Vivemos um tempo em que as guerras, a desigualdade económica, a crise climática e a intolerância religiosa condicionam a ação política dos governos do mundo. As imagens que todos os dias nos entram em casa tocam na vida de cada um de nós.
Este é o nosso tempo. E precisamente por ser este o nosso tempo, julgo ser mais urgente que nunca voltar àquela que era, para Francisco Sá Carneiro, a origem, fundamento e objeto da ação política: as pessoas. É essa mensagem que qualquer social-democrata tem o dever político e moral de renovar dia após dia, através da sua ação.
Em 2024 voltámos a ouvir o nome da Sá Carneiro nos debates da campanha eleitoral para as legislativas. Muitas vezes em vão. Eu, que conheci e tive a oportunidade de ser guiado pelo exemplo de Sá Carneiro, não deixarei passar nenhum dos charlatães que falsamente queira passar-se por seu herdeiro. Não há em Portugal, em nenhum partido, no passado recente ou no presente, ninguém com a estatura moral, ética, capacidade de ação política e reformista para o país que tinha Sá Carneiro. Ele que, apesar de tudo, só sonhava com um Portugal normal.
Não fosse o trágico 4 de dezembro, e Portugal seria hoje um país bem diferente. E como vemos, entre tanta anomalia e disfunção na nossa sociedade, esse não era um projeto político de pouca monta. Mas não deixa de causar perplexidade que um país que tanto se agita e indigna com os processos judiciais, nunca tenha procurado a verdade sobre Camarate, sobre o assassinato de um primeiro-ministro e de um ministro da Defesa.
Talvez seja lírico. Mas eu não tenho problema em reconhecer que pertenço aquela espécie política em vias de extinção: à espécie dos otimistas realistas. Acredito num futuro melhor. Acredito na ousadia do sonho e da esperança. E também acredito que, apesar de tudo, há em Portugal uma nova geração de jovens preparados para fazer a diferença, mas que não se sentem atraídos pelos partidos. Assim a democracia envelhece. Não podemos assistir à gentrificação dos partidos.
Liderei o Instituto Francisco Sá Carneiro no início da década passada. Nesse contexto, sempre defendi ser da maior importância que os institutos partidários tivessem dotação financeira para formação política dos jovens, constituindo-se assim como espaços de institucionalização política e democrática, como viveiros de liberdade e ideias, como faróis do futuro do país. «Mais importante que a doutrinação, é levar as pessoas a pensarem, a criticarem, a discernirem», já dizia Sá Carneiro.
Recordei esta ideia por estes dias, a propósito do lançamento do livro de Joana Reis, 40 anos de história – Instituto Francisco Sá Carneiro – cuja leitura recomendo.
Termino como comecei: este é o tempo das guerras, da crise climática, da depressão.
Vamos deixar aos nossos filhos um mundo e um país pior do que aquele que herdamos dos nossos pais e avós. Não deveria ser assim. Mas ainda não é tarde para sermos inconformistas. Cada um de nós, é chamado a dar uma oportunidade à esperança para que Portugal seja um país normal, como Sá Carneiro ambicionou.