Segundo as diversas sondagens para estas Legislativas, um número significativo de jovens eleitores, onde se inclui um grupo considerável a exercer o seu direito de voto pela primeira vez, irá expressar a sua vontade em partidos do campo ideológico da Direita. Para além disso, muitos tencionam fazê-lo a favor de uma força populista e extremista, caracterizada por discursos inéditos no nosso espaço democrático.
Como somos oriundos de um povo formado por heranças genéticas celtas, árabes, judaicas, cartaginesas, lusitanas, africanas e essencialmente mestiças, este cenário não deixa de ser preocupante para a salvaguarda de um espaço comum conhecido por Lusofonia, um dos nossos maiores alicerces e principal base histórica.
No meu tempo de voto pela primeira vez, era comum uma escolha inicial pelos ideais de Esquerda, do humanismo, da tolerância e de uma busca obsessiva pela igualdade. Por outro lado, como também sou do tempo das maiorias relativas e do esforço pelo entendimento parlamentar, parece inconcebível esta possibilidade de governar apenas em maioria absoluta, pervertendo paradigmas essenciais e distorcendo a realidade basilar, inibindo entendimentos úteis para a democracia, deixando-a alheia a pontes e ao diálogo entre os partidos políticos. Talvez esta ansiedade pelo poder absoluto tenha empurrado os jovens para o radicalismo. Ao extremar posições, acabam por ceder ao populismo, esquecendo os principais valores sociais e pluralistas que rimam com liberdade.
Estamos a presenciar um choque de civilizações num mundo cada vez mais instável, embrenhados numa mistura explosiva para as próximas gerações. A grande maioria desta juventude inquieta não assiste a debates televisivos, não acompanha os canais de informação ou, quando o faz, apenas procura o sangue imediato e mediático plasmado em órgãos de comunicação social alimentados por essa visão, reduzindo-a à incapacidade de pensar por si, como bárbaros nos espetáculos das arenas romanas. Rendem-se e guiam-se apenas por redes sociais opacas, repletas de vácuo, com mensagens primárias onde ninguém é estimulado a refletir.
Podemos atribuir esta fase atual ao falhanço total das juventudes partidárias, mais preocupadas consigo mesmas, viradas apenas para o egoísmo dos seus lugares de conforto, desfasadas da realidade em redor e desprovidas de causas envolventes. Assim como à circunstância de estarmos perante uma geração que nunca viveu em ditadura. Carenciada de sentido crítico e de cultura, onde a única perspetiva aspiracional passa por querer ser rico, estes jovens esquecem que o seu voto determina mesmo o pensamento vindouro e os passos fundamentais para os próximos tempos. Na verdade, ninguém lhes lembrou isso na altura certa.
Na iminência das comemorações dos cinquenta anos do 25 de Abril de 1974, estes netos de Abril não receberam referências estruturantes, chegando a ser confundidos, muito por culpa de certos partidos, com o período do 25 de Novembro. Quem se atrever a pensar no futuro, terá de liderar por exemplos de responsabilidade política e de sentido de Estado, tanto a governar como na oposição, sob pena de se perder por completo uma geração.
Escritor, Advogado e Presidente do Estoril Praia