Eduardo Santos. Um apelido, Conquilhas, ligado ao sucesso

1930-2024. O homem e o seu sonho

A sua história é o espelho de milhões de portugueses que nasceram na província e nos anos 50/60 se fizeram ao caminho da capital em busca de uma vida melhor. Foi pastor durante dois anos, entre os sete e os nove, e quando se iniciou só tinha direito a uma sopa de abóbora ao almoço e outra ao jantar. Quando mudou de patrão, ao fim de um ano de trabalho recebeu «uns tamancos», como contou em 2019 ao jornal i. A mãe, que só via de ano a ano, teve direito como recompensa do labor anual do filho a «meia broa e dois ou três ovinhos», como disse na referida entrevista.

Não guardava rancores desses tempos – «eram tempos de miséria. Não critico as pessoas, era o sistema» – e só com 14 anos soube o que era um quarto e lençóis. «Nunca tinha visto um lençol, sabia lá o que era. Todos os dias tinha de lavar os pés para não sujar o lençol», contou.

Depois voltou para a terra, Moninho, freguesia e concelho de Pampilhosa da Serra, onde ganhou a alcunha de Eduardo Fazendeiro, por se dedicar às hortas e por se ter especializado em enxertar videiras e cerejeiras.

Mas Eduardo Santos não queria passar o resto dos seus dias a tratar da terra e com 16 anos conseguiu avançar para Lisboa. «Já devia ter 16 anos. Eu comprava o Jornal de Notícias, onde havia anúncios a pedir moços chegados da província». Já na capital vendeu carvão e lenha e tentou entrar na Carris como cobrador, mas como tinha 1,62m, ficou a três centímetros de o conseguir.

Depois foi toda uma vida a andar de negócio em negócio, conseguindo recorrer ao estratagema das letras bancárias para ir apostando sempre num futuro melhor. A 10 de janeiro de 1965 abriu finalmente o Eduardinho das Conquilhas, na_Parede, tendo nos anos seguintes conseguido trazer da terra boa parte dos seus familiares, que viriam a trabalhar consigo. O maestro Lopes Graça seria um dos seus primeiros clientes que levava muita gente para lá à procura das conquilhas e, mais tarde, das amêijoas.

Com o sucesso instalado, foi ampliando o negócio, mas o antigo ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, e o antigo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, António Gaspar, convenceram-no a nunca trocar as toalhas de papel pelas de pano. «Não mude, Eduardo. Você é tão feliz nesta casa que entram aqui todas as categorias sociais», diziam-lhe. Conheceu o Brasil, Argentina, Uruguai, EUA, Tailândia, Tóquio, Canadá, entre muitas outras paragens, através da AHRESP. Deixa um pequeno império ligado à hotelaria, muito dele ampliado pelo seu filho Ricardo, que tratava carinhosamente como ‘Amor’. O mesmo amor que o levava a querer um sorriso das crianças a quem dava um chocolate da Regina.