As Guerras – e os tempos de impasse em que vivemos

Qual o destino de Gaza do pós-guerra e quem ousa dar soluções credíveis para o fim deste conflito de décadas? Também aqui todos concorrem para um impasse generalizado.

As duas guerras (Ucrânia e Médio Oriente) que o atual sistema internacional enfrenta, são dois conflitos que vieram despertar o Mundo nesta década para uma realidade que em boa verdade nunca esteve arredada. Apenas e tão só adormecida. São desencontros geopolíticos regionais com enquadramentos e posturas muito diferenciadas no cenário internacional. Em ambos os casos, conflitos que geraram as atuais guerras com elevado grau de destruição e de ameaças à segurança regional e mesmo global. Ambos iniciados de forma declaradamente intencional.

Passados mais de dois anos da invasão militar da Federação Russa na Ucrânia e mais de cinco meses do massacre de 07 de outubro em Israel e do posterior ataque de Israel ao Hamas na Faixa de Gaza, parece que por agora se vive um tempo de impasse estratégico. Na expetativa dos desenvolvimentos militares e na virtualidade dos desenlaces políticos e regionais.

A Europa e a União Europeia (é sempre justo dizê-lo) têm reagido de forma convicta e sempre empenhada face às continuadas ameaças russas. Tem sido assim desde o primeiro minuto pós-24 de fevereiro de 2022. O apoio político à Ucrânia, nas suas múltiplas vertentes, o robusto e direto apoio financeiro e até mesmo militar, têm sido de uma constância irrepreensível. A unidade política e a postura dos Estados europeus não têm vacilado de uma forma geral.

Mas a Europa tem um problema (profundo) de que não consegue escapar: não é uma potência militar credível! E não demonstra neste domínio capacidade, determinação assumida e vontade de afrontar a estratégia agressiva da Rússia, a potência dominante neste espaço de confronto. Apesar das movimentações de centralidade estratégica ambígua do Presidente Emmanuel Macron, da postura reativa do Reino Unido, das diligências da Alemanha e do apressado reforço militar da Polónia, a Europa encontra-se num impasse geopolítico. Não sabe o que há-de e pode fazer. Tem a noção, sem o admitir, que a única forma de conter os desígnios ofensivos da Rússia no espaço europeu, só poderá vir dos EUA.

Neste momento a Rússia e o seu auto-eleito Presidente Vladimir Putin demonstram não temer a Europa, o que reforça ainda mais a ideia que só os EUA podem ser parte decisiva na resolução deste conflito. Mas o atual momento da política pré-eleitoral americana é também ele demasiado fraturante e demonstra fragilidade e uma ausência de estratégia firme e consequente no atual quadro internacional. Temos assim como resultado prático; um acrescentar de mais impasse num conflito que violenta a paz, o direito internacional e a democracia, não só da Ucrânia, mas em toda a Europa.

Também a guerra em Gaza, parece arrastar-se num impasse. Se bem que Israel controle militarmente quase todo o território de Gaza e o Hamas já não tenha capacidade militar ofensiva e não se lhe anteveja reconhecimento político determinante, o drama humanitário da população em Gaza continua sem fim à vista e a libertação de todos os reféns (vivos e mortos) pelo Hamas parece uma miragem. Qual o destino de Gaza do pós-guerra e quem ousa dar soluções credíveis para o fim deste conflito de décadas? Também aqui todos concorrem para um impasse generalizado. Os países Árabes têm surgido pouco empenhados na resolução do conflito, o eixo Irão-Hezbollah-Hamas mantém-se irredutível nos seus ideais de confronto com o Ocidente, os palestinianos sem lideranças, sem unidade e propostas políticas para o futuro, e Israel sem soluções que não passem apenas por garantir e reforçar a sua segurança e defesa imediata, num espaço geográfico hostil.

Por seu lado a Europa sempre dividida sobre as políticas para o Médio Oriente e Israel, limita-se a fazer declarações existenciais de bom senso ao sabor de circunscritas estratégias políticas. Os EUA são por agora os únicos que vão demonstrando capacidade e empenhamento em dar passos rápidos para procurar resolver esta guerra e até mesmo ajustando soluções duradouras para o conflito. Aguardam-se pelos resultados que a nova ronda de visitas ao Médio Oriente do Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, a sexta desde o início da guerra, possa efetivamente trazer.

Mas tal como a guerra na Europa, predomina por agora a mesma fragilidade e ausência de absoluta determinação no espaço internacional e diplomático, até porque um dos objetivos a atingir é evitar o alastramento desta guerra a outras zonas do Médio Oriente. O Líbano é de há muito um barril de pólvora, se bem que Hassan Nasrallah, o experimentado líder do Hezbollah desde 1992, esteja bem ciente dos efeitos que um conflito generalizado poderia acarretar para as suas ambições e para o Líbano em particular.

Mas de novo o que temos, é ainda mais impasse, numa vasta região onde na sua generalidade, o conflito predomina há muitas décadas e onde a paz, a democracia e a liberdade estão por desígnio afastadas.

Em forma de fim de página e em modo de rascunho para a esperança, também se pode afirmar que, das análises históricas recentradas na geopolítica, os impasses nas guerras e nos conflitos não são vetores absolutamente definitivos. E que desta forma, as soluções de restabelecimento do direito internacional, da segurança e autonomia dos Estados, dos povos e da sua liberdade, possam ser também elas uma realidade vencedora, projetada no sistema internacional.

Coronel e especialista em geopolítica
Eduardo Caetano de Sousa | LinkedIn