André Jordan (1933-2924). O Mago do Turismo

Com seis anos pisou solo português a caminho do Brasil, para fugir aos campos de concentração de Hitler. Haveria de voltar e deixar a sua marca no turismo. Da Quinta dos Descabeçados, um terreno selvagem, fez a Quinta do Lago, um dos aldeamentos mais elogiados no mundo.

No filme Os Dias da Rádio há um jogador de beisebol que perde uma perna, mas continua a jogar, depois perde um braço, mas não desiste, sempre com a força de jogar. André Jordan nunca perdeu uma perna ou um braço, mas teve fases da sua vida em que passou por maus momentos financeiros, em que perdeu quase tudo, mas nunca desistiu dos seus sonhos, tendo, por isso, conseguido concretizar muitos deles. «Começar de novo é uma característica da família, sempre começar de novo», chegou a dizer ao nosso jornal. 

Olhando para a sua vida, facilmente se percebe que tem todos os condimentos para dar em filme, usando um brasileirismo que tanto o caracterizava. Ainda não tinha sete anos e teve de fugir da sua terra natal, então Lwöw, Polónia, atual Lviv, Ucrânia, ao som dos bombardeiros alemães que davam início à invasão da Polónia na II Grande Guerra. Oitenta anos depois reviveu esses sons, que tantas noites o atormentaram, aquando da invasão dos soldados de Putin à Ucrânia:«Quando ouvi, na televisão, as sirenes a avisar as populações de mais um ataque russo recuei mais de 80 anos. O som é o mesmo de então», dizia ao Nascer do SOL em março de 2022. 

Da família Spitzman, seu apelido antes do pai ter recuperado o de Jordan nos EUA, só sobreviveram seis familiares próximos: os pais, André e a irmã Mary, e mais três primos, além da secretária do pai – «vim a saber do envolvimento dos dois depois» – e do marido escondido na bagagem. Os restantes familiares que ficaram na Polónia acabariam em campos de concentração. «Na altura, o resto da família acreditava que os ingleses nos iam salvar e por isso ficou na Polónia».

 Foram muitas as peripécias por que passaram até chegaram ao Brasil, partindo de Portugal, mas primeiro passaram por Bucareste, onde apanhou um susto enorme por se ter perdido no comboio, deixando a mãe em pânico. Depois passaram por Veneza e Roma: «Um dia estava a cantar na rua e alguém atirou uma moeda da janela. Foi o primeiro dinheirinho que ganhei», comentava na mesma entrevista. 

Ainda tiveram uma passagem por França, até chegarem a Portugal de onde partiram para o Brasil, pois a mãe temia que Hitler invadisse a Península Ibérica. No seu livro Uma Viagem pela Vida, André assume que essa viagem correu bem devido aos conhecimentos maçónicos do pai. A viagem para o Novo Mundo fez-se num paquete de luxo, o Conte Grande, que mais tarde acabaria por ser comprado pelos EUA, servindo de transporte da tropa americana durante a Segunda Guerra Mundial.

No Brasil o pai tentou refazer a fortuna que deixara para trás – a família esteve durante muitos anos ligada à exploração de petróleo – e iniciou-se no ramo imobiliário, com outro sócio, apostando naquela época num negócio inovador de vender os apartamentos em planta. Antes de estarem construídos já estavam, supostamente, pagos. Henryk Spitzman Jordan, o pai, «viveu sempre no meio do dinheiro. Primeiro o petróleo da família, depois os seus próprios negócios no Brasil, na Argentina, nos Estados Unidos, em Inglaterra e em Portugal. Foi industrial, banqueiro, um génio inovador no imobiliário. Mas nunca foi um homem organizado ou metódico. Tudo acontecia por impulso. Como se a ordem natural das coisas, apesar dos escolhos da História e da montanha-russa da economia, fosse as coisas correrem-lhe bem e os resultados aparecerem. Precisava sempre de dinheiro, mais dinheiro, para alimentar um train de vie que lhe estava colado à pele. Olhando para trás e para uma vida interrompida cedo de mais (morreu com 61 anos), sinto que viveu sempre acima dos seus reais recursos financeiros. Mas nunca esgotou os capitais de imaginação, sedução, e domínio sobre as pessoas e as circunstâncias. Acredito que seria eternamente capaz de dar a volta e encontrar novos horizontes de negócio, novos amores, novos amigos… e novas soluções de tesouraria!», escreve André no livro.

De jornalista a empresário

Quando chegaram ao Brasil, em 1940, André, ainda com seis anos, andou num colégio católico, em Copacabana, no primeiro ano da primária, onde foi várias vezes expulso. «Era agitado em criança, não era propriamente mal-educado mas perturbava a aula e mandavam-me para a rua». Com o divórcio dos pais, a mãe levou-o para um colégio interno nos EUA. Apesar disso, ia todas as semanas à opera e ao teatro com a mãe, mas quando fez 16 anos o pai deu-lhe ordem de regresso ao Brasil – viviam num anexo do famoso Copacabana Palace – onde iniciou uma carreira de jornalista, e começou a entrar na vida boémia da cidade maravilhosa. Assistiu a todos os jogos do Brasil no Mundial de 1950, e nunca se esqueceu do imenso silêncio depois da derrota na final contra o Uruguai. 

Tornou-se uma figura da cidade e movia-se com tanta facilidade no mundo dos banqueiros e dos políticos como na boémia carioca. Tornou-se amigo de figuras como Tom Jobim ou João Gilberto, com Vinicius não se dava, pois terá havido um negócio de saias pelo meio e o artista não gostou muito disso. Mas como os desafios jornalísticos não eram os mais aliciantes, nem monetariamente, o pai desafiou-o a trabalhar com ele. Com o perfil traçado do pai, André tornou-se um auxílio precioso na gestão das empresas. Sempre com a perspetiva de ser executivo numa grande empresa norte-americana, André andou entre um lado e o outro – cedo percebeu que o seu futuro passaria por um negócio seu e não dos outros. Uma vez em Nova Iorque, tem uma cena verdadeiramente de filme: chovia e estava à espera de um táxi, até que se aproximou uma mulher que também estava à espera de transporte: perguntou-lhe se queria dividir o táxi, e lá entraram os dois. Só quase no fim da viagem é que viu que a sua companheira de viagem era Grace Kelly. O acaso sempre fez parte da sua vida, também na única vez que andou de teleférico no Rio de Janeiro dividiu a cabina com John Wayne.

Seguiu-se a Argentina onde foi tratar de negócios do pai, além de ter tentado a carreira de consultor político, tarefa de que não se saiu muito bem, pois não se identificou com o papel nem com os ‘clientes’.

O pai, esse, continuava na senda dos negócios, uns mais bem sucedidos, outros nem tanto. Como na sua curta passagem por Portugal tinha feito amigos, entre os quais Augusto de Castro, que o apresentou a Salazar, Spitzman Jordan criou uma relação de proximidade com o ditador português. «Mais uma vez, há no encontro destes dois homens uma atração de opostos. Oliveira Salazar, homem de Estado austero, frio, recatado, avesso à surpresa e ao risco, quase anti-social. Spitzman Jordan, um quase aventureiro, sedutor, homem de vida lúdica, das mulheres, dos negócios arriscados e improváveis (…) Em plena Guerra Colonial, é o meu pai quem leva Stanislaw Radziwill [cunhado de Kennedy] a uma conversa com Salazar, facto anotado nos seus diários. O governo português queria amenizar as relações com a administração Kennedy, menos disponível do que administrações anteriores para aceitar a política ultramarina de Portugal. O Presidente do Conselho ficou eternamente grato ao meu pai por esta articulação, que só podia acontecer fora dos canais diplomáticos normais», escreve André Jordan no seu livro. «Só depois da sua morte [do pai], vim a saber que a ligação ao Departamento norte-americano e à CIA era muito mais estreita do que eu imaginava». O pai foi um dos responsáveis por duas obras em Portugal, uma em Oeiras, o Bairro Augusto Castro, e outra em Alvor, com a construção das primeiras torres. Por essa altura, André estava a construir um empreendimento em Buenos Aires.

O convite de salazar

Seis semanas depois da inauguração do bairro de Oeiras, Spitzman Jordan morre. É então que André recebe uma carta. «Estava eu no Rio de Janeiro a tentar gerir o caos que sempre sucede, nas famílias e nas empresas, ao desaparecimento do patriarca, quando recebo um cartão, entregue pelo protocolo do Consulado Geral de Portugal, escrito de mão própria por Salazar. Um cartão grande, escrito dos dois lados, que me surpreendeu e em que de imediato me perdi, porque não conseguia ler uma palavra (…) Depois de algum tempo, com a perseverança que a curiosidade alimenta, lá consegui decifrar as condolências da praxe e um convite para o visitar em Lisboa. Foi o que fiz um mês mais tarde». 

Chegado ao Forte de Santo António da Barra, São João do Estoril, Salazar esperava-os no pátio. «Dei por mim reencarnado em jornalista e desatei a fazer perguntas, talvez porque senti abertura para falarmos à vontade. ‘Doutor Salazar, chama-me a atenção que os Portugueses, quando estão em Portugal, são sóbrios, muito humildes, mas quando emigram e se instalam noutras latitudes parecem sofrer uma transmutação! Parece que explodem, mostram enorme iniciativa e são bem-sucedidos em projectos arrojados e áreas de maior risco’. A resposta foi tão desconcertante quanto reveladora da dimensão que aquele homem atribuía a si próprio no desenho do Portugal contemporâneo. ‘Acredito que tenho alguma coisa a ver com isso…’ Ou seja: o estadista assumia, com evidente orgulho, ter moldado, ao longo de décadas de ditadura, o carácter de todo um Povo!».

André diz no livro que percebeu que Salazar gostava de falar da Segunda Guerra Mundial: «Se a Espanha não entrou na guerra, a mim o deve! Portugueses e Espanhóis salvaram-se de terríveis sacrifícios porque eu disse ao generalíssimo Franco: se a Espanha entrar do lado do Eixo, Portugal entrará do lado dos Aliados. E foi graças a isso que a Espanha não entrou na guerra», confessou o ditador.

 O Presidente do Conselho depois elogiou os serviços prestados a Portugal por Spitzman Jordan. «Por isso mesmo, queria dizer ao senhor André Jordan que tem todo o nosso apoio. No que quiser empreender em Portugal, pode contar com o nosso apoio». Jordan ficou a pensar mas chegou a uma conclusão que não confessou ao seu interlocutor. «Eu, que não comungava da filosofia política de Salazar, que prezava as liberdades mais do que tudo, quase cedi. Salvou-me, naquele momento, o instinto de sobrevivência. Pela ordem natural das coisas, aquele regime anacrónico tinha de cair, era uma questão de tempo (…) Portugal não é isto, pensei. Se fico ligado a este regime, vou apanhar por tabela. Eles vão cair e eu vou junto!». Não falaram de política interna, nem tão pouco de África, e Salazar nada adiantou sobre a promessa que fizera ao pai de André Jordan sobre a concessão de exploração de petróleo em São Tomé e Príncipe.

Os negócios da família – Rio de Janeiro, Buenos Aires, Lisboa, Algarve e Paris – estavam mal e havia falta de liquidez, com muitos credores a baterem à porta. Tendo o pai deixado algumas dívidas no hotel onde se instalara, no Palácio do Estoril, e sem liquidez para as pagar, André foi ao Casino e apostou tudo no 8 e ganhou duas vezes seguidas. Voltou ao hotel e pagou as dívidas. A vida também é uma questão de sorte. 

À conquista de portugal

Depois de liquidar tudo e dividir o que sobrou do património, André avançou para outras latitudes. Seguiu-se de novo a Argentina e depois as Caraíbas. Como os negócios não floresciam, André avançou para a Europa, tendo escolhido França, onde vivia a mãe, a quem escondia a sua situação periclitante. E foi aí que viu um anúncio no Figaro a falar da abertura de um concurso para a concessão do futuro Casino de Vilamoura. 

Depois de episódios rocambolescos, e de perceber que não tinha hipótese no Casino, partiu em busca de um lugar para fazer o melhor aldeamento da Europa, até porque amigos lhe tinham sugerido apostar no Algarve, uma terra de futuro, como diziam. Bateu a várias portas, alguns banqueiros ajudaram-no nas despesas primárias, concedendo-lhe crédito, até pela relação que tinham tido com o pai, e depois de muito penar, chegou à fala com Afonso Pinto Magalhães que lhe disse que tinha um terreno que talvez se adequasse ao que pretendia. Um funcionário acabou por o levar, depois de andarem perdidos, à Quinta dos Descabeçados, que durante mais de 200 anos pertenceu à família de Ramalho Ortigão. «Uma emoção forte invadiu-me. Era seguramente o lugar mais maravilhoso onde tinha estado». E o que é hoje a Quinta dos Descabeçados? Precisamente a Quinta do Lago. Já tinha o terreno, mas faltavam-lhe os 5,5 milhões de dólares, e 200 mil para começar. A história para encontrar o dinheiro, só por si, dava um filme. Vai acabar por ser um herói da França e da URSS (!) da Segunda Guerra Mundial que lhe entregará, em notas, os 200 mil dólares. O piloto Roland de La Poype, o herói, tinha vários negócios espalhados pelo mundo, foi um dos ‘inventores’ das embalagens de plástico do leite, por exemplo, e deu-lhe o dinheiro em Madrid, em troca de uma percentagem no negócio. Como é que André, em 1971/72 conseguiu fazer entrar o dinheiro em Portugal foi outra novela. Além do dinheiro, as licenças urbanísticas também eram um problema, mas Miguel Quina, do grupo Borges & Irmão, aconselhou André Jordan a trabalhar com um arquiteto afeto ao PCP. «Pode calcular-se o meu espanto. Portugal vivia em ditadura, os partidos políticos eram todos ilegais, com a exceção da União Nacional (….) e não faltavam comunistas nas cadeias de Caxias e de Peniche. Miguel Quina deu-me então uma lição de pragmatismo, disciplina em que era mestre: ‘O Partido Comunista está infiltrado em todos os organismos do Estado e os comunistas adoram sabotar projetos como o seu! Vou dar-lhe o nome de um arquiteto de quem eles gostam e assim vai ser tudo mais fácil. E mais rápido. Com a vantagem de que vai gostar do trabalho dele’. O tempo mostrou que Miguel Quina estava cheio de razão». 

Certo é que, em 1972, a Vogue francesa anunciava: «A duas horas de voo de Paris, no extremo sul de Portugal, no Algarve está a desenvolver-se uma realização turística e imobiliária única». A notícia fazia ainda eco da festança que tinha sido criada numa tenda na praia, onde não faltou nada, falando até de «cavalos que chegam à praia, montados por mulheres em maillot de banho, cavaleiras exímias, apertando entre as pernas nuas o corpo dos corcéis: está desperta a atenção dos convidados. este foi um dia memorável». O sucesso estava lançado, tornando-se a Quinta refúgio de banqueiros internacionais, corredores de automóveis como Ayrton Senna, entre tantas estrelas internacionais. Isso anos depois. Mesmo antes do 25 de Abril, boa parte do jet set internacional, e não estamos a falar dos ‘big brotheres nacionais’, já tinha descoberto a Quinta e o negócio prometia, sendo desde logo elogiado a nível internacional. 

Mas antes era preciso arranjar muito mais dinheiro e André bateu a muitas portas, e quando tudo estava a começar a encarrilar, dá-se o 25 de Abril, depois da Quinta já ter sido inaugurada, com a Casa Velha e a Casa Redonda de André Gonçalves Pereira. 

 Otelo Saraiva de Carvalho, no tempo do PREC, ainda chegou a ir à inauguração do campo de golfe, surpreendendo André Jordan com a sua capacidade de recitar de memória excertos de peças e sonetos de Shakespeare. As forças conservadoras viraram as costas ao capitão de Abril, não o cumprimentando, tendo André Jordan percebido que as posições estavam extremadas e que o melhor era partir para outra. Ainda houve um plenário de trabalhadores, e estes acabaram por reconduzir André à frente dos destino da empresa, mas o empresário decidiu partir para o Brasil para refazer a sua vida, não tendo aceitado ficar numa empresa intervencionada pelo Estado.

«Quando olho para trás, e penso como fiz a Quinta do Lago, sem dinheiro, parece-me irreal», escreveu o fundador.

Mais uma vez, no Brasil, as coisas não lhe correram bem, pois foi enganado por uns mafiosos italianos na Bahia, mas, como de costume, deu a volta ao texto. Em 1981/82 voltou a Portugal conseguindo recuperar a Quinta do Lago, dando-lhe o toque final que a torna única no mundo. Em finais da década de 80 acabou por a vender. Lançou-se então no projeto Belas Clube de Campo, às portas de Lisboa, onde vivem cidadãos de mais de 30 nacionalidades. André sempre defendeu que o futuro do turismo português está na qualidade. «Para minha surpresa, existe uma forte procura por parte da verdadeira elite internacional para a compra de habitação em Portugal», dizia ao SOL, em agosto de 2021. Com o projeto de Belas lançado – durante a crise de 2008 chegou a abanar, mas resistiu – outro convite levou-o ao Algarve, onde iniciou o projeto Vilamoura XXI, revolucionando por completo, aquele que esteve para ser o seu primeiro resort algarvio. Acabaria por vender o projeto a um grupo espanhol, depois de ter deixado obra.

Um homem à frente do tempo

Conheci-o, através do Gigi, uma das grandes referências da Quinta do Lago, em finais dos anos 90, princípios dos anos 2000. Fiz-lhe muitas entrevistas e sempre me fascinou a sua perspicácia. Detestava puxa-sacos, tratava todos os colaboradores com enorme estima, e gostava de privilegiar o mérito. Preocupava-o a inteligência artificial, o uso de robots e a desumanização da sociedade. Era um homem destemido e ninguém o conseguia catalogar politicamente. Apoiou Lula na primeira eleição, mas depois desiludiu-se. «Os pobres votam nele porque dizem que, mesmo sendo corrupto, é o corrupto deles. O Lula foi vítima do seu próprio sucesso, da bajulação e da acomodação que se geram em torno do poder», confessava em abril de 2017. 

Desde sempre defendeu um Museu dos Descobrimentos: «É uma peça que faz muita falta e fará muita diferença no turismo em Portugal, inclusive se for feito inteligentemente, exaltando os países que Portugal descobriu, visitou ou por onde passou. Vai atrair muita gente desses próprios países. Por exemplo, em Varsóvia há um museu da história dos judeus na Polónia, que tem uma parte que fala do Holocausto. Os Descobrimentos portugueses são matéria escolar em todo o mundo».

Outra das suas apostas passava pela criação de um centro comercial de Portugal. «O que eu proponho é um Centro Comercial para produtos portugueses de qualidade com o nome ‘The Best of Portugal’, cobrindo prataria, louça, joalharia, arte, moda feminina e masculina, tapeçaria, vinhos, artesanato de qualidade e restauração regional. O local ideal seria, obviamente, o Parque Mayer pela sua localização no coração turístico de Lisboa».

Sendo um apaixonado por política internacional, e um anti-Trump assumido, em 2017 dizia ao Nascer do SOL: «Trump entregou a Merkel uma conta de 300 bilhões de dólares que, segundo ele, a Alemanha deve à NATO. E Merkel entregou ao secretário e o secretário pôs no lixo [risos]. Mas Trump começou a ver que, afinal, a coisa não é bem assim, porque se for assim acabou-se a civilização do ocidente. O ocidente vive desse esquema, liderado e financiado pelos EUA, e se isso acabar o poder passa para o Oriente». Sete anos depois o tema não podia estar mais na ordem do dia. 

O senhor turismo e pai da Quinta do Lago morreu no passado dia 9, e a Quinta para o prestigiar colocou as bandeiras a meia haste. Nasceu nas Polónia a 10 de setembro de 1933, tinha a dupla nacionalidade luso-brasileira, e quando fez 90 anos escreveu aos amigos: «Amigos e amigas vem perguntando sobre os meus planos para o festejo de ter chegado aos 90 anos. Só neste ano de 2023 é que me dei conta desta realidade, sempre pareceu algo longínquo. Aos 70, data respeitável, fiz um grande almoço nos jardins da Casa na Quinta do Lago, com uma bela tenda montada pelo Arquiteto Pimenta da Gama, o saudoso 29, com um belo concerto de um grupo de músicos vindos do Brasil. Aos 80, fiz um jantar de gala no Clubhouse do Belas Clube de Campo e aos 85, um grande cocktail para inaugurar a nova casa em Belas, na qual atualmente vivo muito feliz. Nos últimos anos, surgiram maleitas, começando pela artrose do joelho direito e um grande problema linfático nas pernas, além de outros distúrbios. Descobri observando a minha vida pregressa de que – até um certo momento usamos o nosso corpo e mais adiante o corpo nos usa a nós.

 Fui acometido de uma doença incurável – Insuficiência Cardíaca que, para tentar evitar consequências fatais, é preciso adotar um estilo de vida que a compõe de uma severa dieta sobre a qual é mais fácil dizer o que se pode comer e usar como condimentos, já que quase tudo é proibido, e evitar o stress. A diferença entre esta situação e uma múmia não é muito grande.

Confrontado com essa realidade, fui obrigado a concluir que não posso realizar nenhum festejo, porquanto não quero discriminar entre tantos amigos e amigas que acumulei e que considero, juntamente com os meus filhos e netos, o meu mais precioso património.

O Papa Francisco confirmou numa das suas comunicações uma realidade na qual sempre acreditei – ‘A verdadeira amizade desinteressada é uma forma de amor’.

Vou nesse dia almoçar com a minha família – filhos, netos e netas, avós, bem como um sobrinho e uma sobrinha e suas famílias do Brasil, cujo pai foi o meu mais querido companheiro. Aos que deixarem mensagens terei prazer em responder».