Federação. ‘Nuno Lobo é a pessoa certa’

Há um amplo movimento associativo para levar Nuno Lobo à presidência da Federação Portuguesa de Futebol. Está aberta a corrida à sucessão de Fernando Gomes.

A última reunião das associações distritais e regionais de futebol, realizada em Coimbra, pode ter sido o ponto de partida para a mudança no futebol português. Nesse encontro, Amadeu Poço, presidente da Associação de Futebol da Guarda, sugeriu que Nuno Lobo, líder da Associação de Futebol de Lisboa (AFL), concorresse às eleições para a presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que terão lugar em dezembro deste ano. A ideia foi bem aceite entre os seus pares e o Nascer do SOL sabe que a candidatura de Nuno Lobo é praticamente irreversível, já que uma larga maioria das 22 associações distritais está ao lado do atual presidente da AFL, o mesmo acontecendo com várias associações de classe.

O desafio lançado pela associação da Guarda funcionou com uma bola de neve no meio associativo e Maurício Toledo, presidente da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo, deu voz a esse movimento. O responsável pelo organismo que tutela o futebol nas ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa manifestou total apoio a Nuno Lobo. «Gostaríamos que ele avançasse porque é a pessoa em que a associação se revê. Espero que seja o futuro representante do futebol português», afirmou de forma convicta ao Nascer do SOL. O dirigente destacou ainda as qualidades do responsável da associação de Lisboa: «O Nuno conhece muito bem a realidade das associações e as dificuldades que têm para organizar as competições. Além disso, preocupa-se em ajudar e sabe estreitar pontes e dialogar. Identificamo-nos muito com ele, penso que é a pessoa certa para o lugar».

Maurício Toledo enuncia as mais-valias que Nuno Lobo pode trazer ao futebol nacional, caso seja eleito. «Em minha opinião, é fundamental continuar o trabalho realizado pelo atual presidente, fazendo algumas reformas, nomeadamente naquilo que são os quadros competitivos da segunda e terceira divisão, sem colocar em causa o sucesso conseguido pela atual direção. Se o Nuno vencer as eleições penso que vai ter um diálogo mais próximo das associações naquilo que são os quadros competitivos, as alterações aos regulamentos e as decisões que envolvem o futebol amador, que é fundamental para a transformação do futebol em Portugal. Penso também que vai continuar o trabalho de inclusão social e igualdade de género», disse com otimismo.

Em relação ao futebol profissional (primeira e segunda divisões), Maurício Toledo é de opinião que a FPF e a Liga Portugal devem definir a melhor estratégia ouvindo todos os clubes, e aposta em Nuno Lobo para o fazer: «As duas direções devem ouvir todos os clubes e dialogar, sem arrogância ou vaidade, sobre o que é melhor para o futebol, deixando de lado interesses próprios». E lançou um alerta: «Os jogadores profissionais realizam um elevado número de jogos por época, o que é uma preocupação do sindicato de jogadores. Para aliviar essa carga de jogos, devia-se acabar com a Taça da Liga, que tem vindo a perder importância e já não é a festa que se pretendia. Esta é a minha opinião, não sei se é a opinião do Nuno Lobo».

O presidente da associação de Angra do Heroísmo considerou que «as próximas eleições para a Federação são um momento importante e decisivo para o futebol português». Bem conhecedor da realidade nacional, não teve dúvidas em afirmar que «o nosso futebol está tão sensível que tem de ser repensado. Tem de haver um trabalho de continuidade e um diálogo sem arrogância sobre o que é o melhor para os clubes, atletas e árbitros. Só assim conseguiremos aumentar a qualidade do nosso futebol, sabendo que as seleções nacionais já atingiram o topo, agora falta-nos potenciar os nossos campeonatos».

Proença sem condições

Nuno Lobo pode ter um opositor na corrida eleitoral à FPF. Pedro Proença estará a preparar a candidatura há já muito tempo, pois é sabido que o lugar de Fernando Gomes é um dos objetivos de carreira do atual presidente da Liga Portugal. Estes nomes são (quase) certos, mas nos bastidores do futebol continua a falar-se da possibilidade (remota) de Luís Figo ir a jogo, e há outros ilustres personagens ligados de forma indireta ao futebol que (ainda) pensam no assunto. Uma coisa é certa, neste momento não existe qualquer candidato oficial, mas o próximo ato eleitoral está a mexer, e de que maneira, com os bastidores do futebol português. Há quem veja em Nuno Lobo o sucessor natural do atual presidente Fernando Gomes e uma alternativa à eventual candidatura de Pedro Proença que, nos oito anos à frente do organismo que realiza as competições profissionais, criou alguns anticorpos.

Sobre a eventual candidatura do presidente da Liga, Maurício Toledo considerou que Pedro Proença não tem condições para avançar, e explicou: «Não acredito que se candidate à presidência da Federação Portuguesa de Futebol. Ele tem um compromisso com os clubes até 2027 e não pode faltar a esse compromisso», fez questão de lembrar, adiantando em seguida que «os clubes confiaram-lhe a resolução de assuntos fundamentais para o futebol profissional e tem de os resolver. Os clubes acreditaram nele e, a menos que estivesse a fazer bluff, tem uma missão a cumprir na liga». O dirigente açoriano disse também que Proença,  «se fosse candidato e vencesse as eleições, teria de abandonar a Liga Portugal e aqueles que confiaram nele». »Há pessoas próximas de Pedro Proença que têm passado a ideia de que vai concorrer, mas ele sabe que tem uma obrigação para com os clubes profissionais. As pessoas quando se comprometem com alguma coisa têm de deixar a sua marca», frisou. Segundo o presidente da associação de Angra, o apoio dos clubes não é consensual «quando há um clube que lança o nome de Pedro Proença para a presidência, logo a seguir há dois que partem a ‘loiça toda’» e justificou os motivos: «As coisas não podem ser feitas assim, ele tem de cumprir com a sua palavra».

Entre os vários trabalhos que Proença tem entre mãos está a centralização e venda dos direitos televisivos e multimédia dos jogos da primeira liga, prevista para entrar em vigor em 2028/29, e que pode ser a sobrevivência dos clubes portugueses. Até final da próxima época, a Liga Portugal tem de apresentar ao Governo uma proposta de projeto de lei com as condições de centralização, o seu objetivo, a forma como vão ser vendidos os direitos e o modelo de repartição financeira pelos clubes.

E Maurício Toledo deixou um aviso a Pedro Proença: «Se fizer tábua rasa do acordo que tem com os clubes e avançar, isso pode não ser bom para ele. Quando se tem um ego demasiado grande a derrota é quase certa e, de um momento para o outro, pode não haver Liga, nem Federação».

O dirigente associativo nunca apoiaria Pedro Proença, considerando que ele deve manter-se à frente da entidade que organiza as competições profissionais no nosso país, mesmo reconhecendo que o trabalho realizado deixa a desejar. «A Liga portuguesa tem vindo a perder qualidade, não estamos no caminho certo». E faz uma comparação: «O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, quando assumiu o cargo delineou uma estratégia e concretizou os objetivos. A sua missão está cumprida e vai ser o melhor dirigente do futebol português».

Maurício Toledo avançou que «o que se espera do presidente da Liga é que cumpra os objetivos traçados. O Pedro Proença ainda não cumpriu tudo aquilo que prometeu, mas ainda vai a tempo de o fazer. Se não conseguir, então, é porque não tem a capacidade que as pessoas pensam que tem». O dirigente açoriano disse ainda que uma mudança na direção da Liga Portugal teria consequências nefastas para o futebol: «O novo presidente iria ter a sua planificação e estratégia e isso iria levar tempo, e há temas importantes a tratar até à época 2027/28».

O colégio eleitoral que vai escolher o futuro presidente da FPF é composto por 84 delegado,s que vão eleger, em Assembleia Geral Eleitoral, o presidente, a Direção e a Mesa da Assembleia Geral da FPF. Esses delegados representam as associações distritais, os clubes e sociedades desportivas e as associações de classes. Para ganhar as eleições é fundamental ter o apoio generalizado das associações distritais.