a contratação do defesa Radu Dragustin do Nápoles para o Tottenham, por 25 milhões, ou seja, fizeram-se negócios, mas nada de nomes sonantes do futebol mundial.
Depois de uma década a liderar o mercado de transferências, a Premier League foi ultrapassada para Ligue 1, uma liga pouco competitiva e que perdeu jogadores fundamentais, como Messi e Neymar. Esse forte investimento só é possível graças ao acordo milionário assinado com o fundo de investimento CVC, no valor de 1,5 mil milhões de euros, para exploração dos direitos audiovisuais do campeonato francês. Este fundo já é detentor dos direitos do campeonato espanhol, onde pagou dois mil milhões de euros.
Segundo dados do Transfermarkt, a liga francesa foi a mais gastadora, com um total de 196,9 milhões de euros, suplantando a Premier League, que gastou “apenas” 121,4 milhões de euros, e a Serie A italiana, que investiu 107,7 milhões. Os 20 clubes ingleses eram habitualmente os mais gastadores, mas este ano travaram a fundo para cumprir o fairplay financeiro. O volume total de transações fica muito aquém das inverosímeis quantidades de dinheiro pagas em janeiro do ano passado – atingiram os 842 milhões de euros e só o Chelsea pagou 329,5 milhões entre compras e empréstimos.
A partir do momento em que o empresário norte-americano John Textor tomou conta do Lyon, a equipa francesa tem estado muito ativa no mercado de transferências. Em janeiro, gastou 50,1 milhões de euros em seis jogadores, o PSG e o Barcelona surgem logo a seguir, com um investimento de 40 milhões. O Benfica foi a sétima equipa que mais gastou no mercado de inverno, com um total de 27 milhões de euros.