Walking Football. Uma abordagem inclusiva ao desporto

Quando pensamos na prática de desporto a partir dos 50 anos, lembramo-nos de atividades como a caminhada. No entanto, desde 2017, os mais velhos têm a oportunidade de praticar Walking Football, uma versão adaptada do futebol aos mais idosos e àqueles que têm mobilidade reduzida. E já existem torneios locais, regionais e nacionais.

Praticar desporto a partir dos 50 anos pode ser uma experiência gratificante e benéfica em muitos aspetos. Por exemplo, pode ajudar a manter a saúde física, melhorando a força muscular, a resistência cardiovascular, a flexibilidade e o equilíbrio. Tal pode contribuir para prevenir doenças crónicas, como doenças cardíacas, diabetes e osteoporose, além de promover a autonomia e a qualidade de vida. À medida que as pessoas envelhecem, é importante adaptar o tipo e a intensidade do desporto às necessidades individuais e às capacidades físicas. Escolher atividades de baixo impacto e que respeitem as limitações físicas pode ajudar a prevenir lesões e promover a segurança durante a prática desportiva. Por outro lado, praticar desporto em grupo pode ser uma ótima maneira de socializar e construir conexões significativas com outras pessoas. Isto pode contribuir para o bem-estar emocional, reduzindo o isolamento social e promovendo um sentimento de pertença e comunidade. Para além destes fatores, o desporto pode oferecer oportunidades para o desafio de cada um, na medida em que é possível definir metas pessoais e alcançar conquistas significativas. Mesmo que seja começar com atividades simples, cada progresso alcançado pode trazer um sentimento de realização e autoconfiança. Também é importante lembrar que, à medida que envelhecemos, o nosso corpo passa por mudanças naturais, como perda de massa muscular e diminuição da flexibilidade. Adaptar os exercícios e atividades desportivas pode ajudar a manter a saúde e o desempenho físico. E, claro, ao praticarmos exercício físico, podemos encontrar as modalidades que nos são mais adequadas e agradáveis. Se calhar, pensamos em desportos como a caminhada, a natação ou o yoga. No entanto, não pensamos no futebol. Talvez porque nunca tenhamos ouvido falar no Walking Football.

Esta constitui uma versão adaptada do futebol tradicional, desenvolvida para permitir que pessoas mais velhas ou com mobilidade reduzida possam participar neste desporto de uma forma mais segura e acessível. Neste formato, os jogadores devem andar em vez de correr, o que minimiza o risco de lesões e torna o jogo mais adequado para pessoas de todas as idades. O Walking Football teve as suas origens no Reino Unido, mais precisamente em 2011, quando surgiu como uma iniciativa para permitir que pessoas mais velhas ou com mobilidade reduzida pudessem continuar a desfrutar do desporto que amavam, o futebol, de uma forma mais segura e acessível. A ideia ganhou destaque inicialmente como uma resposta às preocupações sobre a saúde e o bem-estar dos idosos, incentivando a atividade física e a socialização. Acredita-se que o Walking Football tenha sido desenvolvido por clubes de futebol e organizações comunitárias que reconheceram a necessidade de criar uma versão da modalidade que fosse mais adequada para pessoas mais velhas, que poderiam enfrentar dificuldades com o ritmo rápido e o contacto físico do futebol tradicional.

As regras do Walking Football foram adaptadas para permitir que os participantes jogassem de uma maneira mais segura, proibindo a corrida e desencorajando o contacto físico. Isto tornou o jogo mais acessível e menos propenso a causar lesões, ao mesmo tempo em que ainda proporcionava os benefícios da atividade física, como o aumento da aptidão cardiovascular, a melhoria da força muscular e a coordenação. Desde então, o Walking Football ganhou popularidade não apenas no Reino Unido, mas em todo o mundo, com muitas ligas locais, torneios e programas de incentivo a serem criados para promover a prática do desporto a partir dos 50 anos e entre aqueles com mobilidade reduzida.

Em Portugal, o Walking Football também tem ganhado popularidade como uma forma inclusiva e saudável de praticar desporto. Assim como noutros países, o Walking Football em Portugal segue as mesmas regras adaptadas para garantir a segurança e o conforto dos participantes. Existem várias organizações e clubes no país que oferecem oportunidades para jogar Walking Football. Estes clubes, muitas das vezes, organizam sessões regulares de treino e jogos, tanto para iniciantes como para jogadores mais experientes. Além disso, há também torneios e eventos que reúnem jogadores de diferentes regiões para competir e socializar.

Em 2017, o Walking Football chegou a Portugal por meio da Fundação Benfica, que convidou a RUTIS – Rede de Universidades Seniores para se juntar ao projeto. No ano seguinte, foi lançado o programa SWEET Football, com o intuito de incentivar a prática regular de atividade física entre pessoas diagnosticadas com diabetes tipo 2. Esta iniciativa constituiu uma parceria entre a Portugal Football School (PFS) e o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), financiada pelo FIFA Research Scholarship 2018. O programa teve a duração de 12 semanas e baseou-se em sessões realizadas três vezes por semana, reunindo 32 doentes do Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Oriental, homens diabéticos com idades entre os 50 e 70 anos. Participaram no Walking Football, sendo que o SWEET Football foi visto como uma forma de prescrição médica para os mesmos, além de servir como uma maneira de introduzi-los à prática desportiva.

Durante cada sessão do SWEET Football, os participantes, todos do sexo masculino, foram submetidos a uma avaliação de quão divertida foi a atividade, bem como do seu nível de cansaço físico ao realizar os exercícios. Estes voluntários participaram em três sessões semanais de exercícios, cada uma com duração de 60 minutos, e foram acompanhados por um treinador de futebol, um fisiologista do exercício e um enfermeiro. Durante todas as sessões, foram realizadas avaliações da glicemia capilar, pressão arterial e frequência cardíaca, além de uma observação dos pés dos participantes. Também desde 2018, têm sido organizados vários Torneios Nacionais de Walking Football em território nacional. O primeiro ocorreu entre maio e junho de 2018, seguido pelo segundo, realizado de novembro de 2018 a junho de 2019. Desde então, foram organizados diversos torneios no continente, Madeira e Açores. Os torneios são divididos em três categorias: Locais, Regionais e Nacionais. Os torneios locais são realizados entre equipas próximas, sem uma agenda fixa e sem apoio logístico da RUTIS. Os torneios regionais ocorrem de novembro a junho, em várias localidades do país, seguindo uma programação previamente definida pela RUTIS. Estes torneios envolvem entre 4 a 10 equipas e podem incluir jogos competitivos, lúdicos ou ambos, dependendo do número e tipo de equipas inscritas.

Durante os torneios, todos os participantes recebem medalhas, e as equipas vencedoras são premiadas com troféus. Estes eventos não apenas promovem a prática do Walking Football, mas também proporcionam oportunidades para socialização, competição saudável e promoção da atividade física entre os mais velhos. Mesmo para os jogadores que têm experiência anterior em futebol, é necessário adaptarem-se a novas regras ao praticarem Walking Football. A regra mais fundamental é a proibição de correr, exigindo que um dos pés permaneça sempre em contacto com o solo. Além disso, há um limite de toques na bola para cada jogador antes de passá-la, e ela não pode ser jogada acima de uma certa altura, dependendo das regras locais. O contacto físico também é minimizado e as regras podem variar de acordo com a região onde o desporto é praticado. Para padronizar essas regras, a federação inglesa formalizou um livro de regulamentos para o Walking Football. Tal inclui definições claras de ‘andar’ e penalidades para aqueles que correm, como conceder um pontapé livre ao adversário. Apesar das adaptações nas regras, o jogo mantém o entusiasmo e o objetivo de marcar golos, proporcionando uma experiência gratificante para os participantes.

É este o caso de Luís Afonso, de 57 anos, e João Onofre, de 68, ambos a representarem O Tasco – Não Venhas Tarde e A Primavera do Jerónimo, em nome da Casa do Concelho de Arcos de Valdevez em Lisboa. Com o primeiro entrevistado, a conversa começou com uma discussão sobre o Walking Football. «Esta versão do jogo tem regras modificadas, como a proibição de correr, e é jogada num ritmo mais lento, o que a torna acessível para uma ampla faixa etária», explica Luís Afonso, explicando que a equipa a que pertence treina semanalmente e participa em encontros organizados pela Associação de Futebol de Lisboa. «Uma das principais vantagens é o aspeto físico e social da prática. Perdi oito quilos num ano, melhorei a mobilidade e qualidade de vida. Para além disso, ainda existem a interação social e o sentimento de existência de uma comunidade», frisa.

«Gosto de que haja inclusividade nesta modalidade, pois permite a participação de pessoas de diferentes idades e níveis de habilidade. Também há competitividade, mas o resultado não é o aspeto mais importante da experiência», sublinha, indo ao encontro da perspetiva do colega João Onofre.  «Quando surgiu a oportunidade do Walking Football, que como o próprio nome sugere, é futebol caminhado, percebemos que seria uma modalidade ideal para pessoas como nós, já com uma certa idade. Envolvi-me na modalidade com um grupo de amigos e agora temos treinos semanais e participamos em torneios organizados», diz. «Quanto à modalidade, acho-a ótima para pessoas com mais de 50 anos, até mesmo para quem tem mais de 60 anos e por aí fora. Para quem gosta de desporto e não o quer praticar sozinho, é perfeito, pois é coletivo e mantém-nos entretidos. Preenche uma lacuna que existia», diz, adicionando que também existem jogadoras do género feminino, bem como pessoas que nunca praticaram futebol antes e estão a começar agora.

«Em relação à nossa equipa, temos pessoas de diferentes idades, a partir dos 50 anos, e todos se envolvem de alguma forma. É mais sobre divertirmo-nos em conjunto do que sobre o resultado do jogo. Todos se empenham, pois quem não está comprometido acaba por se afastar. Quanto aos treinos, só conseguimos treinar uma vez por semana, aos sábados de manhã, devido ao facto de muitos ainda estarem no mercado de trabalho. Estamos a tentar criar um treino adicional durante a semana, após o expediente, mas ainda não conseguimos», conta o jogador que sempre praticou desporto, como andebol, mas atualmente dedica-se ao Walking Football. «Quanto aos benefícios físicos, percebo melhorias em várias áreas devido aos movimentos específicos praticados no Walking Football. A prática deste desporto, juntamente com outros cuidados, como alimentação adequada, contribui para a melhoria da saúde», afirma, apelando à divulgação da modalidade e à disponibilização de mais espaços para treino.