As madraças que nos querem impor

Os fanáticos das madraças tipo CES querem impor a censura à força.

Há dias estava a ver um debate na SIC Notícias e fiquei verdadeiramente banzado com os argumentos usados por uma jornalista, calculo que ativista da causa em questão. Em confronto com Paulo Otero, um dos conservadores que escreveu um texto no polémico livro Identidade e Família, a jornalista defendia que Otero, e outros, não podem escrever o que pensam porque isso pode criar «alarme social». O professor catedrático não perdeu a ocasião de explicar à sua ‘adversária’ que isso chama-se censura, algo que foi banido com o 25 de Abril. E é aqui que muita da discussão deve ser centrada, pois os ‘donos’ da verdade absoluta, e única, acrescente-se, defendem que só o seu pensamento é válido e que os outros deviam ser obrigados a ficar calados para todo o sempre. Calculo que esta cultura seja a vigente na madraça do Centro de Estudos Sociais (CES), em que os seus gurus tentam expandir os seus ideais ao ensino básico. Por isso, não aceitam que os bebés tenham sexo, pois isso é uma construção retrógrada, e que as lojas tipo Chicco deviam ser proibidas de terem o azul para os meninos e o rosa para as meninas. Já ouvi isso da boca de um amigo e fiquei quase sem resposta. Mas lá tentei explicar que as pessoas têm o direito de pensarem de forma diferente, e de que as crianças quando nascem já têm sexo. Quanto à mudança de sexo, a história, como sabemos, tem sido de uma estupidez incrível, quase ‘obrigando’ miúdos a trocarem de sexo, muito antes de fazerem 18 anos e de terem o seu pensamento formado. Quando adultos, que façam o que muito bem entenderem.

Nos últimos anos, diga-se o que se quiser, tem existido uma sovietização da sociedade portuguesa em temas como os costumes, o pensamento e tudo o que tem a ver com a política de cancelamento, esse novos ditadores que sonham com fogueiras de livros, filmes e músicas. Sabemos bem o que querem esses gurus da sovietização da sociedade portuguesa. Passos Coelho aceitou fazer a apresentação do polémico Identidade e Família e caiu-lhe tudo em cima. É certo que alguns autores defendem posições verdadeiramente cavernícolas, apesar de algumas frases até terem sido descontextualizadas. Mas qual o problema de alguém defender uma ideia contrária à nossa? Eu, por exemplo, sou a favor do aborto e da eutanásia, mas aceito como natural que outros sejam contra e que queiram discutir o assunto, apesar de achar que no caso do aborto seria um retrocesso civilizacional de décadas. Também defendo o casamento de homossexuais, a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, a legalização da prostituição e das drogas, mas não quero que a escola ensine que os bebés não têm sexo (será que os elevaram à categoria de anjos?) ou como é que crianças devem fazer sexo anal – esta foi-me contada por um amigo do BE, que até ele próprio achou ‘demais’ apresentarem-se com um clister na escola…

P. S. Como dizia, e muito bem, um amigo meu, outra coisa irritante é esta cedência a utilizar a designação cis, como já o citei no passado. Ser trans é a exceção à regra da imensa maioria dos seres humanos. É-se trans ou não se é trans. Há um termo para designar a exceção, mas não faz qualquer sentido arranjar um novo nome para a regra. Não é a minoria que condiciona ou impõe o nome da maioria. Há os tatuados e os não tatuados, não há os tatuados e os ‘alérgicos à tatuagem’, nem os tatuados e os ‘CPL’ (conformados com a pele limpa). Assim como não há os vegan e os ‘CAT’ (conformados com a alimentação tradicional). Alinhar na moda idiota do cis é começar logo a ceder aos fanáticos do politicamente correto. Deixemos o cis para os radicais do extremismo cultural woke. Trans e não trans chega bem. E esclarece.

vitor.rainho@nascerdosol.pt