Râguebi. Jovens Lobos foram uns cordeirinhos

A renovação na seleção não deu o resultado desejado e Portugal perdeu, pela segunda vez consecutiva, a final do Europe Championship. O carrasco voltou a ser a Geórgia.

A expectativa era grande para a final de Paris onde Portugal defrontava a Geórgia com o objetivo de conquistar pela primeira vez o Europe Championship, a segunda competição de râguebi mais importante do Velho Continente. Desde 2005 que Portugal não vence a Geórgia, o empate (18-18) no jogo do Campeonato do Mundo, em setembro do ano passado, permitia encarar esta final com algum otimismo. Pura ilusão. Pela segunda vez consecutiva, os Lobos foram esmagados pelos georgianos (10-36). Com este triunfo, o 16.º em 22 edições, a Geórgia é a sétima melhor seleção europeia e Portugal ocupa a oitava posição, sendo que as seis primeiras são as seleções que participam no Torneio das Seis Nações.

Portugal ficou aquém das expectativas, só que este “XV” não é o mesmo que surpreendeu o mundo do râguebi o ano passado, apenas nove jogadores estiveram na final do ano passado. Mudou a equipa técnica, alguns jogadores fundamentais terminaram a carreira e surgiram caras novas. A preparação para esta competição não foi a mais adequada, a substituição do selecionador foi, no mínimo caricata, e ficou por provar a validade da opção por uma equipa técnica a prazo. Apesar desta disfunção, a seleção entrou começou um novo ciclo com o resultado possível face à entrada de jogadores jovens e sem experiência internacional – é a dor de crescimento entre homens fortes. Se olharmos para o resultado final, não há grande diferença para o que aconteceu em 2023, com Patrice Lagisquet como treinador e com uma seleção muito sólida, que mostrou o “râguebi champanhe” em França. O ano passado, os Lobos perderam a final por 27 pontos de diferença, este ano perderam por 26 pontos.

Renovação

A equipa técnica não foi muito feliz na renovação que fez, isso ficou bem patente no primeiro jogo do Europe Championship, em que Portugal perdeu com a Bélgica (6-10). Depois desse inesperado desaire, a seleção reagiu, mostrou união e redimiu-se com vitórias esmagadoras sobre a Polónia (54-7) e Roménia (49-24, antes da renhida meia-final com a Espanha (33-30).

A aposta na juventude não deu para vencer o Europe Championship com se viu na final com a Geórgia (13.ª do ranking mundial). Portugal começou por perder no aspeto físico, não esteve à altura no jogo tático e afundou-se na inexperiência da sua primeira linha, com alguns jogadores com 19 e 20 anos. O regresso de jogadores mais experientes, como Nuno Sousa Guedes, no jogo decisivo acabou por não ter o efeito desejado, até porque o defesa foi infeliz e teve de ser substituído aos dois minutos por lesão.

No primeiro tempo, os Lobos sofreram grande pressão da linha avançada georgiana. A seleção fez um jogo incaraterístico, a transmissão de bola falhou e não conseguiu criar ocasiões para marcar. Tudo isto possibilitou que a Geórgia tivesse conseguido quatro pontapés de penalidade, contra um dos portugueses, e fosse para o intervalo a vencer (12-3). A primeira parte não foi brilhante e o segundo período foi ainda pior. A Geórgia dominou em todas as zonas do campo e marcou quatro ensaios, contra um de Portugal, no último minuto de jogo.

O técnico português João Mirra admitiu: “Não fomos bons o suficiente. Temos de dar os parabéns à Geórgia, eles foram mais fortes. Não tivemos a paciência para manter a posse de bola contra uma equipa muito física e perdemos muitas vezes a bola no ‘ruck’. Conseguimos o primeiro objetivo, que era chegar aos quatro primeiros. O segundo era alargar o leque de jogadores e o terceiro era ganhar esta competição. Não ganhámos. É uma derrota, mas faz parte”. O responsável pela seleção lembrou ainda: “A primeira semana desta competição foi muito difícil. Devemos dar os parabéns aos jogadores porque mostraram muito caráter, não desistiram e abriram-nos as portas do futuro. O grupo que temos é muito jovem, com mais escolhas isso vai tornar o papel dos treinadores mais fácil no futuro”. Tomás Appleton estava resignado com a derrota: “Não era o resultado que queríamos. Viemos para ganhar e marcar uma posição no râguebi europeu”, começou por dizer o capitão. “Não estivemos num bom nível. Não conseguimos manter a posse de bola e também não marcámos”, continuou. “Antes tínhamos jogadores com mais de 30 anos e muita experiência, agora temos muito jovens e isso faz toda a diferença. Entramos em todos os jogos para ganhar, mas também devemos pensar no futuro. Daqui a dois ou três anos vamos ter uma seleção mais experiente e bem preparada para chegar ao Mundial”, afirmou convicto.

Terminada a participação no Europe Championship, a seleção tem agora alguns compromissos internacionais, nomeadamente a deslocação à África do Sul, em julho, para defrontar a atual campeã do mundo. A seguir realiza mais dois encontros com a Namíbia. Depois, é tempo de preparar a fase de qualificação para o Mundial da Austrália de 2027, que será disputada em 2025 e 2026. O próximo campeonato vai ter 24 seleções, mais quatro do que acontecia até agora, sendo que as quatro primeiras da zona europeia têm apuramento direto (antes eram apenas duas) e a quinta classificada irá disputar um playoff. De notar que a Inglaterra, Irlanda, Escócia, Itália e França estão apuradas, o que facilita a vida à seleção portuguesa.

Irlanda bicampeã

No plano internacional, a Irlanda confirmou a vitória no Torneio das Seis Nações ao vencer a Escócia (17-13) na última jornada e conquistou o 16.º triunfo na principal competição de seleções do Velho Continente. A Irlanda foi a seleção mais forte, ganhou quatro jogos sempre com um ponto bónus, e confirmou que continua a ser a melhor seleção europeia. Os irlandeses renovaram o título, só que desta vez sem o Grand Slam, uma vez que perderam com a Inglaterra. A França derrotou os ingleses na última jornada e terminou o torneio no segundo lugar, a Inglaterra foi terceira, seguida pela Escócia, Itália e País de Gales, que recebeu a “colher de pau”, entregue ao último classificado.