Querida avó,
O Herman José comemora esta semana 70 anos. A minha geração cresceu a ver o Tio Herman nos diversos programas de televisão. O Tal Canal, o seu primeiro programa de televisão, celebrou o ano passado 40 anos, imagina. Hermanias, Herman Enciclopédia, Casino Royal foram alguns dos muitos programas que fazem parte das nossas memórias. Não perdíamos um programa. No dia seguinte, as expressões das personagens do Herman eram usadas por nós na escola até à exaustão. «Uma pomada» – José Esteves, «O verdadeiro artista» – Serafim Saudade, «Eu é mais bolos» – José Severino, «Não havia necessidade» – Diácono Remédios, «Resmas de gajas» – Nelo… E a célebre expressão «Goodbye Maria Ivone» do concurso A Roda da Sorte, recordaste? A “Maximiana” é inesquecível. Quando o Herman veste os personagens de Lili Caneças ou Helena Sacadura Cabral, consegue “ser melhor do que os originais”.
Ao longo destas quatro décadas de carreira, o humorista tem sabido reinventar-se. Semanalmente não perco o programa Cá por Casa. Já tive o privilégio de ir ao programa algumas vezes. Nos bastidores o Herman está sempre a contar histórias divertidas sobre a mãe. No entanto, nunca esquece o pai que adorava música, literatura e cinema. Julgo que viveu o seu amor pelo espetáculo através do filho e ficou para sempre na memória do Herman, como um dos seres humanos mais sérios e afáveis que conheceu. Não sei se tem sido “um pai”, mas tem sido, sem dúvidas, uma fonte de inspiração para as novas gerações de humoristas.
Acredito que o Nicolau Breyner foi um pai para o Herman. Passados, praticamente, 50 anos, o Sr. Feliz e o Sr. Contente continua a fazer parte do imaginário popular em Portugal.
É considerado por muitos como o “pai” do humor contemporâneo em Portugal. Como tal, só podia ter nascido a 19 de março, dia em que se celebra o Dia do Pai, em Portugal.
Herman José é um Espetáculooooo!
Bjs
Querido neto,
Como sabes, gosto muito do Herman e também nunca perco um programa dele.
No entanto, falaste tanto dele que deixaste a avó “sem nada para dizer”.
Mas já que também celebramos o Dia do Pai falo-te de outro grande homem. Já há algum tempo que ando para escrever sobre ele – até porque homens bons não andam por aí muitos.
É um homem que todos conhecemos!
Conheci muito bem o pai dele. Era um grande ator de revista, e conversávamos muito. Claro que o miúdo acabava sempre por vir à baila. E quando eu lhe perguntava se ele já estava a trabalhar, ele ria-se, «deixa-o gozar a vida, ainda é um miúdo… Tem tempo!».
Mas um dia, de repente, o meu amigo morre. Uma morte que ninguém esperava, até porque ele tinha apenas 42 anos e nem estava doente.
E então, também de repente, o filho – o tal que ainda era um miúdo e gozava a vida e não fazia nada – tornou-se, aos 17 anos, cabeça de casal.
Eu nunca vi um miúdo (que era o que ele realmente era), de repente, a fazer tudo e mais alguma coisa para sustentar a família, para que não lhes faltasse nada. Ele trabalhava em tudo o que lhe aparecia, desde breves aparições nos teatros, a entregar coisas em casa das pessoas, onde houvesse qualquer coisa para fazer, ele fazia. E, com todo esse esforço, ele conseguiu não só cuidar da família como tornar-se, desde há vinte anos, o ator mais conhecido do país, à frente de um programa que deve ser o que mais audiências tem.
Mas há ainda mais: as pessoas que vão ao programa levam sempre muitas prendas. E ele aceita tudo, claro, agradece muito – mas nunca fica com coisa nenhuma: oferece tudo a quem mais precisa.
É claro que, a esta hora, já descobriste que estive a falar do ator Fernando Mendes, que aparece diariamente no Preço Certo.
(Ah, e já agora, o pai era o grande ator de revista Vítor Mendes).
Espero que fales com o Herman para irmos ao programa falar do nosso livro.
Bjs