“Nos últimos cinco anos, desde que foram introduzidas as alterações à lei do aborto então vigente, permitindo-se o seu recurso sem justificação válida, cerca de 100 mil crianças foram, legalmente, impedidas de nascer, um genocídio só comparável às chacinas indiscriminadas praticadas em países destruídos por guerras.
O mais assustador deste número é que somente 3% dos abortos exercidos durante esse período corresponderam a motivos relacionados com problemas de saúde ou malformação do feto, as situações contempladas na lei anterior. Todos os restantes foram efectuados apenas porque sim!
Estamos perante uma lei criminosa que, lentamente, destrói os alicerces da sociedade, impedindo a sua natural renovação. A título de comparação, registe-se que esta quantidade de bebés a quem foi retirada a vida antes mesmo de poder abrir os olhos é superior à dos nascimentos durante o ano passado, que se cifrou em pouco mais de 80 mil.
Trata-se, sem dúvida, de uma tragédia de contornos imprevisíveis, atendendo-se ao envelhecimento da sociedade portuguesa e à extrema baixa taxa de natalidade. Num país onde a segurança social caminha a passos largos para a completa rotura, não só pelos disparates despesistas dos governantes que nos caíram em sorte, mas também pelo facto da população activa tender rapidamente a ser inferior aos que já atingiram a idade da reforma, convenhamos que se trata de uma política suicida, desenhada por mentes mentecaptas e sem qualquer fundo de coração.
Mas mais do que um flagício demográfico, estamos perante um crime moral, porque atentatório da vida e da dignidade da pessoa humana.
A lei enferma logo de um engodo, quando atribui unicamente às mulheres a decisão de abortarem ou não! Confere um arbítrio exclusivo à mãe, ignorando descaradamente a existência do pai.
Que se saiba, a História da Humanidade regista apenas um caso de uma criança vinda ao mundo por intervenção divina, sem o necessário e indispensável contributo de um homem! Já se passaram mais de 2 mil anos desde esse episódio e nunca mais mulher alguma conseguiu dar à luz sem o recurso a um personagem masculino.
Excluir deliberadamente o pai do processo decisivo respeitante ao aborto, seja qual for a causa que estiver na origem deste, representa uma discriminação inqualificável, apenas comparável à de sinal contrário e contra a qual os movimentos feministas tanto se bateram.
Associar-se a legalização do aborto aos direitos das mulheres e à liberdade destas em decidirem se querem continuar uma gravidez que, nos tempos modernos, apenas se poderá considerar como sendo contra a sua vontade se resultante de uma violação, é um completo absurdo e sintomático da total ausência de valores que norteia parte considerável da comunidade na qual nos inserimos.
Poder-se-ia, quanto muito, falar nos direitos dos pais, porque a circunstância da mãe carregar dentro de si o seu filho, durante nove meses, não lhe acresce direitos em relação ao pai quando está em causa o futuro daquele que é dos dois, independentemente de ele já ter vindo, ou não, a este mundo.
Mas nem tão pouco se poderá invocar os direitos dos pais para se interromper uma gravidez sem uma razão que se sobreponha à moral e que possa justificar a condenação à morte de uma vida humana: nenhum direito, seja de que natureza for, pode atentar contra o primado de todos, o direito à vida!
Este é, aliás, o principal fundamento pelo qual sempre me opus à pena capital, apesar de compreender que muitos criminosos mais não mereceriam do que esse destino. A vida é uma dádiva de Deus e a nenhuma pessoa, nem que aja em nome Dele, pode ser concedida a permissão de lhe pôr termo!
Para quem não acredita que o feto é um ser vivo, não há discussão possível. Partimos de premissas opostas e qualquer argumento a utilizar por cada uma das partes é inócuo e conduz a um debate estéril e sem vencedores. A esses, principalmente às mulheres que esperam um bebé e hesitam em levar a gravidez até ao fim, apenas aconselho a que atentem a uma ecografia: o minúsculo ser que habita dentro da barriga da mãe tem emoções, é vulnerável à dor mas também reage aos afectos, respira e mexe-se. Numa palavra, vive!
A sociedade foi formatada pela propaganda do mal, idealizada por gentes sem escrúpulos e cujo propósito é o de contrariarem a ordem natural, pervertendo as regras com que a natureza criou a nossa milenar civilização.
A cegueira colectiva, que parece ter adormecido uma maioria que se revela incapaz em distinguir o bem do mal e que aceita, com uma submissão inexplicável, o pensamento satânico que se espalha como um vírus incontrolado e vai dominando os espíritos mais fracos, se não for travada a tempo conduzirá a humanidade para um abismo inevitável.
É esclarecedor, para a compreensão deste fenómeno, que os principais militantes que instigam as arruaças de protesto contra as touradas estejam na linha da frente de defesa das causas abortistas. Para estes, a vida de um touro vale bem mais do que a de uma criança!
Triste mundo este em que vivemos!”
Nota: este artigo foi escrito em Fevereiro de 2014