Iris Apfel. Um ícone da moda carregado de amor próprio

Os óculos grandes e de aros pretos, bem como os colares com pérolas grandes e as cores berrantes eram a sua imagem de marca. Iris Apfel, ícone de moda, morreu aos 102 anos e deixa um legado e aprendizagens: não devemos ter medo de ousar e de sermos nós próprios.

Dizia que não era bonita, mas pelo menos tinha estilo. O que considerava muito melhor. Iris Apfel, conhecida como um ícone da moda em Nova Iorque morreu aos 102 anos, deixando para trás uma vida excêntrica, carregada de cor e amor próprio.

A sua imagem de marca eram os grandes óculos de aros pretos, os colares de contas grandes e os lábios sempre pintados, bem como as cores berrantes que vestia e conquistou o mundo com a sua confiança, estabelecendo o seu próprio estilo que nunca passava despercebido. Não ligava ao que os outros diziam, o importante foi sempre – e a sua principal prioridade – sentir-se bem. E feliz.

A paixão pela moda vinha de família. O avô de Apfel foi alfaiate na Rússia, o seu pai, Samuel Barrel, fornecia espelhos para decoradores sofisticados e a sua mãe, Sadye, tinha uma loja de moda. Moravam na zona rural de Astoria, no bairro de Queens, em Nova Iorque, onde Iris nasceu.

Licenciada em História da Arte pela Universidade de Nova York e também pela Universidade de Wisconsin, Apfel chegou a querer trabalhar em jornalismo com o objetivo de se tornar uma grande editora. E assim fez: começou por se tornar uma office girl no jornal WWD, que, na altura, era considerado um dos maiores veículos fashion.

Casou-se em 1948 com Carl Apfel – que morreu em 2015 aos 100 anos –, apenas cinco meses após o primeiro encontro. Fundaram a Old World Weavers, uma empresa que era especializada no fabrico de roupa a partir de retalhos antigos. A empresa foi vendida em 1992, mas a excentricidade de Apfel nunca desapareceu. Nunca tiveram filhos. Dedicavam o tempo a trabalhar, a viajar, ou a decorar o apartamento que tinham na Park Avenue. Diz-se que era uma mistura entre o exagero e o bom gosto.

Empresária e designer de interiores, nunca se considerou bonita, mas também não considerava que isso fosse o mais importante. «Não sou bonita e nunca serei bonita, mas isso não importa (…) tenho algo muito melhor, tenho estilo», chegou a dizer.

Durante a sua vida foi fazendo vários trabalhos para grandes nomes, como a Casa Branca nos mandatos de nove presidentes, como Richard Nixon, John Kennedy e Ronald Reagan. Entre os clientes famosos, destaque ainda para Estée Lauder e Greta Garbo.

A sua fama eclodiu em 2005, quando o Costume Institute do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, apresentou um programa sobre si chamado Rara Avis, palavra em latim para ‘pássaro raro’. O museu descreveu o seu estilo como «espirituoso e exuberantemente idiossincrático». Foi das primeiras mulheres a usar calças nos anos 40. Mesmo antes de existirem modelos femininos.

Mas mesmo depois de se afastar um pouco do mundo da moda, a moda veio ter consigo. Em 2018, a Mattel criou uma Barbie Iris Apfel e fez questão de vesti-la com o seu tradicional fato verde da Gucci.

Tinha 97 quando assinou um contrato de modelo com a agência IMG Models e foi a mulher mais velha do mundo a fazer uma capa de revista de moda.

Esteve também presente em várias campanhas publicitárias, como MAC Cosmetics e Kate Spade. Além disso, a empresária lançou uma linha de óculos com a Zenni Eyewear e são mais de 100 as peças assinadas por si.

Ao completar 98 anos, contou a sua história através do livro Iris Apfel: Accidental Icon. Além disso, conta com quatro livros publicados.

Em 2021 ganhou o prémio Andrée Putman Lifetime Achievement Award, que celebra e reconhece a visão singular da carreira de Apfel.

Uma vez foi questionada sobre que conselhos de moda poderia dar e Apfel foi muito clara: «Cada um deveria encontrar o seu próprio caminho. Eu sou ótima na individualidade. Não gosto de tendências. Se aprendermos a ser quem somos, como sonos e com o que podemos lidar, conseguimos saber o que fazer».

Tinha 102 anos, mas nunca quis reformar-se. Ou pelo menos, deixar de criar. «Acho que reformar-se, seja em que idade for, é um destino pior que a morte. Só porque aparece um número não significa que as pessoas tenham que parar», disse ao Today.

Chegou tarde às redes sociais, mas era um sucesso. Tinha mais de três milhões de seguidores no Instagram e, no TikTok, onde juntou 215 mil seguidores, falava de moda e promovia colaborações.

Recentemente tinha celebrado o seu aniversário com os seguidores. Nascida a 29 de agosto de 1921, Iris Apfel tinha completado 102 anos e meio a 29 de fevereiro. «Em meios aniversários, tenho apenas 26 anos. Hoje tenho 102 anos e meio. Feliz dia bissexto», escreveu. 

Não chegará a celebrar os 103 mas o legado que deixa no mundo na moda continuará a ser celebrado.