Querida avó,
Esta semana celebra-se o Dia Mundial da Rádio.
Não podia ter escolhido melhor data para inaugurar a exposição Retratos Contados de António Sala. Vamos dedicar o mês de fevereiro a celebrar a vida e obra do Comunicador, transversal a várias gerações.
Sempre que falas do Teatro Radiofónico fazes-me entrar numa máquina do tempo e imaginar o desempenho dramatizado, e puramente acústico, daquilo que agarrava os ouvintes numa época onde não existia a televisão. Sem nenhuma componente visual, o drama radiofónico dependia do diálogo, da música e dos efeitos sonoros para ajudar os ouvintes a imaginar os personagens e a história.
O ano passado assisti à peça O Amor é um Som, onde o Júlio Isidro, outro grande nome da rádio, e outros atores recriaram, em palco, um estúdio dos anos 40 através do qual levaram o público aos tempos em que se assistia ao vivo às emissões da rádio.
As saudades que tenho das tardes que passava, agarrado à rádio, na casa dos meus avós, a ouvir os Parodiantes de Lisboa.
Os Parodiantes de Lisboa marcaram, com muito humor, a História da Rádio em Portugal. O grupo nasceu em de março de 1947 e o primeiro programa intitulado Parada da Paródia foi apresentado na Rádio Peninsular. No entanto, foi no Rádio Clube Português que passou o programa de maior longevidade – Graça com Todos – que esteve no ar ao longo de 50 anos. Dos muitos personagens criados pelos Parodiantes de Lisboa, ficaram na memória: “Jack Taxas e o seu cavalo Cara Linda”, “Manas Catatua”, “Compadre alentejano”, “Menino Arnestinho”, “Delicadinho da Silva” e a famosa dupla de detetives “Patilhas e Ventoinha”. Os mais recentes fazem parte das memórias do que são da minha geração.
Sou um privilegiado por conhecer o Nunes Forte, o António Sala, o Júlio Isidro o Aurélio Carlos Moreira e ouros que fazem parte da história atual da Rádio.
Vê se vens a Lisboa nas próximas semanas!
Bjs
Querido neto,
Ainda bem que te lembraste de celebrar o Dia da Rádio.
Tu és muito novinho, uma criança ainda! Por isso nem fazes ideia do que era a nossa vida sem televisão! Trabalhar, chegar a casa – e depois?
Ora bem, lá em minha casa depois íamos todos sentar-nos em roda de uma mesa (se era inverno havia uma braseira em baixo) e um aparelho de rádio (enorme, e ligado à corrente). E estávamos ali horas porque – tal como com a televisão – sabíamos que programas havia em cada dia e em cada estação.
E também havia telenovelas – só que se chamavam folhetins. Duvido que hoje se sigam as telenovelas com tanta fúria como seguíamos então os folhetins.
Lembro-me de uma senhora, (eu ia escrever “velha”, mas ela devia ter aí uns quarenta, mas para a criança que eu era nessa altura, quem tivesse 40 anos era velhíssima) chamada Manuela Reis, que fazia um folhetim – e era só ela que fazia tudo! Vozes diferentes conforme o sexo e a idade das personagens, bater na mesa ou nas cadeiras se era preciso um ruído parecido. E a gente não largava a rádio. Durante anos foi só isso que tivemos. Muito depois veio aquilo a que se chamou O Romance da Coxinha, ou “ A Coxinha do Tide”, porque era patrocinada por esse detergente que acabava de surgir no mercado de então.
Ninguém consegue imaginar a popularidade que aquilo teve! Havia pessoas que se iam colocar diante da porta dos estúdios da rádio, para darem tareias à pessoa que fazia de má no folhetim!! Metia polícia e tudo! E aquilo durou, durou, a gente já baralhava as personagens todas, eles esticavam a história o mais que podiam.
O folhetim era transmitido à hora do almoço. A rádio tinha muito mais coisas. No próximo Dia da Rádio conto o resto.
Votos de muito sucesso para a belíssima homenagem que estás a fazer ao António Sala, uma grande referência da rádio.
Bjs