Chega ou não Chega, eis a questão!

Também é importante lembrar que André Ventura não foi feliz nos debates e fez uma campanha que ficou aquém das expectativas, imaginem se assim não fosse, certamente que teria ainda mais votos.

Os resultados eleitorais demonstraram que só haverá uma maioria parlamentar de direita se a AD fizer acordo com o Chega. Luís Montenegro continua a dizer que “não, é não” relativamente a qualquer tipo de acordo com o Chega.

O Chega foi o grande vencedor destas eleições com mais de um milhão de votos que significa um enormíssimo crescimento. Não há como negar esta nova realidade que altera por completo a composição da Assembleia da República e coloca o Chega numa posição cimeira que lhe dá peso político para tentar impor algumas das suas causas a um governo minoritário. Também é importante lembrar que André Ventura não foi feliz nos debates e fez uma campanha que ficou aquém das expectativas, imaginem se assim não fosse, certamente que teria ainda mais votos.

Todo o ambiente, por vezes, demasiado hostil ao Chega, só contribuiu para o seu resultado e ficou provado que não é esse o caminho para o tentar esvaziar. As pessoas estão cansadas de maus Governos à esquerda e à direita e demonstraram isso de forma muito clara. Cabe ao PS e PSD interpretar com sentido de responsabilidade e humildade o sinal que foi dado pelos eleitores, caso contrário, corremos o risco de sermos confrontados com um rumo sinuoso para Portugal.

A AD venceu por uma margem tangencial, com a soma dos votos da AD e da coligação PSD/CDS na Madeira, porque em bom rigor, se excluirmos a coligação na Madeira o PS é o partido mais votado. Mas é indiscutível que a AD e a coligação PSD/CDS na Madeira tiveram um resultado muito semelhante à soma do PSD de Rio e do CDS de Rodrigues dos Santos em 2022, a diferença é que agora o CDS volta ao Parlamento pela mão misericordiosa do PSD.

Luís Montenegro, muito provavelmente, será indigitado 1º Ministro, mas não terá tarefa fácil para alcançar a desejável estabilidade. Veremos o que irá negociar e com quem, o PS já deixou claro que irá liderar a oposição e não viabilizará qualquer moção de censura ao novo Governo, ou seja, fará o seu papel enquanto oposição.

Parece-me restarem duas alternativas a Luís Montenegro, formar um Governo da AD e tentar governar com acordos pontuais à esquerda e à direita que exige uma postura humilde, flexível e grande capacidade negocial, ou então voltar com a sua palavra atrás e entender-se com o Chega.

Não acredito que Montenegro ceda e se entenda com o Chega depois da posição que assumiu desde o início, portanto poderemos estar perante um cenário político caótico que não beneficia ninguém.

Tudo isto tinha sido evitado, se o Presidente da Républica não tivesse optado por convocar eleições antecipadas numa circunstância em que muitos dos partidos políticos tinham novas lideranças que naturalmente necessitavam de mais tempo para se preparar como foi o caso do PSD, PS, IL, PCP e BE. Por outro lado, não se pode ignorar que até ao dia de hoje, António Costa nem sequer foi ouvido, muito menos alvo de qualquer acusação, o que é muito preocupante e também deve merecer uma reflexão profunda.

Definitivamente, se o País ficar ingovernável, também o deve a Marcelo Rebelo de Sousa.

É chegado o momento de percebermos se quando André Ventura referiu que tinha a garantia de forças vivas do PSD de um entendimento com o Chega, fez bluff ou falou verdade. Passos Coelho, no final da sua intervenção no comício da AD realizado em Faro, aconselhou Luís Montenegro a repensar o “cordão sanitário” ao Chega a bem da estabilidade governativa, veremos qual a posição de outros ilustres sociais democratas.

De uma coisa não há dúvidas, a expressiva votação obtida pelo Chega impõe uma maior moderação e capacidade de diálogo a Luís Montenegro relativamente a André Ventura, assim como a necessidade de tentar fazer acordos de regime que visem assegurar um Governo estável para Portugal. A André Ventura também não interessará extremar posições, sob pena de vir a ser penalizado numas hipotéticas eleições antecipadas. Mas também não pode continuar a ser menosprezado pela AD, quando demonstra grande abertura ao diálogo, nessa circunstância, é a AD que corre o risco de vir a ser penalizada numas eventuais eleições.

Aguardemos. Chega ou não Chega, eis a questão!