O novo parlamento demonstra que, perduravelmente atrasados, chegamos lá. Ao celebrar os 50 anos de Democracia e Liberdade, o povo português repôs os pontos nos ii, e colocou um fim às preces do PREC, que durante décadas alimentaram o sonho soviético na esquerda neste retângulo.
Em abono da verdade, Pedro Nuno Santos percebeu isso, não há espaço para dramas, a não ser os recorrentes demagógicos e populistas da esquerda. A Assembleia da República apenas se pôs ao diapasão, do resto do continente: Existe agora uma direita (CH, IL), um centro-direita (AD), um centro-esquerda (PS) e uma esquerda (BE, Li, PCP, PAN), nitidamente representados.
Então os extremos desapareceram? Não. Eles estão culcados nas forças que declaro aqui de direita e de esquerda, eles sobressairão e a seu tempo deles afastar-se-ão para tentarem existir autonomamente. O Marcelo Rebelo de Sousa também o entendeu, ao declarar iniciar-se um novo ciclo no quadro da política nacional. As pessoas podem até parecer tolas nas telas das tevês, mas a maioria delas não o são.
A vantagem do centro-esquerda é subsistir unificada num só partido, à mercê de todos estes anos no poder, graças à teia de influências que conseguiu tecer, para a desgraça do país real.
A desvantagem do centro-direita é insistirem na sua génese, de serem um partido à imagem do PS, mas sem conseguir construir as referidas teias, porque de sobremaneira alheado do poder. Subsiste ideologicamente longe das origens e sem acreditar em grande coisa, que não seja mais do mesmo: os tachos.
Aqui a movida natural, será à direita de abocanhar o centro-direita. Mas temos a dificuldade dos aparelhos. O PSd tem 50 anos de experiência, o Chega tem 5 anos.
A direita tem diante de si a possibilidade de crescer e governar, ou de abanar e implodir. Daqui a dois meses com as eleições europeias, terá de confirmar os seus quase 20%, surfando a onda. No entanto estes dois meses com um novo governo, podem ser fatais, se o Chega não souber definir-se muito bem entre a oposição a que Montenegro o remete, e a influência governativa que quer demonstrar. É um jogo de equilibrismo emaranhado, do ponto de vista externo, como sobretudo do ponto de vista interno, procurando concrecionar a massa de novos deputados e dos muitos eleitores, que de momento tem.
Necessita também o André Ventura de crescer, de apelar ao seu sangue-frio, de saber rodear-se de antigos e novos conselheiros, díspares entre si, mas unificadores. Que as suas velas sejam insufladas para desenharem e articularem uma sólida formação interna, pesquisando essa receita de um cocktail ideal, harmonizando a soma das partes, onde cresceu este jovem partido.
Um cubo de Rubik com cinco anos, que chegou à maioridade, um pulo de crescimento que pode pagar-se caro. Mas, contudo, todas as condições humanas e económicas têm ao seu dispor, para se manterem fortes, se unidos. Esse é o segundo desafio.
A terceira prova dos nove para a direita, será o trabalho elaborado durante este ano, que nos separa das eleições autárquicas de setembro 2025. O tecido do poder local é a praia do crescimento seguro, para os movimentos políticos. É aí que podem demonstrar a sua capacidade de serem diferentes, para melhor, que os restantes.
No entanto os eleitores não são fiéis, nem isso se lhes pede, e localmente votam muito seguindo as pessoas que se arriscam a ser candidatos no seu burgo. As siglas perdem a sua força, sobrepondo-se o carater, a credibilização na proximidade dos postulantes a autarcas. Conseguirá a direita e sobretudo o Chega, realizar essa tarefa? É que são muitas, de uma vez só!
Ou seja, é muito para um homem só.
Se para eles não terá sido fácil até aqui, o percurso em diante, vai dizer-lhes o oposto. O difícil será manter, e progredir a partir deste ponto.
O IL são o MRPP (Meninos Rabinos Pintam Paredes) da direita. Apesar de terem mantido os seus oito deputados, não contam para nada, nem têm muito mais, a não ser a sua criatividade e formação de quadros. Uns morrerão na praia do PSD e outros enriquecerão o Chega. A margem e progressão deles, foi atingida, são o novo CDS, que do declínio jamais passarão. A inteligência deles, será sempre benéfica, para onde fluirão.
O sonho. Se a esquerda perdeu o sonho (ler próximo artigo meu) cabe à direita saber nadar, mais que navegar, neste mar do primeiro quarto do vigésimo primeiro século. Goste-se ou não, existem certos dados adquiridos, e outros a remediar. A sustentação de uma sociedade justa passará pela Europa unida. É impensável, que algo de diferente seja forte, no globalismo atual.
À nova direita, cabe-lhe recusar ideologias obviamente atrasadas, e criar ideólogos. O tal cocktail, de que falava, umas linhas atrás. Há exemplos, como o da Itália.
Por cá, o povo disse nas urnas, para os políticos governarem à direita. E o centro-direita teimosamente quer governar sozinho. Se todos souberem trabalhar, essa fatura será paga brevemente.
Os populistas, mudaram de ala. Saibam os remanescentes, olhar o horizonte.