A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), numa nota sobre as eleições, publicada esta terça-feira, reconhece que Portugal está passar por “um momento difícil, mas desafiador”, tendo vivido nos últimos meses “abundantes em crises que adensaram a desconfiança dos portugueses em relação às instituições, em particular na esfera política e judicial”.
O Conselho Permanente da CEP, na nota intitulada “Restituir a esperança aos cidadãos”, faz um diagnóstico da situação do país, deixando alertas para as “difíceis condições de vida de tantos portugueses, em especial dos jovens”, estes que “não conseguem encontrar trabalho e, quando o encontram, o seu rendimento é insuficiente para terem uma vida digna: ter habitação, acesso à educação ou dinheiro para pagar as despesas”.
O órgão, presidido pelo bispo José Ornelas, refere que: “No tempo de debate e reflexão pré-eleitoral em que nos encontramos, exige-se um diálogo honesto e esclarecedor entre os partidos políticos, com a apresentação de programas exequíveis e conteúdos programáticos que não se escondam por detrás de manobras mediáticas e defraudem a esperança dos cidadãos”.
A CEP relembra ainda a encíclica “Fratelli Tutti”, do Papa Francisco, que sublinha que “a política é mais nobre do que a aparência, o marketing, as diferentes formas de maquilhagem mediática”.
Os bispos reconhecem que a responsabilidade, para a resolução dos problemas que afetam o país, recai sobre “todos, dos e de quem os elege, dos que definem projetos e de quem faz escolhas, daqueles que apresentam propostas e de quem se preocupa em delas ter conhecimento para votar conscientemente”.
“Escolher quem nos representa no Parlamento é um dever de todos e ninguém deve excluir-se deste momento privilegiado para colaborar na construção do bem comum. A abstenção não pode ter a palavra maioritária nas eleições do próximo dia 10 de março”, apela a CEP.
O órgão relembra ainda o “documento de 2 de maio de 2019 da Conferência Episcopal Portuguesa, ‘Um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da doutrina social da Igreja’, publicado nas vésperas de anteriores atos eleitorais” e elenca “quatro princípios a presidir à decisão do voto: toda a vida humana tem igual valor; o bem tem de ser de todos e de cada um sem ser ditadura da maioria; a casa comum é para cuidar; nem Estado centralizador, nem Estado mínimo”.
A CEP reforça que os cristãos “à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja”, possuem uma “responsabilidade acrescida de participar na vida política e na edificação da comunidade” e que “votar, de forma esclarecida e em consciência, é uma responsabilidade que decorre da vivência concreta da (…) fé no meio do mundo”.