Exames nacionais: O espelho das desigualdades

É totalmente diferente responder manualmente a um exame – como os alunos estão habituados a fazer desde sempre – e responder através do computador.

Se no ano passado as provas de aferição em formato digital suscitaram dúvidas, este ano são os exames nacionais do 9.º ano que têm deixado os professores preocupados.

Isto porque, ao contrário do que foi esclarecido no início do ano, alguns diretores e professores consideram que não estão reunidas as condições para os exames serem realizados desta forma, seja por falta de computadores, de internet ou até de tomadas de eletricidade. Os professores estão receosos e os alunos também deviam estar. Até porque estes exames têm um peso de 30% nas notas finais.

Mas as desigualdades e injustiças estão longe de recair só na falta de condições técnicas. Tendo em conta que o resultado destes exames pode ter consequências importantes no percurso escolar dos alunos, como a reprovação do ano, é crucial ter em conta todas as variáveis.

Por exemplo, se o que está em causa nesta avaliação são os conteúdos de Português e de Matemática, será justo que um aluno com menor destreza no uso do computador seja prejudicado? É totalmente diferente responder manualmente a um exame – como os alunos estão habituados a fazer desde sempre – e responder através do computador. Muitos nem saberão onde estão os símbolos matemáticos, poderão ser prejudicados pela dificuldade em ler o texto e responder às perguntas em espaços diferentes, podem não saber usar o teclado com desenvoltura, etc. É difícil que esta diferença não interfira no resultado de alguns alunos. Por outro lado esta novidade pode acarretar uma maior ansiedade e nervosismo que possivelmente condicionarão o desempenho daqueles que estão menos familiarizados com as tecnologias.

Além das diferenças que a prova digital pode evidenciar entre os alunos – além do nível de conhecimentos em cada disciplina – é impossível que não se encontre também uma grande disparidade de resultados entre os alunos que tiveram professor desde o início do ano letivo e aqueles que deixaram de ter professor ou nunca o chegaram a ter. Entre os que deram a matéria solidamente e aqueles que para colmatar ausências a deram em versão relâmpago, para estar toda vista no último dia de aulas. Como haverá diferenças entre aqueles que tiveram oportunidade de ter explicações fora da escola para tentar colmatar esta falha e aqueles que ficaram completamente sozinhos nas aprendizagens.

Avaliar realidades totalmente diferentes pela mesma bitola é sem dúvida a melhor ferramenta para evidenciar e estudar as diferentes realidades entre meios sociais, escolas, turmas e alunos. Mas talvez também a mais injusta para os alunos.

Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
filipachasqueira@gmail.com