Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente, não o professor, foi ao liceu Camões e, perante um auditório de cerca de 800 alunos, proferiu uma lição subordinada ao lema da moda, “os 50 anos do 25 de Abril”, matéria de que vamos ser massacrados, nestes próximos tempos, a toda a hora.
A determinado momento, foi interrompido por 3 energúmenos púberes que, em nome de uma causa de cujos contornos evidenciam um desconhecimento absoluto, desrespeitaram o palestrante e incitaram mesmo a que todos os restantes alunos abandonassem a sala, para que demonstrassem, com esse acto hostil, que não se revêem no presidente que se apresentava perante eles.
Marcelo, o professor, teria expulsado essas criançolas da sala, por desrespeito para com o docente e por incitamento a uma inusitada revolta estudantil, e o estabelecimento de ensino ter-lhes-ia movido o competente processo disciplinar.
Mas Marcelo, o presidente, aplaudiu o gesto daqueles meninos mal-educados, pediu mesmo a todos os outros estudantes que brindassem os arruaceiros colegas com uma salva de palmas e foi ao cúmulo de lhes passar o microfone para as mãos, para que estes pudessem continuar a disparatar à vontade.
E Marcelo, o presidente, foi ainda mais longe, elogiando a atitude dos desordeiros e concluindo que aquele tipo de comportamento somente é possível graças ao 25 de Abril e que em ditadura teriam sido presos.
Marcelo, o presidente, quis despir as vestes presidenciais e voltar a envergar a fatiota de mestre, mas, ao contrário de procurar ensinar os seus discípulos a encontrarem o caminho correcto para lidar com a liberdade que lhes foi oferecida, esforçou-se por lhes meter na cabeça que, em nome dessa mesma liberdade, tudo é legítimo e desculpável e que não há qualquer tipo de fronteira entre a responsabilidade e a irresponsabilidade, a educação e a má-criação, o respeito pelo próximo e a agressividade perante um semelhante e o saber e a ignorância!
A mensagem que Marcelo, o presidente, acabou por transmitir, foi a de que a um jovem tudo lhe é permitido, nomeadamente enxovalhar a mais alto magistrado da Nação, sem que dessa afronta resulte uma punição de qualquer espécie.
Marcelo, o professor, ter-se-ia obrigado a corrigir a infantilidade dos seus pupilos, zelando para que o castigo que lhes seria aplicado os orientasse para a vida e os fizesse crescer ao longo do traçado que ainda têm de percorrer até atingirem a idade adulta.
Marcelo, o presidente, incentivou-os a permanecerem crianças e levianos até ao último dos seus dias.
Esta é a república que nos foi imposta há um século. O pior dos regimes populistas, no qual o chefe de estado, em vez de procurar granjear o respeito e consideração dos seus compatriotas, não hesitando em deixar uma marca de autoridade sempre que confrontado com ofensas ou ameaças ao seu papel de primeiro timoneiro da Nação, apenas se preocupa com os índices de popularidade, permitindo-se, para o efeito, que o cargo que jurou defender e honrar seja alvo da chacota e do desprezo por parte de um qualquer alucinado.
E este é o Portugal de Abril. Um país em que a liberdade se confunde com libertinagem e em que a completa ausência de respeito pelos mais velhos, e, portanto, mais sábios, começa logo em casa, questionando-se o poder dos pais em decidir o rumo de educação que os filhos devem seguir; se prolonga depois para a escola, pondo-se em causa o papel dos professores dentro e fora das salas de aulas; estende-se mais tarde para o mercado de trabalho, contrariando-se a jurisdição inerente a quem desempenha funções de chefia; e acaba na afronta às leis que regulam a vida em sociedade e no desprezo pelas essenciais instituições estatais, em particular por aquelas a partir das quais se emanam os diversos poderes consagrados constitucionalmente.
Os insubordinados aprendizes que desafiaram Marcelo não conseguiram levar a sua a avante, porque nenhum dos restantes colegas, entre oito centenas, lhes seguiu os passos, acompanhando-os no extemporâneo abandono da sala onde decorria a lição presidencial, facto demonstrativo de que estes movimentos são praticados por minorias sem expressão.
Confesso, no entanto, que se estivesse presente naquele local teria sido tentado a responder positivamente ao repto lançado por aqueles falsos ambientalistas, porque, realmente, não me sinto representado por este presidente.
Nem por nenhum dos que o antecederam, diga-se em abono da verdade!