Concessão da praia e restaurante Evaristo em concurso

Já foi um dos restaurantes de praia mais badalados do país, mas um incêndio acabou com as memórias do espaço. Agora a concessão do restaurante está em concurso público. Fala-se num sheik árabe na corrida.

O emblemático restaurante Evaristo, situado na praia com o mesmo nome, em Albufeira, no Algarve, está a concurso para concessão da exploração e fala-se que entre os interessados estará um sheik árabe, que tem tentado comprar outras concessões de praia na região. Outro dos interessados deverá ser o proprietário dos terrenos circundantes, onde fica a famosa Casa do Castelo, da família de Vítor Santos, o célebre construtor ‘Bibi’, que esteve ligado ao Benfica.

Segundo o anúncio de procedimento, publicado em Diário da República a 24 de janeiro deste ano, o objeto do contrato é a «concessão de utilização do Domínio Público Marítimo, instalação e exploração do Apoio de Praia Municipal Completo com Equipamento Associado, localizado em Unidade Balnear 1 da Praia do Evaristo».

No entanto, menos de um mês depois, foi publicado outro anúncio para prorrogação do prazo do anúncio. Deu entrada em Diário da República a 15 de fevereiro e determina que o prazo para apresentação das propostas é «até às 23h59 do 38.º dia a contar da data de envio do presente anúncio». O prazo de execução do contrato tem um período máximo de 20 anos.

Segundo o caderno de encargos, disponível no Portal Base, a atribuição do prazo de concessão em função do valor do global do investimento inicial será efetuada da seguinte forma: de 125.000 euros até 200.000 euros para 15 anos; superior a 200.000 euros até 240.000 euros para 16 anos; superior a 240.000 euros até 280.000 euros para 17 anos; superior a 280.000 euros até 320.000 euros para 18 anos; superior a 320.000 euros até 360.000 euros para 19 anos e superior a 360.000 euros até 400.000 euros para 20 anos.

A Câmara Municipal de Albufeira levou ainda a concurso de concessão a utilização do domínio público marítimo, instalação e exploração de apoio de praia municipal completo com equipamento associado na Praia Rocha Baixinha.

O ‘mítico’ Evaristo

A Praia do Evaristo, que ganhou o nome devido ao proprietário de uma vinha próxima, começou por ter uma tasca rudimentar com pipas e petiscos. Em meados dos anos 80, Arnaldo Jesus e Adelaide, personagem envolvida no escândalo do Ballet Rose, e Manuel Correia apostaram em desenvolver o negócio, tendo depois ficado Arnaldo com Júlio Catuna. Estávamos a entrar na década de 90 e na praia um jovem banheiro começava a dar nas vistas, devido ao seu empreendedorismo – ia buscar de barco os clientes que ancoravam os iates ao largo. Ou levava lá a comida se não quisessem ir ao restaurante.

O restaurante que investia na qualidade dos produtos, o famosos peixe e marisco da costa algarvia, apostava também muito num ambiente descontraído. Em 93, juntamente com o sócio Jorge Gonçalves, Luís Evaristo, que também adotou o apelido da praia,  transforma por completo o conceito do restaurante e começa a receber banqueiros, políticos, artistas, jogadores de futebol ou jornalistas televisivos que iam à procura do peixe escalado, das lulas recheadas ou do entrecosto cortado aos bocadinhos. Antes, tinha sido o seu pai com outros sócios quem dera início às festividades. Mas, em 93, o banheiro mais famoso do país ficou à frente do leme.

«Aquilo que nos fez diferenciar foi que as pessoas iam ao Evaristo e diziam que era um sítio espetacular, comida espetacular, mas aquilo que os fazia voltar era a história que viviam lá. E por que viviam essa história? Porque nós fazíamos essa história acontecer. Tínhamos essa sensibilidade. Desde não haver horários, a pessoa comia a qualquer hora, na praia, na areia, na rocha. Tudo era possível. Era a filosofia do não não existe. E depois a filosofia que todas as pessoas que ali estavam a trabalhar tinham uma formação muito forte neste sentido. Naquela altura havia três referências muito fortes: o Gigi, o Evaristo e o Passos. Mas nós éramos Party and Fun, até porque aquilo virava festa, virava a loucura», disse há uns anos Luís Evaristo ao SOL.

Em 2011, saiu da sociedade e ficou Jorge Gonçalves à frente dos destinos do Evaristo. Para trás ficam tempos de felicidade e também de tristeza. Em outubro do ano passado, o Evaristo foi consumido pelas chamas. Não abriu mais portas. Não foi a primeira vez que o fogo o atingiu. Em 2019, uma explosão de gás num anexo deixou o espaço em chamas, mas a rápida intervenção dos bombeiros evitou danos maiores e o espaço continuou a funcionar. Certo é que este ano não existirá Evaristo, pois não haverá tempo entre a conclusão do concurso, a autorização do projeto e as respetivas obras. À semelhança de tantas memórias que tantos têm do restaurante do Evaristo.