Luís Montenegro (LM) tenta responsabilizar o Chega por um eventual falhanço do seu presuntivo governo. Não sou eu quem vai responder a LM, mas sim Francisco Sá Carneiro: «O partido que a rejeita [a coligação] é que assume a responsabilidade plena das consequências de querer governar sozinho». Não voltarei a esta questão. Para mim é caso encerrado. Alguém se vai perder no labirinto por ele próprio construído. E esse alguém não é, seguramente, André Ventura.
Esse labirinto foi desenhado a partir de duas ilusões: ‘voto útil’ e ‘estabilidade’. LM e o seu núcleo duro estão a fazer política para um país que já não existe. Vivem numa ficção.
1. O voto útil. PSD e CDS herdaram os votos de uma direita órfã de um partido que a representasse. O PREC havia-os eliminado. Esses dois partidos iam defraudando consecutivamente essa Direita, acenando-lhe com o menor mal. Assim, com os votos da Direita iam governando à Esquerda. E a Direita, embora sentindo-se ludibriada, lá ia melancolicamente votando para evitar governos de Esquerda. Isto resultou enquanto não apareceu um partido de Direita. Surgido esse partido, o manancial de votos ‘úteis’ começou a secar, vitimando, primeiro, o mais pequeno dos dois partidos para, depois, começar a ameaçar o maior.
Como defesa para essa ameaça, Luís Montenegro decidiu jogar tudo na velha receita, a carta do voto útil, com o famoso «não é não». Sem perceber que essa carta já não fazia parte do novo baralho da política portuguesa. E aí entrou no labirinto que tinha apenas uma verdadeira saída, a de uma maioria absoluta. Todas as outras eram falsas saídas que levavam a novos corredores. Entre elas, a de um governo minoritário.
2. O governo minoritário. Um governo minoritário de um PSD que, entalado entre o PS e o Chega, apenas teria duas saídas: o apoio de um ou outro desses partidos. Fechada a porta pelo PS, sobraria o Chega. Mas uma vez que tinha também fechado a porta um acordo à Direita, sobraria a Montenegro a chantagem sobre o Chega: «Se não me apoias, haverá eleições e os teus eleitores, sedentos de estabilidade, irão desertar e juntar-se a nós». Pois sim. Há vinte anos, esta carta seria um trunfo só que esta carta da ‘estabilidade’, tal como a do ‘voto útil’ já não existe no tal novo baralho da política portuguesa.
3. A Estabilidade. Ninguém quer a estabilidade na miséria. A estabilidade era o valor central de uma classe média, ainda há vinte anos com uma dimensão razoável em Portugal. Mas um sistema fiscal predador, uma máquina do Estado insaciável e as políticas de Bruxelas centradas na tal transição ecológica e outros devaneios foram o suficiente para acabar com o que havia de classe média, transformada numa massa confusa de inúmeros novos pobres com algum passado, pouco presente e nenhum futuro. Hoje, qualquer português que tropeça num sem-abrigo a dormir no chão pergunta-se se no mês, ou no ano que vem, não estará ali também a fazer-lhe companhia.
Assim sendo essa ex-classe média que, no seu tempo, julgava garantir a estabilidade alternando entre o PS e o PSD hoje não descansa enquanto não vir sair de cena os partidos que a trouxeram até ao colchão de penas das pedras do passeio. E vê em André Ventura aquele que os pode afastar. E ficará com ele e com o Chega até que isso aconteça.
Montenegro irá morrer (politicamente) exausto no chão do seu próprio labirinto.
Deputado do Chega