A Swazi Secrets é uma investigação transfronteiriça que revela o potencial do Essuatíni como parte da economia clandestina de contrabando de ouro na África Austral. Baseia-se numa fuga de mais de 890 mil registos da Unidade de Inteligência Financeira do Eswatini, partilhados pelo Distributed Denial of Secrets com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ). A investigação, liderada por 38 jornalistas de 11 países, destaca a possível conivência de figuras próximas da família real com atividades ilícitas, incluindo o apoio a um banco numa disputa com o Banco Central do Essuatíni.
Os documentos revelam uma conexão entre o país e o contrabando de ouro na região, com milhões de dólares a passar por uma empresa de refinação de ouro no Essuatíni e depois para o Dubai. Esta empresa, fundada por um genro do rei Mswati III, levantou preocupações sobre evasão fiscal e movimentação de fundos ilícitos. A investigação destaca o estilo de vida luxuoso da família real, em contraste com a pobreza generalizada entre aqueles que consideram seus súbditos, evidenciando a alegada insensibilidade do monarca para com o seu povo.
O Rei Mswati III do Essuatíni procurou impulsionar o crescimento económico através de uma Zona Económica Especial (ZEE) chamada Parque Real de Ciência e Tecnologia. No entanto, as promessas de desenvolvimento e emprego não se concretizaram, deixando a área deserta e os antigos moradores deslocados sem compensação adequada. A população, predominantemente pobre, enfrenta altos níveis de desemprego e condições de vida precárias, enquanto a família real ostenta um estilo de vida luxuoso. O despejo forçado de moradores locais para dar lugar à ZEE causou dor e sofrimento, mas poucos foram compensados adequadamente. Este episódio simboliza as tensões entre os esforços de desenvolvimento económico e os direitos humanos no país.
Em causa está uma tentativa de desenvolvimento económico através do Farmers Bank, embora tenham sido enfrentados desafios com a sua licença bancária e acusações de conflito de interesses envolvendo o ministro das finanças Neal Rijkenberg. Os documentos que foram divulgados revelam igualmente tensões entre instituições independentes, como a Unidade de Inteligência Financeira do Essuatíni (EFIU) e o Banco Central, e a interferência política da monarquia.
A EFIU, encarregada de combater o branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, muitas das vezes esbarra em obstáculos políticos que limitam a sua eficácia. Pressões externas influenciam a necessidade de estabelecer instituições financeiras independentes. A investigação jornalística revela que as atividades de duas figuras próximas do rei Mswati III do Essuatíni chamaram a atenção da EFIU. Uma delas é Keenin Schofield, genro do monarca, que possui antecedentes criminais por envolvimento em contrabando de diamantes e foi multado por isso. A outra é Alistair Mathias, um empresário canadiano, associado ao comércio de ouro e à indústria da construção.
O Essuatíni anteriormente conhecido como Suazilândia, passou por mudanças significativas desde 2018, incluindo a luta contra a epidemia de HIV, que já teve uma das taxas de prevalência mais altas do mundo. Embora progressos tenham sido feitos no controlo da doença, o seu impacto continua a ser profundo, deixando muitos órfãos e causando perdas significativas. Mswati III, também conhecido como Ngweyama, é reconhecido pelas suas vestimentas tradicionais e por ter múltiplas esposas. O seu governo, caracterizado pelo controlo autoritário e críticas por supostas procuras excessivas de fundos públicos, enfrenta crescente descontentamento económico e político.
O controlo estatal dos media, incluindo o único canal de televisão privado, que pertence à família real, é uma característica marcante do regime de Mswati III, monarca que, alegadamente, tem 11 mulheres e mais de 30 filhos. Os jornalistas correm o risco de serem processados se criticarem o governo, contribuindo para um ambiente de repressão e falta de liberdade de expressão. Os protestos contra o declínio económico têm vindo a intensificar-se, refletindo o desejo popular por reformas políticas e maior participação.