Parafraseando um dos grandes derrotados da noite eleitoral do passado domingo, foi uma vitória por poucochinho, mas, desta vez, suficiente para que nenhum dos correligionários do vencedor lhe venha a puxar o tapete, pelo menos para já!
No entanto, é inegável que Montenegro não tem grandes motivos para sorrir, porque se trata de uma vitória de Pirro! Vai ter que governar uma Nação em depressão, afogada em dívidas e com os serviços públicos a colapsarem um pouco por todo o lado, e sem uma base de sustentação que lhe permita levar a bom porto as reformas fundamentais para retirar Portugal do lamaçal em quem décadas de socialismo o deixaram.
Para agravar este negro cenário, a sua teimosia em reconhecer que somente lhe será possível governar se chegar a um entendimento com o outro vencedor da noite.
Santos não deixou qualquer margem de dúvidas ao longo do seu discurso de derrota, ao reafirmar que o PS não vai inviabilizar a formação do novo governo, mas que votará contra os orçamentos de Estado à medida que estes forem sendo apresentados.
Para Santos, no que respeita a orçamentos a AD terá que se entender com outros, ou seja, e por exclusão de partes, com os deputados do Chega! Por muitas voltas que Montenegro dê à cabeça, não vai conseguir vislumbrar outra solução, quando se aproximar o momento de endereçar ao parlamento o seu primeiro orçamento de Estado, que não a de chegar à fala com Ventura, por muitos elefantes que tenha de engolir!
Portugal não se pode dar ao luxo de ir novamente a votos num curto prazo, fatalidade que, quase certo, deixará o País ingovernável e a afundar-se cada vez mais na cauda da Europa.
Os portugueses escolheram não um, mas sim dois vencedores! A AD, caso não tenha capacidade para compreender esta nova realidade, corre um sério risco de vir a ser fortemente penalizada na eventualidade do acto eleitoral ser repetido nos próximos meses.
E bem podem descartar a comparação com o primeiro governo de Cavaco Silva.
Portugal foi, então, de novo a votos não por teimosia de Cavaco, que nunca recusou dialogar com a oposição, mas sim por ter sido derrubado por uma moção de censura, a qual custou não só o desaparecimento do mapa do partido que a promoveu, como recompensou o PSD com uma maioria absoluta.
No entanto, Cavaco, quando viu o seu governo cair no parlamento, levava já dois anos de governação e tinha obra feita para apresentar aos portugueses, que assim o premiaram com o seu maciço voto.
Com Montenegro, a realidade será bem diversa.
Os poucos meses de governação a que sobreviverá serão demasiado curtos para a adopção de qualquer medida que encha os olhos ao eleitorado, até porque, certamente, serão caracterizados por uma contestação social promovida por uma esquerda ressabiada com a derrota e apostada em se vingar nas ruas, além de que ele carregará o estigma de se ter recusado a dialogar com o único parceiro possível, que sempre se ofereceu para o efeito, razão pelo que o castigo nas urnas será o destino mais do que provável.
Um acordo com o Chega não implica, necessariamente, partilhar a governação com aquele partido, mas sim uma convergência de ideias nas áreas mais sensíveis, sobretudo na aprovação dos orçamentos, obrigatória para que a legislatura não cesse de imediato, mas também em todo o pacote legislativo cuja competência para ratificar seja exclusiva da assembleia da república.
É certo que Ventura pôs a fasquia bem alta ao exigir, inicialmente, integrar o governo. Mas as negociações entre adversários servem precisamente para se chegar a consensos, com cedências mútuas, e o líder do Chega já deixou cair essa imposição, mantendo a porta aberta para outras soluções mais realistas.
Cabe, agora, a Montenegro impor a sua autoridade dentro da coligação de que é a primeira cara, principalmente junto dos mais reticentes do partido a que preside, e apagar de vez as linhas vermelhas que foram desenhadas pela esquerda e em cuja artimanha se permitiu deixar apanhar.
O não é não pertence ao passado e para o futuro o que se espera é sentido de responsabilidade por parte daqueles que os portugueses sufragaram nas urnas, sendo que o interesse nacional se deve sobrepor sempre aos jogos partidários.
Foi exactamente para isso que o eleitorado ofereceu à direita a sua vitória mais expressiva desde os primórdios do regime vigente.