Sim, podemos ser tontos por um dia, mas não devemos ser idiotas o resto da vida. Os portugueses estão empanturrados de esqueletos desusados e de moderados pávidos e fajutos – daqueles que dobram os joelhos num desgracioso delito da inércia. Tudo o que é fraco morre um dia.
Porque há um milhão que quer tropear as bestas, Ventura não quis pensar igual e não teve medo de falar diferente. Enquanto outros mostravam o dom para a lágrima, ele fazia piadas de repelão. Aos ´tic-tacs´ de cucos, golpeou-os com ´tik-toks´ de jiu-jitsu.
No karaté combact do último domingo, o Chega expulsou os comunistas do Alentejo e ergueu o Algarve em ombros – por alguma coisa será. E onde há imigrados, o Chega foi a segunda força política, como Albufeira, Lagos, Odemira ou Aljezur – alguma leitura terá.
Ventura ganha votos onde há mais imigrantes, comunidades ciganas e residentes a beneficiar de assistência social. Resumindo, há um besoeiro dos que começam a sentir-se incomodados com quem não fala a nossa língua e com os que vão para o café quando eles já se levantaram para ir trabalhar.
O Chega foi quem mais tagarelou dos polícias e dos professores. PS e PSD esqueceram-se que temos militares e acham que a Cultura é uma coisa perigosa. Mas vivemos a cultura da aparência onde metade é o que é e metade é o que parece – e cada vez mais é o que parece e não o que é. O casamento vale mais do que os noivos e o funeral mais do que o morto.
Pedro e Luís foram castigados pelos jovens. Não basta levar os filhos para lhes mostrar o valor do voto, é preciso deixá-los votar mais cedo e não basta dizer que os querem de volta se não os ouvem e não lhes falam. Cubram-se de penitência antes que vos pendurem nos cruzeiros.
A nova comunicação política não suporta a intermediação e já não passa pelas manadas que rosmeiam nas televisões. Sete em cada dez jovens seguiram a campanha pelas redes sociais e o Chega é o partido com mais seguidores. Segundo o ‘radar das legislativas’ da Universidade da Beira Interior, as interações com o Chega superam a soma de todos os outros partidos – no caso do Youtube terão sido quase o dobro.
Metade dos jovens portugueses está no TikTok – onde os conteúdos da direita radical têm uma tração incomparável. É lá que eles mais se informam e onde Rita Matias se destaca. Alguns reconhecem que é sempre a jovem deputada do Chega que lhes aparece nas sugestões. Depois vem André Ventura com a verdade alternativa que nos põe a todos em julgamento – aprendeu com Abascal e Salvini.
Para os populistas do algoritmo não interessa a política, antes a opinião pública. Eles oferecem-nos uma realidade paralela onde a raiva é uma fonte de energia colossal e, uma vez libertada, a cólera permite construir qualquer tipo de comunicação política. Já na Grécia antiga a punição era a grito dos demagogos.
A nova comunicação política sem mediação quer que as massas se enervem e tenham medo. As notícias negativas captam mais rapidamente a atenção e ativam-nos o cérebro reptiliano que põe os moderados em modo de fuga e os radicais em luta.
Luís e Pedro: diz-nos a astúcia dois africanos que a abelha não leva chumbo e a sabedoria dos árabes que o medo de perder nos tira a força para ganhar.
«Já agora, vale a pena pensar nisso!», como nos diz a RFM.