O tema da imigração não devia ser dominado pelas posições antagónicas do espetro político, que o transformaram num tabu e numa arma de arremesso. Naturalmente, há boas razões para aceitarmos e desejarmos que haja imigração.
Para a aceitarmos, porque há toda uma história que não podemos esquecer. Durante séculos, os portugueses emigraram para as cinco partidas do mundo. Ainda hoje, encontramos lusodescendentes em todos os continentes. E, sendo assim, não seria justo que, em contraponto, fechássemos as portas a quem quer viver connosco.
Para a desejarmos, porque temos um problema demográfico e, consequentemente, insuficiente oferta de mão de obra. O nosso país não pode viver sem a força de trabalho dos imigrantes, ponto. Esta é uma necessidade evidente e quase consensual, pelo que não vale a pena elaborar sobre isto.
Mas, se é verdade que a imigração ajuda a resolver alguns problemas, também não podemos escamotear que agrava outros, na medida em que coloca novas exigências ao país. Não há, de facto, bela sem senão…
É pouco razoável que se olhe para os imigrantes como uma solução para o défice na segurança social e não se compreenda que, em contrapartida, há um preço a pagar. Basta recordar que, num país que tem uma carência extrema de habitação digna, é inevitável que a entrada de centenas de milhares de imigrantes cause uma pressão acrescida sobre o parque habitacional. Isto no pressuposto de que os imigrantes não podem deixar de ter, como nós, direito à habitação.
Também é inaceitável que se acolham imigrantes para realizar trabalhos que os portugueses não querem fazer. Trabalhos em que, como sabemos, são pagos salários e dadas condições miseráveis que eles, imigrantes, é suposto aceitarem.
Também não vale a pena dramatizar a questão da segurança, real ou percecionada. Por norma, uma comunidade olha a chegada de forasteiros, principalmente aqueles que têm hábitos e costumes diferentes dos autóctones, com alguma desconfiança ou preocupação. E é inútil confundir esse sentimento de pertença com xenofobia.
Por outro lado, se não há acolhimento adequado, surgem fenómenos de marginalidade, associados à necessidade extrema. Ainda há dias, recebi na Câmara os dirigentes da comunidade do Bangladesh na cidade. É uma comunidade numerosa, que reside no Porto há muitos anos e participa ativamente e com inegável sentido cívico na vida económica, social e cultural da cidade. Um dos seus dirigentes foi, inclusivamente, candidato à Assembleia Municipal do Porto nas listas do PS. Entre outros assuntos, como a questão da adequação dos cemitérios aos seus ritos, falaram-me com preocupação dos furtos e assaltos a que as suas lojas e até os seus locais de culto têm estado sujeitos. E não tiveram dúvidas em imputar esses delitos aos imigrantes magrebinos que chegaram à cidade.
Não, não se tratou de uma acusação xenófoba ou islamofóbica. Apenas concluíram o óbvio: haver imigrantes na cidade à espera de legalização, sem qualquer retaguarda e em desespero para sobreviver, tem estas consequências. O que lhes foi pedido foi que nos tentassem ajudar a contactar essas pessoas, para que sejam informadas sobre os restaurantes solidários e as respostas sociais que a cidade disponibiliza.
Em suma, não vale a pena negar a evidência ou fazer processos de intenções. Tal como o turismo, que aporta benefícios mas deixa uma pegada, também a chegada de imigrantes deve ser vista dessa forma. Tentar capitalizar politicamente com o aumento da imigração, instigando ao medo, é tão grave como assobiar para o lado, ignorando a necessidade imperiosa de garantir condições de acolhimento e integração aos expatriados.
Não há bela sem senão
Se é verdade que a imigração ajuda a resolver alguns problemas, também não podemos escamotear que agrava outros. Não há, de facto, bela sem senão…