Inicia-se uma nova etapa na nossa história democrática. O país abre um novo ciclo político, tripolar, para o qual quase ninguém está verdadeiramente preparado.
Com o novo Governo, renova-se a esperança de um país melhor, capaz de dar futuro aos seus jovens e cuidar dos seus idosos, com um sistema de saúde que dê resposta a quem precisa e com uma educação que funcione verdadeiramente como elevador social.
Tivemos 23 anos de governos PS nas últimas três décadas. Reconheçamos que não podemos ignorar as lições e aprendizagens deste tempo.
Repetir mais do mesmo estilo de governação levaria a um agravamento da já séria crise social e económica.
É tempo de mudar. Exige-se do governo português que seja audaz, rápido a apresentar soluções e a tomar decisões. Que assuma compromissos e que honre a palavra dada. E é necessária uma grande capacidade de execução para concretizar essas medidas.
Para tal, é crucial que todos os partidos reconheçam que o tempo das eleições acabou. Agora é tempo de diálogo, de cedência e de negociação. Os portugueses não esperam que os deputados se comportem como inimigos, cortando pontes e capacidade de diálogo ao mesmo tempo que centram as suas energias em truques e táticas. Querem o oposto: que se ponham de acordo para resolver os problemas crónicos do país. A fragmentação do Parlamento, decidida pelos portugueses, é um claro ‘entendam-se!’.
Reitero o que disse na noite eleitoral: estamos perante desafios maiores do que o esperado, um verdadeiro ‘imbróglio’. Essa é a realidade. E não podemos esquecer que, face aos 28,02% da Aliança Democrática, temos os 28% do PS, que neste momento deve atuar como oposição, mas nunca como um obstáculo ao Governo.
Os portugueses estão muito desgastados e descontentes com os erros cometidos. Principalmente, não perdoam a falta de coerência em algumas políticas que criaram divisões entre os portugueses, distinguindo grupos de primeira e de segunda classe.
Desde o fim da ditadura, PSD e PS desempenharam papéis significativos na transição e consolidação da democracia em Portugal. É crucial que aumentem o seu sentido de responsabilidade, pois foram responsáveis pelas principais reformas na Saúde, Educação e Economia, além da adesão ao Euro e à União Europeia. Apesar das suas diferenças políticas, não há dúvida de que o que os une, Portugal, é mais forte do que aquilo que os separa.
É crucial também reconhecer o peso eleitoral do Chega com a devida atenção. Este pode ser um momento de viragem e uma oportunidade para o partido demonstrar consistência. Reforço que a adaptação é necessária para todos os partidos, inclusive os de esquerda e extrema-esquerda, que devem compreender a inviabilidade de propor medidas desfasadas da realidade.
O Chega tem agora a oportunidade de jogar o jogo do sistema político democrático. Para isso, tem de descontinuar as suas linhas populistas. Tem no PCP e no Bloco o exemplo do que pode acontecer no futuro se não se tornar um partido moderado e de construção de alternativa, no lugar de ser simples movimento de protesto.
O Bloco e o PCP sempre foram partidos radicais, promovendo soluções populistas. Se o Chega permanecer no patamar do populismo e da demagogia, terá um fim semelhante ao dos seus gémeos.
À data desta publicação, o leitor já estará a acompanhar a segunda fase do calendário do governo de Montenegro – a posse dos Secretários de Estado. Que se olhe para os problemas com uma nova perspetiva. Acima de tudo, é necessário respeitar o voto dos portugueses, que, em termos gerais, pede cooperação entre partidos. Precisamos de mais política, de mais audácia. Tenhamos a coragem de pensar diferente e de fazer o que é necessário.
Chegou a hora de tornar Portugal um país melhor, recusando o radicalismo, os extremismos e o populismo.
Entendimento e responsabilidade precisam-se
É tempo de mudar. Exige-se do Governo português que seja audaz, rápido a apresentar soluções e a tomar decisões.