Esta é a madrugada que eu esperava!

A direita democrática portuguesa poderá ter em 2024 a sua maior vitória na Democracia, mas a direita tradicional portuguesa somada poderá ter o seu pior resultado de sempre ou pelo menos, estar muito próxima disso.

Começar um texto utilizando como título uma referência de Sophia de Mello Breyner sobre o 25 de Abril de 1974, poderá parecer provocação, mas não é. As eleições de dia 10 de março podem realmente mudar de forma profunda o nosso sistema democrático. Tal poderá acontecer nos 50 anos de aniversário do regime e isso é um dado simbólico.

As últimas sondagens apontam para uma vitória extraordinária da Direita democrática portuguesa, sendo que aqui, incluo os partidos da Aliança Democrática, o CHEGA e a Iniciativa Liberal. Pouco me importa discutir hoje a diferença entre liberais e conservadores, entre nacionalistas cívicos e federalistas europeus, isso poderá acontecer posteriormente e essa discussão deve mesmo ser feita. No entanto, no mês passado, refletia que o país essencialmente terá de escolher de uma vez por todas acabar com a corrupção endémica de um sistema que está frágil e cada vez mais injusto. Como resposta a isso, o espaço não socialista poderá obter uma vitória certamente muito superior a 50%. Sendo que, a margem poderá variar entre os 51% e os 56% e essa predisposição tenderá a crescer nos próximos dias.

Apenas por três vezes na história da Democracia portuguesa a direita obteve uma vitória superior a 50%. Sendo que, apenas por uma vez, conseguiu superar essa barreira no século XXI, nas eleições de 2011 e após a bancarrota de José Sócrates e do Partido Socialista. Tendo obtido 50,35%. Contudo, nada até hoje superou a segunda maioria de Cavaco Silva, o espaço não socialista somou 55,03%. É nesse sentido que podemos afirmar estar a viver um período extraordinário da vida democrática de Portugal.

A direita democrática portuguesa poderá ter em 2024 a sua maior vitória na Democracia, mas a direita tradicional portuguesa somada poderá ter o seu pior resultado de sempre ou pelo menos, estar muito próxima disso. Ou seja, PSD e CDS poderão ter um resultado francamente medíocre. Aliás, resultado esse que poderá ficar abaixo dos 31,98% em 2019, ou dos 30,69% em 2022. Há um mérito da Iniciativa Liberal, mas sobretudo do CHEGA que se tornou o grande partido que poderá acabar com o bipartidarismo, estando a aproximar-se dos 20% nas intenções de voto. Aqui sublinho quatro aspetos que me parecem relevantes: o CHEGA está a liderar politicamente o combate à corrupção, conseguiu encontrar no eleitorado jovem um dos seus alicerces fundamentais, está a conseguir esvaziar a extrema-esquerda e por fim, está a afirmar-se como a maior força política a sul do tejo e isso é uma novidade importante. Um dia gostaria de elaborar mais sobre cada um destes 4 aspetos.

Se por um lado, os portugueses têm de escolher entre o Populismo e a Corrupção ou o Socialismo e a Liberdade, também são chamados a escolher entre a direita tradicional portuguesa que há mais de 25 anos está em profunda degradação resumindo-se a vitórias circunstanciais ou a direita que traz as respostas estruturais para as profundas dúvidas e desigualdades que marcam esta eleição e que está a redefinir por completo o debate político português. No fundo, a escolha poderá estar entre uma direita que a esquerda gosta, porque é uma direita que perde estruturalmente e uma direita que desafia a ordem de um sistema político que defraudou Portugal. A pressão de um voto útil numa aliança democrática de derrotados consecutivamente, ou numa direita que hoje é imprescindível para retirar o PS da esfera do poder.

Numa mudança de época e de paradigma, a pressão por não querer mudar pode ser grande, isso poderá implicar votar na mudança mais suave possível. Para todos os eleitores que estão indecisos à Direita, pergunto:

Vale mesmo a pena votar na direita que permitiu que o PS ganhasse sempre durante tanto tempo? Vale mesmo a pena votar naqueles que durante anos foram incapazes de apresentar-se como alternativa ao PS, que escolheram a direita como o seu principal adversário e que deixaram o socialismo instalar-se nas instituições? Vale a pena votar naqueles que permitiram que o regime chegasse ao ponto de degradação institucional que estamos a ver? O PS governou tanto tempo, porque o centro-direita permitiu.

No dia 10 de março, a direita tradicional portuguesa caminha para um dos seus piores resultados de sempre, mas a direita democrática portuguesa terá, com grande probabilidade, o maior resultado da sua História. Nunca fui de linhas vermelhas, mas será preciso separar o trigo do joio, porque esta será a madrugada que muitos esperavam.