O chefe do Estado-Maior da Armada, Gouveia e Melo, assim como o seu homologo do Exército, Eduardo Ferrão, vieram publicamente defender que deve ser equacionado o regresso do Serviço Militar Obrigatório para colmatar a falta de efetivos nas Forças Armadas.
O Serviço Militar Obrigatório terminou em 2004, embora a decisão tenha sido tomada em 1999 pelo o segundo governo liderado por António Guterres. Voltar a implementar esta medida seria um enorme retrocesso no nosso País.
Se durante a campanha eleitoral que terminou recentemente, um dos temas principais foi o combate à fuga de jovens para fora do País, não faz qualquer sentido colocar a hipótese de os obrigar a cumprir o serviço militar. Além de que nenhum partido abordou essa questão e, portanto, o novo governo não tem qualquer legitimidade política para executar uma mudança tão impactante na vida dos mais novos.
É obvio que existe um problema no recrutamento e na retenção de recursos humanos para as Forças Armadas, mas não devemos cair na tentação de recorrer ao caminho mais fácil que comprometerá o futuro de muitos jovens, assim como a qualidade dos serviços prestados pelas nossas Forças Armadas.
Nós necessitamos de profissionais bem preparados, não de jovens, contrariados, a cumprir um serviço temporário. A realidade hoje é outra, são necessárias competências e especializações adequadas à evolução das novas ferramentas utilizadas num contexto de conflito que não se adquirem num curto espaço de tempo e exigem um elevado investimento em formação. Acresce uma circunstância que não pode ser ignorada, a Europa está num clima de pré-guerra e não sabemos o que o futuro nos reserva.
A solução para contrariar a falta de pessoal, passa seguramente por tornar a carreira militar mais atrativa. É necessário melhorar substancialmente as condições salariais, as condições de trabalho, bem como os meios disponíveis para desenvolverem a sua atividade.
Não duvido que haja muita gente com aptidão e vontade de seguir uma carreira militar, mas a componente financeira e motivacional é essencial para que se voluntariem e permaneçam nas Forças Armadas. A vocação e o amor à Pátria não pagam as contas ao fim do mês.
Portugal, tal como a Europa, têm que encarar a Defesa como uma pasta prioritária. A cooperação militar entre os Estados membros da União Europeia, assim como o caminho para uma desejável autonomia militar da UE tardam em chegar e que também passa pelo investimento na indústria de forma a ter fabrico próprio de munições e equipamentos militares na Europa. Não devemos ficar eternamente dependentes dos EUA, temos que procurar ser cada vez mais autónomos e dar passos rápidos nesse sentido.
Estou convicto que se apostarmos numa mudança de paradigma na área da Defesa, não faltarão pessoas a abraçar o percurso militar e consequentemente teremos militares em maior número e mais bem preparados para os desafios que se avizinham.
É necessária uma visão de futuro e não uma visão redutora que se limite a impor métodos antigos que não trazem qualquer mais valia, bem pelo contrário. Qualquer jovem que seja confrontado com essa questão, não hesitará em dizer… Serviço Militar Obrigatório? Nem pensar!