Qual vai perder – Pedro Nuno ou Montenegro?

O principal dever dos políticos é, até prova em contrário, resolver bem os problemas que afligem a sociedade. Ora, muitos desses problemas são criados ou agravados pelos próprios políticos.

Neste momento estamos a cerca de 15 dias das eleições legislativas de 10 de Março, e quer a confusão política e social que reina, quer o clima de mentiras engendrado pelos diversos partidos são mais que muitos, pelo que o eleitorado não sectário (i.e. não ‘clubista’) está mais confuso do que habitualmente e, grande parte dele, sente-se incapaz de decidir em quem votar de modo favorável. Daí os resultados ambíguos (e falíveis) das sucessivas sondagens.

A série de debates e comentários televisivos, em vez de ter contribuído para o esclarecimento e conhecimento da verdade sobre o modo como os candidatos tencionam realmente governar o país, serviu antes para um crescendo de publicidade política enganosa – e os potenciais eleitores ficaram, tanto quanto parece, ainda mais baralhados.

Como é sabido, alguns dos partidos, ao longo dos anos, têm-se tornado autênticos especialistas na arte de mentir e enganar o povo, ao mesmo tempo que aparentam a maior franqueza e uma vontade genuína de, com seriedade, resolverem pelo menos os mais graves problemas e dramas dos portugueses, em especial dos mais miseráveis.

Isto, por uma razão muito simples e que se vem repetindo: ao formarem governo, é raríssimo que cumpram, sequer parcialmente, aquilo que prometeram ou anunciaram na fase pré-eleitoral (que é aquela em que agora estamos).

Sob este aspecto, o Partido Socialista é, de longe, o que consegue o maior palmarés, e até parece orgulhar-se disso, pois jamais alguém lhe viu um único sinal de vergonha ou arrependimento – pelo contrário, a reacção que tem é, sempre, atirar as culpas dos incumprimentos para terceiros, mesmo que tais acusações não tenham pés nem cabeça.

Nas últimas décadas, em que o PS governou Portugal muito mais anos que qualquer outro partido, os Portugueses não viram solucionado, nem minimizado (antes pelo contrário), praticamente nenhum dos mais importantes problemas cuja resolução havia sido garantida na fase das promessas e dos anúncios eleitorais – em sectores como a Saúde, a Habitação, a Educação, as Infraestruturas, a Justiça, a Segurança, a Agricultura, a Segurança Social, etc… -, e, não obstante, o PS alcançou, nas últimas eleições, uma maioria absoluta! Pior: congratula-se por ter alcançado, e considera indispensável manter, uma tal forma de “estabilidade política”!

Como se explica isto?

É óbvio, e tem sido dito, que estes múltiplos falhanços ficaram a dever-se a governantes incompetentes e malévolos, quiçá mesmo a políticos sádicos, como Passos Coelho, Cavaco Silva ou Oliveira Salazar… – mas jamais a um socialista!

Curiosamente, o PS da era pós-Guterres passou a revelar uma característica muito peculiar: todos os secretários-gerais que, a partir daí, os seus militantes elegeram (com uma só excepção digníssima de nota, que foi António José Seguro), ou seja, José Sócrates, António Costa e o actual Pedro Nuno, por mais qualidades e valor político que tenham à vista desarmada, partilham em comum o facto de serem homens com intensos defeitos, uma imensa ambição de poder pessoal, e o não olharem a meios (inclusive a mentiras compulsivas) para atingirem os seus fins. E por alguma razão gozam, no seio do partido, duma aceitação quase unânime e entusiástica. No fundo, é como se tivesse sido demonstrado que, no Partido Socialista, tornou-se indispensável escolher líderes com este perfil para obter vitórias eleitorais e um poder global indiscutível – pouco ou nada importando que os mais graves problemas do País sejam ou não bem resolvidos, pois a “família socialista”, essa obtém sempre, por inerência, tudo aquilo que lhe convém ter. E, sobretudo, ninguém a consegue tirar de lá. 

Até agora, parece-me óbvio que esta tem sido a triste e desgraçada realidade portuguesa das últimas décadas.

Será isto que vai voltar a acontecer-nos também desta vez?

Estaremos mesmo condenados à pobreza ou miséria de milhões de pessoas, à corrupção, à inevitável degradação dos serviços públicos e a ir sobrevivendo num regime apenas formalmente democrático?

Como sabem, e para concluir, o nosso destino colectivo depende acima de tudo da vossa decisão de votar ou não – e, é claro, da vossa lucidez política e coragem moral.