Portugal não escapou ao crescimento do populismo nas últimas eleições legislativas, a exemplo do que tem sucedido em diversos países europeus, obrigando a uma reorganização parlamentar como nunca se assistiu. Para além disso e pela primeira vez, diversos estudos do Conselho Europeu perspetivam a possibilidade de a extrema-direita conseguir uma maioria com a direita no Parlamento Europeu, podendo comprometer decisões europeias em matéria do clima e da política externa, para além de incentivarem, ainda mais, consideráveis retrocessos nas políticas de imigração.
O mais recente estudo do ECFR, European Council on Foreign Relations, baseando-se em sondagens realizadas nos 27 estados-membros da União Europeia, anuncia uma acentuada viragem à direita, estando os partidos da direita populista e antieuropeia no topo das sondagens em nove estados-membros, nomeadamente na Áustria, Bélgica, República Checa, França, Hungria, Itália, Países Baixos, Eslováquia e Polónia, podendo ficar em segundo ou em terceiro lugar noutros nove países, ou seja, na Alemanha, Bulgária, Estónia, Finlândia, Letónia, Portugal, Roménia, Espanha e Suécia. Neste sentido, o impacto no apoio à Ucrânia, no Acordo Verde Europeu ou no futuro do alargamento da UE, assim como na capacidade da Comissão Europeia e do Conselho em cumprir as suas promessas, será significativo ou mesmo decisivo.
Se juntarmos a este contexto a possibilidade de um regresso de Donald Trump à presidência dos EUA no final deste ano, facilmente se compreende como a Europa perderá por completo qualquer veleidade de intervenção no cenário mundial, lembrando a letra de Sérgio Godinho para o programa televisivo A árvore dos Patafúrdios, quando refere: «Por incrível que pareça, não há nada que não nos aconteça». Mesmo vivendo apenas em redor da sua árvore, tudo acontecia aos patafúrdios, e é por esse motivo que se torna necessário reagir.
Em pleno mês das comemorações dos cinquenta anos do 25 de Abril de 1974, os partidos políticos do espaço tradicional democrático têm de assumir as suas responsabilidades, trazendo esperança a uma sociedade carente de estabilidade e de confiança institucional. Tal como se assistiu na novela da eleição para a figura do presidente da Assembleia da República, começando logo mal, esta realidade não permite perdas de tempo para se definir quem lidera a oposição. Quem o fizer, estará a abusar do taticismo e do pensamento exclusivamente partidário.
De modo a prevenir que o mesmo suceda na Europa ou na governação portuguesa, com consequências desastrosas continentais e nacionais, a melhor forma de impedir o crescimento do populismo, que só procura o caos e apenas cresce na desordem, passa pelo entendimento parlamentar nas principais matérias entre os partidos democráticos. A disponibilidade anunciada pelo líder do Partido Socialista para um amplo consenso político, de modo a alcançar-se um acordo capaz de encontrar soluções num considerável conjunto de matérias, foi um primeiro passo no sentido correto. Que os próximos tempos permitam a sua concretização.
Escritor, Advogado e Presidente do Estoril Praia