Natureza, motivos e métodos da nossa esquerda

Os cidadãos que não sobressaem na sociedade e nos media vivem pois, mesmo que disso não tenham consciência plena, cheios de medo.

A esquerda transforma, de propósito, a maioria dos portugueses em pobres e incapazes, pois parte do princípio que são estúpidos, e esta é a receita que usa para se manter eternamente no poder.

Tratando-se de um assunto polémico e extremamente melindroso como este, o mínimo que posso e devo fazer é garantir que falarei aqui da minha percepção pessoal sobre a maioria da “esquerda” – isto é, aquilo que o vulgo entende ser a regra -, embora saiba que também existem raras minorias – ou seja, as poucas excepções que o povo conhece e de quem fala (ex: Francisco Assis, Sérgio Sousa Pinto, Álvaro Beleza, António José Seguro, etc.).

Portanto, ao escrever estas primeiras linhas (e se por acaso alguém resolver lê-las), sei muito bem que é inevitável, e de resto natural, que numerosas pessoas irão considerar-me um tipo odioso e “anti-social”, merecedor de, pelo menos, ser irradiado do convívio com pessoas “de bem”, ou mesmo encarcerado… E no entanto…

É bem possível que pouco a pouco, à medida que eu for expondo umas quantas razões justificativas deste modo de pensar e sentir (já que seria insano tratar um tal assunto exaustivamente num simples artigo de opinião), quem tenha paciência e não desista à primeira, admito que alguns potenciais leitores possam vir a dar-se conta de que, afinal, este autor tinha razão aqui, ali, e acolá…

Não é nada fácil decidir por onde começar, já que o tema é imenso e muito complexo. Comecemos, pois, pela entidade principal ou de topo, o Estado, que, como quase todos saberão, tem um estatuto teórico de índole política, sendo definido (se não me engano) como o conjunto organizado de todos os cidadãos portugueses do nosso país.

1º- O Estado, que teoricamente é uma “pessoa de bem”, só raramente se comporta enquanto tal, como é fácil e quase diário constatar na imprensa e nos telejornais. Mas, quando tal acontece, é o cabo dos trabalhos conseguir prová-lo, pois isso requer um processo judicial que geralmente demora muitos anos e capacidade financeira para o pagar, e além disso os representantes e advogados do Estado usam, caso queiram, toda a espécie de truques e artimanhas (a famosa “litigância de má-fé”, por ex.), pois têm a certeza quase absoluta de que o seu comportamento ficará impune – dado o tão português “interesse corporativo” e outros motivos.

Os cidadãos que não sobressaem na sociedade e nos media vivem pois, mesmo que disso não tenham consciência plena, cheios de medo, pois se alguém importante os acusar ou deles suspeitar – com verdade ou mentira, tanto faz -, sabem que o mais provável é ficarem com a vida espatifada, talvez para sempre, e sem meios de defesa bastantes.

O Sr. Presidente da República (PR), os membros do Governo ou o Parlamento importam-se que esta situação exista e seja quiçá frequente, ou atuam no sentido de tais direitos humanos fundamentais serem menosprezados e espezinhados?

Tanto quanto me é possível saber, e dum modo geral, nem sequer se dão conta de tais irregularidades, por isso não posso deixar de considerar que o Estado Democrático de Direito, termo como é classificado o nosso regime na Constituição da República Portuguesa, de um modo geral dificilmente poderá ser levado a sério como uma genuína Democracia, em que as pessoas importam, valem por si próprias e são respeitadas pelos poderes vigentes.

2º- Outro exemplo do verdadeiro modo como funcionam as coisas importantes em Portugal é o que diz respeito ao sector fiscal do Direito, ou seja, aquele em que a chamada Autoridade Tributária e Aduaneira, quer por abuso de poder ou devido ao arbítrio das suas decisões sancionatórias, está organizada como um estado dentro do Estado, com a agravante de os pobres contribuintes suspeitos de haverem lesado o Tesouro serem obrigados a pagar previamente a “suposta dívida”, antes da mesma ser eventualmente provada em tribunal, e seja qual for o número de anos que os tribunais levem a tomar a decisão!

Quanto a estas matérias, e não sabendo quase nada sobre o Direito, é óbvio que seria loucura ou total inconsciência um velho como eu atrever-se a falar de casos particulares, para dá-los como exemplos. A melhor maneira que me ocorre de dar corpo aos dramas e tragédias que, segundo parece, acontecem neste ramo do Direito – e que aliás foram lidas e vistas com imenso agrado e empatia por milhões de portugueses -, foram os contributos extraordinários que, semanalmente e durante anos, o muito saudoso Dr. Henrique Medina Carreira fez o grande favor de nos contar, no seu modo inconfundível, directo e genuíno, dando-nos a conhecer em que consiste um grande advogado e um maravilhoso Homem – apesar de ter que sofrer as vicissitudes e agruras, tantas vezes execráveis, de trabalhar em Portugal.

3º- Um exemplo que nos últimos anos tem sido um dos mais falados, sob a designação de “crise da habitação”, deve a sua triste celebridade a vários factores, que poderei ou não esmiuçar longamente (sobretudo por ser um problema com mais de 50 anos sobre o qual já escrevi várias vezes textos públicos), por ser muito fácil os atuais políticos tenderem a dizer falsidades a este respeito (quer por desconhecerem as realidades (presentes ou antigas), ou por pensarem que essas mentiras só podem beneficiar o seu currículo ou/e o seu partido.

Há pelo menos alguns dados que me parece indispensável não ignorar nesta fase de propaganda eleitoral, sob pena de cairmos na mais perigosa demagogia: Salazar e Cavaco Silva foram os chefes de governo que foram responsáveis pela produção de mais casas (fogos) aos mercados de arrendamento e de venda. Pedro Nuno Santos (nos primeiros sete anos do governo de António Costa) foi, pelo contrário, aquele cujo governo menos casas produziu. Nuno Portas (no governo de Vasco Gonçalves) e António Costa (no 1º governo de José Sócrates) foram os grandes responsáveis pela legislação que mais destruiu e tornou disfuncional e impraticável o mercado de arrendamento em Portugal, enquanto Assunção Cristas (no governo de Passos Coelho, e cumprindo as exigências da troika que foram fruto do acordo entre Sócrates e a dita troika) legislou no sentido de as casas degradadas e arruinadas poderem ser salvas por reabilitação. Lisboa e Porto da época de 2011 são quase irreconhecíveis com as dos dias de hoje.

Lamento não continuar a dissecar a nossa triste e amarga realidade, mas o texto já vai bastante longo.