Até 05 de novembro

Aproxima-se a intensa e conturbada campanha eleitoral americana que conduzirá às eleições de 05 de novembro de 2024 nos Estados Unidos (EUA).

Aproxima-se a intensa e conturbada campanha eleitoral americana que conduzirá às eleições de 05 de novembro de 2024 nos Estados Unidos (EUA). A 60.ª eleição presidencial. Estas eleições serão certamente muito importantes para os americanos em particular, mas relevantes para todo o atual sistema internacional. A imprevisibilidade da ação política e diplomática de Donald Trump, o candidato republicano, é algo que ninguém duvida. A possibilidade sempre existente de vencer esta disputa com o atual Presidente Joe Biden, reforça por isso um sentimento de preocupação, em particular no espaço europeu. O inimaginável assalto ao Capitólio (símbolo da democracia americana) em 06 de janeiro de 2021, ainda perdura na memória de todos.

A ordem internacional vigente apresenta um sentido de intranquilidade latente, como há muito não se observava. As atuais guerras de elevada intensidade militar que decorrem na Ucrânia e no Médio Oriente estão a atingir uma fase determinante. As campanhas militares preparam as suas batalhas decisivas; também as guerras têm o seu fim, mesmo que os conflitos ainda possam perdurar. Os vários blocos regionais estão definidos e são reconhecidos. E os seus interesses também. As diplomacias internacionais recorrem a todas as habilidades do momento.

Em 05 de novembro muito provavelmente estas guerras terão o seu destino já definido. Com vencedores e vencidos. Como sempre o foram outras na história da humanidade. E a ordem internacional poderá ser algo diferente. Quer tudo isto isto dizer que a atual administração norte-americana do Presidente Joe Biden, nestes seis meses que faltam para as eleições, terá de lidar firmemente com os desenvolvimentos finais ou quase finais das guerras em curso. E com todas as consequências que os dramatismos destes momentos acarretam. Mesmo que esta administração tenha sempre revelado pragmatismo, e procurado evitar desfechos precipitados na cena internacional.

Ao próximo presidente de uma potência global caberá igualmente uma tarefa hercúlea, a de  procurar em conjunto restabelecer a confiança e a paz num modelo a encontrar para o “dia a seguir” às guerras. Seja ele qual for. “Vivemos na era democrática” iniciava assim Fareed Zakaria o seu livro “O Futuro da Liberdade” em finais de 2003. Provavelmente em 05 de novembro de 2024, passadas duas décadas, esta realidade não terá infelizmente o sentido então atribuído.

Se a Ucrânia, não for entretanto (em tempo) e em força devidamente reforçada com meios e capacidades militares pelos EUA e pela Europa, estaremos em 05 de novembro a refletir nas graves consequências para a Europa e para o mundo Ocidental do significado dessa ausência. A destruição ou até mesmo a tomada da cidade de Kharkiv pelas tropas russas, a segunda maior cidade da Ucrânia a concretizar-se poderá ser um revés difícil de justificar. A anexação dos territórios conquistados militarmente pela Rússia, para além da Crimeia em 2014, colocarão em causa a credibilidade da Europa em termos da sua segurança e defesa. A ausência de qualquer projeto europeu com impacto nesta área, levará a perceber que afinal a única dissuasão credível ainda existente e que resta é a nuclear. O que poderá originar em tempos próximos, certamente, que algumas potências da linha da frente europeia recoloquem esta mesma questão. Tudo o que não pensávamos ser possível na geopolítica do século XXI!

Uma vitória da lógica expansionista russa na Europa, poderá também ela contribuir para o acrescentar de populismos extremistas no espaço democrático europeu, assim como o renascer dos aliados de Moscovo, recentes e históricos. O próprio projeto político europeu poderá igualmente estar em causa, pelas fragilidades causadas pelas ações políticas internas destes apoios, junto das principais potências europeias. Na verdade, tudo isto é mau, muito mau para a democracia e para o espaço europeu a acontecer ou como se diz em gíria popular – “a ser verdade.” As eleições europeias, mais que um mero calendário político de verão, deverão preocupar os líderes ocidentais e as principais forças democráticas, para os desafios reais que a União Europeia terá de enfrentar neste próximo ciclo.

Em 05 de novembro saberemos certamente se Rafah – o último refúgio do Hamas (líderes militares e dos 4 batalhões remanescentes e dos principais complexos de túneis existentes) foi objeto do ataque decisivo das Forças de Defesa de Israel. E de que forma os objetivos iniciais de Israel foram plenamente atingidos: neutralizar o Hamas e libertar os reféns. Mas também que alternativas surgirão para a resolução dos problemas imediatos dos palestinianos da Faixa de Gaza.

Em 13 de abril o ataque em força de drones, mísseis cruzeiro e balísticos iranianos sobre Israel. Nesta sexta-feira (19 de abril) notícias ainda pouco esclarecedoras sobre explosões sentidas em Isfahan, cidade no centro do Irão, perto de uma base aérea e de infraestruturas nucleares. Durante as próximas horas, dias ou semanas, teremos mais desenvolvimentos sobre os resultados dos ataques de retaliação e contra-retaliação entre o Irão e Israel. Uma eventual escalada do conflito? Quem ganhará e perderá influência geopolítica e militar nesta região do Médio Oriente? Também aqui a segurança e defesa dos Estados e as palavras dissuasão e cooperação serão o mote importante para a paz regional. No Médio Oriente o custo pago pela inação geopolítica é sempre maior que a retaliação. E os atores da região sabem-no bem. Esta é uma terra de conflitos, onde a esperança da paz é quase um caminho ausente. Uma verdadeira estratégia alargada e compreensiva para todo o Médio Oriente precisa-se. Esta sim ficará certamente para o sucessor presidencial de 06 de outubro nos EUA. Tarefa também ela complexa e de elevado risco.

Em conclusão: poderemos dizer que tudo se proporciona para que os desenvolvimentos aqui assinalados possam recair na sua maioria ainda neste mandato do atual Presidente Joe Biden. Poderá estar aqui a diferença entre uma possível vitória e um restabelecer da confiança internacional e da segurança regional, na Europa e no Médio Oriente, ou uma derrota interna e um descalabro maior do sistema internacional no que respeita à democracia e aos valores da liberdade e respeito da ordem internacional no mundo.

Acompanharemos com toda a expetativa, até 05 de novembro.