Em 1980, com o país arrasado por quatro anos de instabilidade política, a AD de Sá Carneiro apresentou-se a eleições com o slogan ‘Um governo para quatro anos’, tendo obtido a maioria absoluta dos deputados. Infelizmente esse desígnio não se concretizaria, devido ao falecimento de Sá Carneiro e ao facto de Freitas do Amaral ter depois abandonado o governo. Seria preciso esperar mais sete anos para finalmente Cavaco Silva dar ao país duas maiorias absolutas, dirigindo assim dois governos de quatro anos.
Neste momento os partidos de direita têm uma sólida maioria no Parlamento, pelo que não há motivo nenhum para que não se entendam para formar um governo para quatro anos, seja por apoio parlamentar, seja mesmo através de um governo de coligação. Na verdade, um governo apenas da AD, ou mesmo com a IL, não teria qualquer estabilidade política e seria incapaz de aprovar quaisquer reformas neste Parlamento. Basta ver que os partidos da esquerda têm mais deputados e já se estão a unir para contestar o Governo da AD. Por isso, basta que o Chega se abstenha, para que não passe neste parlamento uma única lei vinda do novo Governo.
Há quem procure dar o exemplo do primeiro Governo de Cavaco Silva para demonstrar que é possível à AD governar sozinha, com o sucesso que esse Governo teve. Quem diz isso esquece que esse Governo contou desde o início com a não hostilização do PRD, que não quis ir para o Governo e até viabilizou uma moção de confiança. Mas esse Governo não conseguiu fazer quaisquer reformas e caiu logo que o PRD decidiu apresentar uma moção de censura, que só não levou à substituição do Governo porque Mário Soares convocou eleições.
Esse quadro político favorável não existe hoje. Os partidos de esquerda são profundamente hostis ao Governo AD, pelo que se a AD não conseguir negociar no Parlamento um apoio parlamentar sólido, não só não conseguirá fazer passar nenhuma reforma, como será trucidada na primeira oportunidade. Ora, termos um governo lame duck durante seis meses, paralisado politicamente, e incapaz de executar as reformas de que o país tanto carece, será a maior decepção que se poderia causar aos eleitores que disseram claramente nas urnas que queriam libertar o país das políticas socialistas que nos conduziram ao desastre.
É preciso por isso obter rapidamente um acordo parlamentar, que permita assegurar o apoio ao Governo da AD de todos os partidos da direita no Parlamento, com garantias de viabilização dos futuros orçamentos e das principais reformas que o novo Governo deve realizar, principalmente nas áreas da Saúde, Justiça e Habitação. Se Luís Montenegro conseguiu eficazmente montar a AD para ganhar as eleições, também deve ser capaz de conseguir montar um acordo parlamentar para termos um Governo para quatro anos. Ter o país à deriva durante seis meses, com um governo paralisado e novas eleições legislativas no final do ano, num quadro interno e externo tão exigente, é que será seguramente contrário ao interesse nacional e representará uma profunda desilusão para os eleitores.