A República das bananas

Eu sou de direita, mas não me peçam para votar na AD, porque sabendo o que sei, não consigo e recuso-me a trair a minha consciência.

Portugal atravessa um período muito conturbado, coincidentemente, no ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de abril. Há uma crise nas Instituições e de nada adianta ignorar-se que um dos pilares da democracia tem sido frequentemente colocado em causa.

Para além das dificuldades financeiras que os Portugueses atravessam, da quase extinção da classe média, do caos no SNS, dos problemas na educação, na agricultura, nas forças de segurança ou nos bombeiros, só nos faltava esta crescente falta de credibilidade das instituições.

Em período eleitoral, evita-se debater com seriedade a necessária reforma na justiça e perante os casos que vão surgindo, foge-se sistematicamente ao assunto sob o velho argumento “à justiça o que é da justiça e à política o que é da política”.

Só que uma reforma na justiça está dependente da política e não parece que haja grande interesse em fazê-la. Estamos numa circunstância única em que caíram dois governos e alguns autarcas por suspeitas de atos ilícitos, mas, aparentemente, parece estar tudo bem e o PSD até admite o regresso de arguidos à vida política, ignorando todas as evidências que são de conhecimento público e o facto dos processos ainda estarem no início.

A pergunta que se coloca é como pode o PSD querer governar o País quando dá este exemplo aos Portugueses?

Eu sou de direita, mas não me peçam para votar na AD, porque sabendo o que sei, não consigo e recuso-me a trair a minha consciência.

Verdade seja dita, António Costa assim que soube que era suspeito num processo, em que pelos vistos até hoje não foi ouvido, não havendo qualquer evidência nem sido até ao momento constituído arguido, tomou a decisão correta demitindo-se de imediato na mesma manhã. Saiu com dignidade e, perante o que temos assistido, acabou por ser exemplo.

Não nos devíamos dispersar a discutir apenas o número de dias em que os arguidos ficaram detidos para interrogatório, porque o que é realmente inquietante é o juiz de instrução não lhes imputar qualquer crime perante as evidências conhecidas de todos, como são exemplo várias quantias de dinheiro em envelopes, o diamante encontrado no gabinete ou os depósitos bancários feitos pelo motorista.

Os casos vão-se sucedendo, a falta de vergonha transforma vilões em vítimas e banalizou-se   qualquer notícia que antigamente era vista como um escândalo. O clima de impunidade parece estar instalado para mal de todos nós que pagamos impostos e queremos um País e autarquias bem geridas.

Obviamente que não se deve presumir que todos os suspeitos são culpados, mas quando existem factos que o indiciam impõe-se uma investigação rigorosa e o apuramento de toda a verdade com consequentes penas que devem ser mais pesadas.

Temos de combater este vírus da corrupção, de uma vez por todas, e isto já não vai lá com anti-inflamatórios, é necessário um tratamento de choque que só o povo está habilitado a dar se tomar consciência da realidade que temos e não quiser viver numa autêntica República das bananas.