Marcelo Rebelo de Sousa deve andar com problemas de memória, pois, de repente, deixou de conhecer as fontes de Belém, acreditando eu que será o único.
A história é verdadeiramente hilariante, pois Marcelo sentiu-se na obrigação de desmentir a notícia do Expresso, que saiu em vésperas de eleições legislativas, onde as famosas fontes do seu Palácio garantiam que Marcelo tudo fará para evitar que o Chega entre num futuro governo. O resultado eleitoral surpreendeu tudo e todos, incluindo Marcelo e os seus heterónimos, devido ao Chega ter alcançado mais de um milhão de votos, tendo inclusivamente ganho nove concelhos e ficado à frente da AD em 67.
Com a moral em alta, André Ventura não perdeu a oportunidade de entrar no jogo, tendo declarado à saída do Palácio de Belém, onde foi recebido pelo Presidente esta semana, que não tem quaisquer dúvidas sobre as intenções de Marcelo Rebelo de Sousa. «Posso dizer-vos que o Presidente desmentiu cabalmente e categoricamente que tivesse manifestado qualquer intenção de impedir que o Chega fizesse parte integrante, ou liderante, ou de qualquer forma de governo da República». O circo ficou, obviamente, mais animado, mas tudo melhorou com o comunicado oficial da Presidência da República, talvez o mais curto da história. «Como tem repetidamente afirmado, o Presidente da República não comenta declarações de partidos políticos nem notícias de jornais». Genial, Marcelo não comenta Marcelo! Marcelo Rebelo de Sousa gosta tanto de endiabrar a rapaziada, que acaba por se endiabrar a si próprio. Está-lhe no sangue e não há nada a fazer, mas não deixa de ser insólito que o Presidente queira fazer de todos nós parvos. Quando é apanhado pela ‘brincadeira’ que fez, trata de dizer que não foi ele, foi alguém por ele, mas que não significa que seja o que pensa ou deseja.
Curiosamente, há precisamente um ano, aqui no Nascer do SOL de 26 de março de 2023, escrevi: «Já Marcelo Rebelo de Sousa, o mais divertido da política portuguesa, que é capaz de se fintar a si próprio, tem dado sinais, nas últimas semanas, de que se cansou das fontes de Belém. Essa coisa de fazerem notícias a citar fontes de Belém já teve dias melhores, porque o próprio decidiu, entretanto, dar a cara e não se refugiar nos heterónimos de Belém. Vai daí, aparece na televisão a dar uma entrevista onde diz do Governo o que as fontes de Belém não dizem do almirante, e sempre que agora aparece em público deixou os heterónimos na gaveta. Marcelo agora é Marcelo, não há espaço para lelés da cuca. Fartou-se de ver a desgovernança do Governo e optou por marcar terreno. Se o PRR não for cumprido, Marcelo aparecerá a dizer que bem o avisou e não foram as fontes de Belém que o previram. Reconheçamos que é um jogo perigoso, pois as fontes de Belém sempre o resguardavam».
Agora, a história está um pouco do avesso. Marcelo quer desmentir os seus heterónimos, mas não consegue desmentir Marcelo. Melhor é impossível.
Ah! Quem se ‘tramou’ com esta história foi a excelente jornalista Ângela Silva, que agora não terá fontes de Belém tão cedo. A não ser que Marcelo, ou os seus heterónimos, queiram incendiar ainda mais o circo.
P. S. O homem que passou por várias pastas governamentais de diferentes governos socialistas, um dos socráticos ferrenhos, não irá estar no Parlamento, pois não foi eleito. Augusto Santos Silva, uma figura rancorosa, não deixa saudades e agora pode, finalmente, dedicar-se à carreira académica. Não invejo a sorte dos alunos.