Bancos. Estrutura cada vez mais curta com menos balcões e menos trabalhadores

Os cinco maiores bancos a operarem no mercado nacional contam com cerca de 26 mil trabalhadores e não chegam a ter dois mil balcões, bem longe da realidade de 2010. Digitalização e processos de consolidação contribuíram para esta redução.

Os lucros dos bancos têm sido acompanhados e até impulsionados por uma forte redução das suas estruturas. A fórmula tem passado pela diminuição de trabalhadores e balcões. E os números falam por si. Entre 2010 e 2023, os cinco maiores bancos – Caixa Geral de Depósitos, BCP, BPI, Santander Totta e novobanco – perderam mais de 16 mil trabalhadores e fecharam mais de dois mil balcões (ver infografia).

E esta tendência de emagrecimento manteve-se no ano passado. Mesmo com resultados recorde, as cinco principais instituições financeiras fecharem 2023 com 25 572 trabalhadores e 1852 balcões, uma redução face aos 25 903 trabalhadores e 1878 agências registadas no ano anterior.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi a que mais reduziu o seu número de trabalhadores, totalizando 6243, menos 270 do que no final do ano anterior, mas manteve os 515 balcões.

O BCP, no final do ano passado, contava com 6242 trabalhadores e com 399 agências. O mesmo caminho de redução foi seguido pelo Santander Totta com a saída de 29 trabalhadores passando a contar com 4615, enquanto o número de balcões desceu para 332.

O BPI, que ficou com menos oito postos de atendimento em 2023, perdeu 141 trabalhadores, terminando o ano com 316 agências e 4263 colaboradores.

Em contraciclo está o novobanco que, no final do ano passado, aumentou o seu número de trabalhadores para 4209, acabando o ano com mais 119, apesar de ter reduzido em dois o seu número de postos de atendimento, para 290.

Números que não surpreendem o presidente do Mais Sindicato, António Fonseca, ao admitir ao i que os custos de estrutura reduziram-se bastante nos últimos anos e, por isso, acredita que a margem para manter este caminho “é muito reduzida”, referindo que essa diminuição aproxima-se muito dos 50% entre 2010 e 2024. “Tirando o Montepio que está a fazer essa redução nos últimos dois anos, todos os outros andará nos 50% de redução”.

E acrescenta: “Por aquilo que as administrações nos vão dizendo e também por aquilo que vamos sentindo porque as pessoas estão a chegar ao seu limite de resistência, já que há muitas queixas por excesso de trabalho devido à redução tão drástica que aconteceu. Sabíamos que isto teria de ser feito mais tarde ou mais cedo, mas também me parece que foi tudo feito de forma muito drástica e a situação tem vindo a agonizar-se, aliás tenho sentido que alguns bancos até têm estado a contratar lentamente alguns trabalhadores. Espero e tenho ideia que este caminho de redução não é para continuar, e mesmo que haja algum ajuste, acredito que a atual situação se mantenha estável. Acho que é difícil de descer ainda mais destes valores”.

Face a este cenário, o responsável reconhece que o atendimento que está a ser feito por parte dos bancos está a ser “manifestamente” prejudicada, apontando o dedo a algumas instituições financeiras. “Os bancos não estão neste momento a responder, principalmente o BCP e a CGD que estão a enfrentar muitos problemas nessa área, em que o cliente está a ser prejudicado na sua qualidade de serviço com esta falta de pessoas ao abrigo da digitalização e da automatização só que acho que os bancos andam mais à frente da digitalização e da automatização”, salienta ao nosso jornal.

Os clientes vão aos bancos? Apesar de reconhecer que o sistema financeiro usa o argumento de que os clientes vão menos aos bancos e preferem usar novas ferramentas, como o homebanking, António Fonseca afasta essa realidade. “Esse foi o argumento principal usado pelos bancos, afirmando que não havia necessidade de haver tantos recursos humanos porque os clientes têm hoje uma gama infindável de possibilidades de adquirir produtos sem se deslocarem aos balcões, mas não nos podemos esquecer que ainda existe muita gente que não consegue utilizar esses meios e, como tal, têm de se deslocar aos balcões fisicamente. E os clientes também têm o direito de optar pela forma que lhes dá mais segurança. Há umas pessoas que têm medo e há outras que não sabem utilizar”, salienta.

Opinião contrária tem João Duque. “Mas isso era óbvio que iria acontecer e não tem nada a ver com a rentabilidade dos bancos, não há utilidade social sequer para haver tantos balcões. As pessoas não vão ao banco, eu não vou ao banco e até podem ter as portas abertas 24h por dia durante 365 dias por ano”.

E, mesmo reconhecendo que há uma franja de pessoas, nomeadamente as mais velhas, que não estão habituadas a usar as novas tecnologias, admite que o cenário natural do sistema financeiro é ir fechando e racionalizando. “Antigamente havia uma rede de balcões imensa e nos últimos anos foram-se ajustando porque não há procura. Há os mais velhos que vão levantar a reforma e fazer pagamentos. E até em relação às caixas automáticas temos imensas pelo país, somos dos países da zona euro com mais caixas automáticas por número de habitantes”, diz ao i.

Também João César das Neves lembra que a “banca está a passar por uma enorme transformação tecnológica, com os novos métodos digitais a revolucionar o negócio. É até possível que a banca como a conhecemos venha a desaparecer. Em qualquer caso, o número de trabalhadores e balcões em Portugal é ainda excessivo”.

Um argumento que não convence o presidente do Mais Sindicato. “Os bancos antigamente tinham uma responsabilidade social com a população e era algo que era importante até para as próprias instituições financeiras, mesmo o próprio Banco de Portugal quando dava autorizações de abertura de novos balcões e de novos bancos havia essa preocupação, agora sinceramente não há. Como se costuma dizer, as pessoas são números e os números têm de aparecer e o acionista tem de ter os lucros que são expectáveis”, acrescentando que faz essa crítica à Caixa Geral de Depósitos.

“A Caixa não se devia comportar como um banco tradicional, devia ter um papel fundamental na sociedade e não ser mais um banco comercial que compete com os outros. Para isso não há necessidade de haver um banco público. Sou da opinião que deve existir um banco público para introduzir algum cariz social na nossa comunidade, e se reparar nos números da Caixa reduzem de igual forma os trabalhadores e os balcões como os outros”.

Fusão deu pontapé de partida A compra de bancos levou a uma grande concentração de balcões, às vezes, na mesma rua. “Havia muitos casos desses e até me fazia confusão, em que em cada esquina tínhamos um balcão, porque uns bancos foram adquirindo outros, mudavam os layouts, por isso, é natural que teria de haver um acerto, agora o problema foi a rapidez com que esse acerto foi feito, em que passámos de 8 para 80. Geralmente somos alunos muito disciplinados em determinadas coisas, outros nem por isso”, refere António Fonseca.

Uma opinião partilhada por João Duque. “Com a consolidação do setor havia três bancos em cada esquina, fundiram-se e ficou só um e não é preciso mais. Não iriam ficar os três naturalmente. A própria consolidação do setor bancário tem levado à necessidade de alguma concentração. E como não há procura, alguns balcões estão a ser transformados em espaços de coworking, café, etc. para terem outra utilização. Esta redução do numero de balcões tem a ver com a transformação do serviço e da qualidade do serviço”.

O presidente do Mais Sindicato chama ainda a atenção para o facto de a dimensão dos balcões também ter sofrido uma verdadeira revolução. “Atualmente o paradigma mudou, querem balcões grandes e poucos e quando falamos em balcões grandes não têm nada a ver como se verificava no passado. Quando entrei num balcão em 1990, o BNU tinha quase 100 empregados na rua Augusta, hoje já não existem balcões desses, nem há a necessidade deles, como é lógico e quando falam em agências grandes é com cerca de 20 pessoas”, o que, no seu entender, mostra que “o bancário continua a fazer as mesmas coisas, mas com menos pessoas. Por isso é que alguns jovens chegam à banca e ao final de meia dúzia de meses vão-se embora porque a pressão é muito grande e as remunerações não são muito atrativas. Aliás, a maioria dos bancos para contratar pessoas já nem cumpre os valores que estão escritos nos acordos de empresa porque, caso contrário, não conseguem contratar pessoas. Um jovem licenciado quer ganhar 900 euros? Não quer, como é lógico”, conclui.