Restauração.  Falta de trabalhadores leva a horários mais curtos e a menos dias abertos

A restauração conta com mais de 230 mil trabalhadores, mas o número continua aquém das necessidades. Ana Jacinto diz que as últimas estimativas apontavam para a necessidade de mais 40 mil e afirma que solução não passa só por aumentos salariais.

Só o setor da restauração, em 2023, empregava cerca de 239.100. Mas se a esta atividade juntarmos o alojamento turístico temos no canal Horeca quase 330 mil pessoas empregadas. Um número que, de acordo com Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, ainda assim, fica aquém das necessidades do mercado. Uma carência que, segundo a responsável, foi agravada com a pandemia com a saída de muitos trabalhadores para outras áreas de atividade, daí a restauração continuar a ter “um défice muito grande de trabalhadores”.

Essa falta de funcionários é visível pela redução dos horários de trabalho de funcionamento dos estabelecimentos ou, até mesmo, pelo encerramento dos restaurantes em alguns dias da semana. “Como não há pessoas para trabalhar há estabelecimentos que, por exemplo, deixaram de funcionar ao sábado ou domingo ou à segunda-feira para facilitar e rentabilizar as equipas ou então resolvem só abrir aos almoços ou aos jantares. O mesmo acontece com o encerramento das cozinhas mais cedo porque não dá para chegar a todos os horários”, refere ao i, Ana Jacinto, lembrando que os últimos dados apontavam para uma falta de cerca de 40 mil trabalhadores”.

E não hesita: “Está tudo relacionado com a falta de equipas. O horário de funcionamento dos estabelecimentos está a mudar muito em função das dificuldades que os empresários têm de estabilizar as equipas nos espaços. Havia estabelecimentos que funcionavam todos os dias e tinham só um dia de folga e passaram a ter dois dias até para permitir aos trabalhadores também eles terem dois dias de folga, que é uma questão que os colaboradores hoje valorizam muito mais e se é preciso reter trabalhadores nas empresas então há que ajustar as empresas às preocupações de quem trabalha. Além disso, esta nova geração também não está disponível para trabalhar de certa maneira e em certas condições”. 

No entanto, admite que alguns colaboradores que saíram durante a pandemia já voltaram a trabalhar para o setor e, por outro, as empresas também têm vindo a recorrer a trabalhadores estrangeiros. E Ana Jacinto afasta que a solução em termos de reforço de contratação passe por aumentos salariais. “As empresas já tiveram necessariamente de fazer um grande esforço em termos de aumentos salariais. Por um lado, por culpa do aumento do salário mínimo, já que essa subida empurrou todas as categorias por outro lado, como era necessário arranjar trabalhadores, as empresas foram obrigadas a pagar mais e melhor”, acrescentando que, “as empresas estão a fazer esse grande esforço, coisa que não aconteceu por parte do Estado”, afirmando que os encargos fiscais que recaem sobre o rendimento do trabalho continuam elevados. “Aquilo que o trabalhador leva para casa poderia ser muito mais se a carga fiscal não fosse tão alta. Na prática, as empresas estão a fazer este esforço sozinhas e o trabalhador acaba por não ter um aumento significativo ao final do mês”, salienta ao nosso jornal. 

Um problema que, de acordo com a responsável, irá agravar-se com a chegada à época alta, já que é previsível que a procura aumente. E, apesar de ainda não ter dados concretos em relação ao verão, refere que a estimativa “é que seja um ano similar àquilo que foi o ano passado”, reconhecendo, no entanto, que este setor “é sempre muito volátil e está dependente de muitos fatores”.