A vingança serve-se fria

Ironia do destino, Santos Silva já não sentará o seu estimado traseiro em nenhuma das cadeiras que serão atribuídas aos parlamentares na próxima legislatura.

Santos Silva foi o pior presidente da Assembleia da República desde a sua existência de quase meio século. Obteve mesmo uma proeza que se pensava impossível de alcançar, a de ter sido ainda pior daquele que o antecedeu nesse cargo.

Fez vista grossa de uma regra sagrada para quem ocupa a posição que lhe foi confiada, a de ser isento e imparcial, devendo tratar todos os partidos, no seu conjunto, e os deputados, a nível individual, por igual.

E esta obrigatoriedade tem como justificação o facto de um deputado, ao assumir a presidência do parlamento, deixa de representar o partido pelo qual se fez eleger, passando a representar todos os que têm assento no hemiciclo.

Quando assentou praça no patamar mais alto da assembleia, Santos Silva recordou-se, de imediato, do seu passado quando militava na extrema-esquerda e de uma das frases que o caracterizou enquanto ministro de Sócrates: é preciso malhar na direita!

E foi precisamente a isso que se dedicou ao longo do período em esteve à frente daquela instituição, malhando a torto e direito em quem se sentava no lado mais à direita da casa a que presidia e na qual deveria ter desempenhado o papel de árbitro e não de cacique de uma das partes.

Tomou o Chega como ódio de estimação, malhando nesse partido apenas por duas razões: por tudo e por nada!

Interrompia, a toda a hora, os discursos dos deputados da direita conservadora, em particular sempre que André Ventura tomava a palavra, não lhes permitindo expôr as suas ideias e procurando impô-las na direcção do seu próprio pensamento.

Ameaçou, por diversas vezes, os deputados do Chega com a expulsão da sala onde os debates decorriam, usurpando, dessa forma, de uma autoridade que não lhe era reconhecida.

Perante um chefe de Estado estrangeiro, quis ser ele a determinar qual o comportamento que seria adequado aos deputados do Chega, espumando de raiva e vociferando contra aquela bancada, cobrindo de  vergonha uma instituição que deveria ser respeitada e obrigando mesmo o presidente brasileiro a procurar pôr água na fervura.

Depois desse triste e ridículo episódio, retirou, abusivamente, os deputados do Chega das comitivas do parlamento em viagens de Estado a países amigos, de igual forma como um Pai castiga um filho, obrigando-o a recolher ao quarto até ordens em contrário.

Num futuro, que se espera breve, quando e se for redigido um manual de como o presidente da AR deve exercer o seu cargo, na parte destinada ao que não deve fazer, basta exemplificar-se com algumas das extemporâneas atitudes de Santos Silva.

Mas, ironia do destino, e acreditando que Deus escreve direito por linhas tortas, Santos Silva já não sentará o seu estimado traseiro em nenhuma das cadeiras que serão atribuídas aos parlamentares na próxima legislatura.

E por culpa do Chega!

Pela primeira vez em décadas, terá de encontrar uma ocupação longe dos corredores do poder dos mais importantes órgãos estatais, poupando aos contribuintes um custo que se avolumou ao longo dos anos, e as suas aspirações presidenciais, que somente ele acreditava terem pernas para andar,  dissiparam-se definitivamente.

Agora sim, é desculpável que espume de raiva e que se feche entre quatro paredes e berre de desespero até as cordas vocais vacilarem!

Maior humilhação, nem o mais imaginativo dos criativos dela se lembraria

A vingança serve-se fria.

André Ventura, a esta hora, certamente já terá aberto uma garrafa de champanhe e brindado com aqueles que lhe são mais próximos!

E com toda a justiça!

Pedro Ochôa