O império do sexo

O mundo ocidental, que dir-se-ia estar num patamar superior de civilização, menos atravessado por impulsos primários, mais intelectualizado, vive muito dominado pelo sexo – e talvez cada vez mais.

Abro o televisor. O Telejornal dá uma notícia de última hora: o Presidente da República vetou a chamada ‘Lei das casas de banho’, relativa a crianças com disfunção de género. A lei tinha aspeto s controversos, como rapazes e raparigas terem a possibilidade de escolher as casas de banho e os balneários independentemente do seu sexo biológico: os meninos poderiam usar as casas de banho e os balneários das meninas, e vice-versa.

Na CMTV passa o caso da Murtosa, onde uma mulher grávida de sete meses foi aparentemente morta pelo namorado com quem mantinha relações secretas, e que não queria assumir a paternidade do bebé. O seu corpo ainda não apareceu, apesar das buscas da PJ e da própria família.

Outro canal, talvez a SIC, transmite uma reportagem sobre um caso que já tem anos mas que regularmente regressa à agenda: a pedofilia na Igreja Católica. E alguém comenta, a propósito, que no conjunto da sociedade a pedofilia ainda não foi suficientemente estudada mas deve ser bastante superior, tendo muitas vezes lugar dentro das próprias famílias. Apesar da melhoria das condições de vida, ainda há avôs que mantêm durante anos relações sexuais com netas, pais com filhas, tios com sobrinhas.

Passados uns dias, ligo o rádio do carro.

Estão a noticiar que o futebolista William Carvalho foi presente a um juiz pelo alegado crime de violação de uma jovem em Espanha, onde o jogador presentemente atua. Ele desmente, dizendo que o sexo foi consentido. Vem-me à cabeça a história de Cristiano Ronaldo, que sofreu a mesma acusação nos EUA. Ficamos sem saber se estes casos envolvendo futebolistas são reais ou se tornaram moda, com jovens sem escrúpulos a aliciarem jogadores de futebol para depois lhes extorquirem uns milhões.

Noutra estação, uma jovem portuguesa fala do assédio de que foi vítima num veículo TVDE por parte de um motorista que nem sequer sabia falar português. O episódio é descrito com tanto pormenor que dificilmente não será autêntico. Mas depois do surgimento do movimento Me Too as queixas de assédio sexual cresceram de tal modo, às vezes envolvendo situações com décadas, que nos interrogamos sobre a sua veracidade.

O trigo mistura-se com o joio. Mas todos sabemos que o assédio existe nas empresas, nas escolas, nas universidades – enfim, em todos os lugares onde haja seres humanos com poder sobre a vida de outros. E já não se resume à ‘clássica’ pressão de patrões sobre empregadas, ou de professores sobre alunas, antes envolve relações de homens com homens, mulheres com mulheres, mulheres com homens. Há hoje assédios para todos os gostos.

E estamos a esquecer os crimes de morte envolvendo o sexo. Homens que matam as mulheres por ciúme. Mulheres que matam os amantes. Indivíduos que assassinam as ex-companheiras quando elas os trocam por outros parceiros. 

A internet também veio facilitar a infidelidade conjugal, os contactos sexuais e as trocas de casais. Abundam os sites de encontros. Há raparigas e rapazes que ganham atualmente a vida a mostrar o corpo na net. E os canais XXX são às dezenas, transmitindo 24 horas por dia. Quantos milhões de pessoas serão necessários para alimentar esta indústria?

E que dizer das paradas gay, que anualmente se realizam em todas as grandes cidades da Europa e dos EUA com grande sucesso?

A própria publicidade está muito erotizada. As referências mais ou menos explícitas ao sexo são constantes. E em obediência ao politicamente correto, é de bom tom contemplarem as relações entre pessoas do mesmo sexo, sejam no feminino ou no masculino.

Subitamente, damo-nos conta de que vivemos numa sociedade encharcada em sexo. 

O sexo está por todo lado. 

Os crimes por ciúme, as violações, o assédio, a prostituição, a pornografia, a pedofilia, os desfiles públicos, os nudes são sinais exteriores de uma sociedade onde o sexo adquiriu uma importância gigantesca. Até a tão discutida questão do aborto tem que ver com isto – na medida em que resulta de relações sexuais não devidamente acauteladas.

Dir-se-ia que o mundo ocidental, situado num patamar superior de sofisticação, estaria menos dominado por impulsos primários. Mas constata-se o contrário: o poder do sexo aumentou. E talvez seja o sinal mais claro da decadência desta civilização.