Lamento ser a portadora de más notícias mas não há debates coisa nenhuma. O que tem havido são espectáculos montados para servirem as televisões/rádios. Os candidatos cruzam-se rapidamente, alinhavam umas coisas e pronto, venha o próximo. Pior que Speed Dating em esteroides porque é quem assiste que tem de escolher. É mais corrida de galgos ou luta de galos. A seguir, como em qualquer reality-show, vem um interminável revolver das entranhas. A comunicação social atira para ali os políticos a render 20 ou 30 minutos e depois editam, disseminam e comentam os trechos conforme bem entendem e durante horas a fio, vendendo ficção e lucrando com as (boas) audiências solitárias e sedentas. Os debates propriamente ditos não servem para nada. Pelo seu formato, pela fraca qualidade dos protagonistas, pela impreparação dos moderadores, não esclarecem, não informam, tão pouco aprofundam ou formam opinião. Para definir posicionamentos políticos estão lá os comendadores, os analistas, a maioria jornalistas vaidosos e/ou subservientes a outros interesses. Entre sound bytes e medíocres análises psicologistas das ‘cabeças dos candidatos’, interpretam por nós, explicam tudinho aos eleitores ignorantes, decidem quem ganhou e quem é melhor.
Pelo caminho ficam os partidos sem representação parlamentar. Diz-se que tem de haver algum critério, quando o único critério deveria ser o democrático: igual oportunidade para todos e com dignidade/tempo. É que este álibi da representatividade parlamentar só é usado quando convém. Quando não convém, lá vem a história do critério jornalístico. Pois. Mas nenhum deles pode sobrepor-se à democracia. Ou pode?
Enfim, a primeira parte é protagonizada pelos candidatos, mas as estrelas do concerto ocupando o palco principal são os outros. Os primeiros dispõem de cerca de 12 minutos para exporem o seu pensamento (inevitável vencer quem faz melhores frases-efeito), os segundos dispõem de horas para os avaliar, criticar, vender, apoucar, exaltar, fingindo sempre que houve um verdadeiro argumentário e discussão. O problema é que este entretimento (ou infotainment, como gostam de encher a boca) nada tem de serviço público e apresenta ainda um outro custo além desta já pesada fatura: é que as motivações e interesses dos partidos são conhecidos e passíveis de serem escrutinados (a vida e património dos líderes e seus acólitos, os financiamentos, o dia seguinte, os períodos de nojo). E podiam ser mais ainda, claro. Bem mais. Já o que move a maioria dos comentadores/analistas é insondável e opaco. Estão a fazer campanha por quem? Por um dos candidatos? Pelo patrão? Por um país estrangeiro? Por um fundo anónimo das Bahamas? Seja o que for, são eles que formam governo. Eis mais um forte sinal de que vivemos em pós-democracia. Mas calma. Muita calma. Ainda agora começámos.